30.9.07

AlentejoAgroRural
e o seu

DESENVOLVIMENTO

1--- Com a reformulação dos critérios da PAC (politica agrícola comum ) ,no sentido de dar especial ênfase ao desenvolvimento rural ,avizinham-se alterações na agro-ruralidade regional a muito curto prazo .Entre elas estão algumas medidas , até agora facultativas , que passam a ser de execução obrigatória por parte dos estados membros Se a isso acrescentarmos o facto do nosso governo estar apostado na revisão do uso da terra, assim como a coincidência de Capoulas Santos ter sido eleito coordenador do desenvolvimento rural (um orgulho regional e a certeza da eficiência ), estamos perante um quadro de alterações ,autênticas pedradas neste charco putrefacto que é a ruralidade alentejana.

2---Efectivamente a CE ,depois de vinte anos de generalizações e de apoios um pouco a esmo , parece ter entendido que os seus propósitos agro-rurais , não estão a ser conseguidos
a)—Daí que a subsidiação vá ter em conta a região natural e, nela , os sistemas e cultivares para os quais tenha vocação ; limite as ajudas a um teto máximo de forma a privilegiar uma certa dimensão de agricultura e tipo de agricultor ou seja volta a ideia inicial de apoiar o agricultor a título principal ;vão ser afinadas as regras da modulação que significa o pagamento de ajudas por meio de escalões regressivamente subsidiados até atingir o teto atrás referido ; também o RPU ,uma forma bizarra de subsidiar, sem que para tal haja produção , vai tornar-se mais exigente .Estas medidas , que são prática nalguns regiões , vão gerar muitas poupanças ,no orçamento da PAC ,as quais se destinam ao desenvolvimento rural
b)---Mas o que é o desenvolvimento rural ? Interrogar-se-ão os menos calhados nas lides agrárias ! È mais uma forma de estar e sentir ,nos campos , do que propriamente uma doutrina .É uma vivência , em comunidade, perfeitamente entrosada no meio cuja função é ,entre outras , :--
Produzir alimentos de qualidade , a baixo preço e sem danificar o meio ambiente ; que a actividade agrícola se processe por meio sistemas que se articulem com o meio regional e com cada exploração em particular ; que os três quartos do Alentejo de terras consideradas agro-silvo-pastoris, sejam agricultadas de forma a que se preservem os montados existentes e facilite o seu repovoamento por meio da regeneração natural ; que se permita que os agricultores ,sendo livres e directos , possam funcionar como autênticos jardineiros da paisagem construindo-a e , com isso , deliciem os que tenham alguma sensibilidade para a natureza ; que se povoe o Alentejo , tendo em conta que este é agrícola de lés a lés , por agricultores directos e residentes constituindo-se ,cada um delas , num marco de afirmação pátria ; nos campos , aonde a natureza facilita a procriação , ainda é possível a manutenção da família nuclear , alargada e ate clãnica , conjunto de circunstâncias que facilitam a natalidade da qual estamos carecidos ; que se fomente a efectivação dos usos ,costumes e tradições ,tantas vezes ligados á historia ,lendas e calendários agrícolas que, no seu conjunto, significam as nossas raízes e que constituem a razão de ser alentejano .
c)---Mas defender o ruralismo não significa isolacionismo No espaço rústico é desejável a coabitação com o urbano , complementando-se , com vantagens para ambos . Toda a Europa rural está pontilhada de zonas industriais . A Auto-Europa , a Taico , e tantas outras empresas , pelo facto de nada terem que ver com a agricultura , não deixam de ser bem vindas já que são empregadores e consumidores ; as diversas fábricas de tomate , indústrias de carne de porco , adegas , lagares, etc. que tenderão a aumentar na medida em que o desenvolvimento rural se processe , se bem que laborem produtos da agricultura , fazem o seu negócio sem atrapalhar a produção ; com um mundo rural livre e desenvolto , outras , muitas outras empresas, emergirão como cogumelos potenciando-se ,entre si , fomentando e/ou dando vazão á produção .
Outras , porem , usam o espaço rústico alentejano para dar satisfação a ganância e especulação fundiária , indiferentes a devastação que causam .Desde aquela empresa que tem quinze mil hectares de terras e que , de tempos a tempos , anuncia grandes empreendimentos turísticos , mas que não passa disso mesmo ,mais parecendo que condiciona o inicio da actividade , á expulsão de uns “agricultores de Sá Carneiro” que estão na periferia ; ou aqueloutra com mil hectares , junto a Évora, que mais parece interessado em esperar pelo TGV do executar o respectivo projecto .Por outro lado abundam os donos da terra ,megalómanos , especuladores imobiliários , abstencionismos e equiparados , que constituem autênticos insultos a arte de ser agricultor e estar no campo
A sua indesejável presença só se mantêm por ausência de regras que penalizem quem não lhe der um uso consentâneo com a sua função.

3--- De uma análise da vida agrícola alentejana , á luz dos novos conceitos de ruralismo , resulta claro que vamos no caminho errado O afastamento da comunidade rural do acesso ao espaço rústico , dando lugar a alienígenas e explorações monoculturais do tipo de colonização americana , está a conduzir-nos para um atoleiro sem recuo .Podem , ate ,estes novos colonos ,ser melhores dos que os ineptos que substituem , mas o seu enquadramento jamais se integra nos conceitos rurícolas hodiernos Podem até haver casos em que aumente a produção mas nunca atingirão os níveis obtidos se essas mesmas áreas monoculturais se dispersassem , integrassem e se compatibilizassem com o tipo /base regional que é a agro-silvo (montados )-pastorícia .
È com a comunidade rural autóctone que o novo conceito de desenvolvimento rural se persegue É ,com base , nessa diversidade que melhor se organiza o trabalho e rentabiliza o equipamento ;se faz o aproveitamento e articulação do variado e complexo mosaico de solos (,fertilidade , inclinação e humidade ) e de exposições ( soalheira ou avisseira ) ; se acautelam as questões fitossanitárias resultantes da concentração ; se evitam questiúnculas político-sociais emergente do estatuto da terra .
Não é ,pois , solução , a manutenção do conceito desenvolvimento rural assente no sistema latifúndio / colonial em uso no Alentejo .Assim se compreende que esta velha e avisada Europa ,defenda o ruralismo cujas funcionalidades atrás se enumeraram .É nele ,e só nele , que reside a solução .Já que é aí que se alberga a salutar variabilidade de valências , se geram os desejáveis equilíbrios agro-sócio-culturais e a indispensável ordem, paz e harmonia regional .Francisco Pândega(agricultor) //e-mail-fjnpandega@hotmail.com// blog-alentejoagrorural.blogspot.com.