16.2.05

Alentejoagrorural
E a cidade e os campos



1---- Comenta-se , entre quem tem alguma sensibilidade para questões sócio - económicas ,o facto da Extremadura espanhola , sendo a mesma região natural do Alentejo , com sensivelmente a mesma área , sem as vantagens do acesso ao mar e que há sete décadas era, em tudo, equiparada nós , ser hoje uma economia próspera ao contrario da nossa incrivelmente debilitada . A explicação está na sua opção pela agricultura para onde converge todo o seu esforço Desenvolve-se exponencialmente quer em termos de produção quer de produtividade do qual resulta num bem visível bem-estar Ate no rosto das pessoas transparece um certo prazer de viver , contrastando com o nossos modos inseguros e acabrunhados Essa forma de estar traduz-se em vantagens demográficas cuja população já ascende ao quíntuplo da nossa .È ,de facto, um exemplo de sucesso que , por comparação com a nossa ineficiência , nos deveria fazer corar de vergonha

2---- A Extremadura constitui-se ,.há algum tempo , numa região com autonomia administrativa que tem feito a sua grandeza .Enquanto que nós ainda discutimos se devemos ou não regionalizar a nossa região . Obtida a capacidade de intervir no seu meio, ordenou o seu espaço rural , de acordo com as necessidades locais .Nós ,Alentejo , sendo mais de metade do espaço agrícola nacional , somos representado por dez deputados num universo de duzentos e trinta .Ou seja são duzentos e vinte que não percebem os nossos problemas, não gostam de nós , não havendo forma de os convencer a cooperar connosco .no reordenamento rural , condição indispensável para o nosso desenvolvimento agro-social
A Extremadura foi palco , entre os anos trinta e sete /quarenta , de uma violentíssima e sangrenta revolução com reforma agrária associada . Obtida a paz e aproveitando as alterações fundiárias , atribuíram terras aos agricultores , povoando os campos Estabeleceu-se um plano de regadio a partir do Guadiana . Foi a solução adequada há época , potenciando sinergias ou seja uma multiplicidade de actividades destinadas á agricultura ou dela derivadas
.Contrastando connosco que tivemos uma revolução de cravos que ,embora tenha interferido a nível das grandes propriedades agrícolas , não tiramos partido dessa circunstância .Foi , pois , uma oportunidade perdida .

3---- Ao que parece o nosso mal tem sido o ter deixado debilitar excessivamente a comunidade rural residente .Com isso deixamos o campo aberto a um pequeno numero de grandes proprietários cujos propósitos são os seus interesses pessoais indiferentes ao desenvolvimento da região Para melhor se avaliar todo seu poder , ilustra-se com um facto passado entre Franco e Salazar O primeiro mostrava os planos de povoamento e irrigação da bacia do Guadiana espanhol de onde nasceu a ideia de Alqueva Entusiasmado ,Salazar convocou uma reunião com os lavradores alentejanos, em Beja , afim de lhe dar conta do seu projecto de desenvolvimento do Alentejo , obviamente a partir das terras deles .Não só obteve uma recusa peremptória de cooperação , como um enorme escarcéu em volta dos auto- proclamados sagrados direito á terra , tudo envolto em tais ameaças que levaram o velho ditador a desistir do projecto.
De fracasso em fracasso chegamos aos dias de hoje com uma Alentejo fragilizado , uma população que tem debandado e a perda irreversível da comunidade rural da década cinquenta .

4-----. ----- È por causa desta e doutras incapacidades da administração ,que situação política é absolutamente adversa a produção .Podemos até caricatura-la ,sem grande exagero ,assim:--- Uma população que abomina o mundo rural e se refugia nos povoados preferencialmente nas maiores cidades .Vive em função das receitas de empregos no estado , das reformas , da segurança social ou de actividades particulares destinadas a manutenção desses mesmos grupos sociais . Deixando os campos na posse de um reduzido numero de herdeiros ou adquirentes /especuladores , agora que o filão da PAC está a esgotar , vão procedendo á sua alienação para os desenvolvidos espanhóis ,com uma economia sólida e necessidade de se expandirem .
Desta forma , instalados nos povoados , não percebemos o que nos está acontecer nem sequer somos capazes de avaliar o quanto está em causa .
O pior será quando a torneira que viabiliza essa vida citadina começar a fechar e concluirmos que há vida para alem do ciclo restrito das cidades Depois é só constatar que do nosso alheamento resultou na ocupação do nosso espaço vital para onde temos que ir ao serviços de outrem . Nós ,os que já estivemos emigrados , sabemos como é . Os que não tiveram necessidade de ter saído , vão ficar a saber .Depois não se queixem FRANCISCO PANDEGA

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