28.12.06

AlentejoAgroRural
Bom Ano Novo
É costume, quando finda um ano e se inicia outro, fazer-se uma análise retrospectiva das questões mais importantes e, numa óptica prospectiva, aventarem-se soluções. Nessa conformidade elegi o emprego / segurança económica, mais concretamente o emprego por conta própria, como o tema de fundo mais importante nas actuais circunstâncias. Fala-vos quem foi, durante catorze anos, funcionário publico . Mas que o chamamento à liberdade falou mais alto sem que, com isso, deixasse de continuar a prestar serviço à colectividade E hoje tenho legitimidade para afirmar que “há mais vida para alem do emprego” por mais direitos que nele se adquiram.

FLEXI-EMPREGO/SEGURANÇA são dois termos que estão a fazer a entrada no nosso léxico linguístico. Mas o facto de se fazerem anteceder do prefixo flexi altera-lhe completamente o sentido. Este novo conceito indicia que a manutenção de um emprego, por conta de outrem, só se manterá enquanto interessar a ambas as partes. Cessando logo que tal deixe de se verificar. Disto resultará aumento de produtividade e eficiência; rotatividade e refrescamento laboral; perda do receio de abrir postos de trabalho; ganhar coragem para se lançar, como alternativa, na constituição do seu próprio posto de trabalho; e de, por fim, deixar de haver lugar para os que “ nada mais prejudica quem trabalha do que a presença dos que nada fazem “ já que estes serão automaticamente excluídos.
As mudanças de emprego tornar-se-ão uma constante da vida com a vantagem de dilatar os horizontes do conhecimento, da auto-formação e satisfação profissional, enfim, de dar a nós mesmos a oportunidade de fazermos, nós próprios, as nossas escolhas e não o sermos uma espécie de marionetas accionadas por cordelinhos desconhecidos.
A poupança e aforro serão um desígnio da vida, não só para fazer face aos achaques, que vão surgindo, como para aproveitar a oportunidade de dar inicio ao próprio emprego; nós próprios deliberaremos qual o tipo de segurança económica que nos convêm; aumentará a apetência pela constituição da família, e esta mais numerosa, afim de, não só pagar a divida contraída para com os progenitores, como assegurar uma velhice apoiada, digna, no local afectivo, e uma morte na certeza de ter merecido a pena viver.

UMA MUDANÇA DE ATITUDE. Dir-se-á que é muito mais cómodo haver uma entidade empregadora que pague, ao fim do mês, o salário, seja qual for o desempenho; e, ao fim de alguns anos, ainda em boa forma física, obter-se a reforma e ir-se trabalhar para outro lado. É bom enquanto houver quem pague, e isso esta a chegar ao fim. E esse fim já se começa a fazer-se sentir com a exaustão dos contribuintes em suportar tais encargos mais a mais obtendo, em troca, uma compensação muito aquém da possível. O nosso modelo laboral chegou ao fim tendo batido no fundo, em termos de descrédito agora que as classes mais privilegiadas se tornaram as mais contestatárias.
A globalização traz-nos diariamente produtos, pela porta dentro, das mais estranhas origens com as mais desencontradas regras laborais, que são comercializadas por alguém que, (salvo o exagero) espreita 24 horas por dia, detrás de uma porta a oportunidade de comerciar. O efeito sobre os produtos resultantes das empresas de mão-de-obra intensiva são demolidores. A deslocalização, paragem ou falência , em tais condições ,são uma inevitabilidade.
Os país não aguenta mais manter uma boa parte dos seus filhos, certamente os melhores de entre nós, a apodrecer em empregos que nem sempre se justificam ou onde a produtividade é muito baixa. Assim retirados da vida útil, triturados por uma gigantesca maquina viciada , deixam de ter a possibilidade de mostrarem o que valem deixando de ser úteis a si e aos outros.
É nessa perspectiva que elegi, como prioridade nacional /regional, o auto-emprego e a auto-segurança económica.

O ARADO/TERRA simbolizam os instrumentos de recuperação. O nosso país, devido à sua improdutividade, vive sob grande ameaça. Agora clara e efectiva aonde mais dói: -- o nosso espaço rural ancestral. Reformar ,impõe-se-nos , começando precisamente por ai que é o que está mais claramente ao nosso alcance dado haver espaço excelente para o exercício da actividade agrícola e , consequentemente , para uma multiplicidade de actividades a ela destinadas ou dela derivadas .
Dizia um imperador austríaco que as guerras, nas quais se incluíam as económicas, se ganham com soldados que tenham algo a defender. Nós dizemos “ se queres um bom soldado vai busca-lo ao arado”. Afinal tudo isto se resume em ter as raízes na terra. Homens do arado, na verdadeira acepção da palavra, praticamente não existem . Porque incómodos e potencialmente perigosos, foram eliminados, para sossego dos sequestradores do solo alentejano, neste ultimo meio século de desvario pseudo-empresarial agrícola. Os poucos que restam, vencidos, desorganizados e acabrunhados, dificilmente se disponibilizam a participar numa altitude defensiva. A justificação, para tal recusa, deriva do facto do espaço rural envolvente das aldeias, se bem que seja aí que guardam a memória comum, ser pertença de não se saber quem, de onde são permanentemente enxotados como se fossem leprosos. È a tal história do arado a funcionar ao contrário E rematam: - quaisquer outros que venham não podem ser tão predadores como estes.
Resta a numerosa classe de empregados por conta de outrem, (no estado, autarquias, empresas publicas e outras), a quem se pede que cooperem. Não só a bem do país, ou da comunidade rural alentejana, mas em sua própria defesa já que, por este andar, a sua vez , de serem questionados os seus direitos adquiridos , inexoravelmente acabará por chegar. E quem pense que, pelo facto dos novos colonos estarem só entretidos na agricultura , sem considerarem o resto, andam mal avisados Estamos a falar de agricultura, a fonte do dinheiro alentejano, com o qual se pagam os direitos e os serviços que as pessoas prestam. E esse deixa de estar em nosso poder. Irá ser controlado a partir de outra torneira .
Espero que as coisas não cheguem até aí e que, daqui a um ano, ao voltarmos a esta tribuna, já as actuais nuvens, tenebrosas e carregadas que ensombram o nosso horizonte, se tenham dissipado. Bom ano novo meus estimados leitores. Francisco Pândega (agricultor) ///e-mail – – fjnpandega@hotmail.com ///bloco – AlentejoAgroRural.blogspot. com

10.12.06

AlentejoAgroRural

E O ADN REGIONAL

HÁ DUAS FORMAS AGRICULTAR :-- uma intensiva geralmente com o recurso ao uso de factores de produção tecnológicos exógenos ; e outra extensiva ou tradicional por meio de animais e plantas rústico/regionais que se desenvolvem lentamente e um pouco ao sabor da natureza
-- Com a primeira, visa-se forçar a natureza a produzir determinadas plantas ou animais mesmo que contra o calendário natural, usando para tal modificações genéticas, fertilizantes, pesticidas e medicamentos, alimentos, com os quais se conseguem maiores produções, mas mais caras, descaracterizadas e de pior qualidade. Os resultados são, por vezes, difíceis de prever e de controlar Foi devido a isso que surgiu a BSE nos de bovinos, dado que foi incorporado, nas rações , carne de outros bovinos; horto-frutícolas que são pulverizadas por insecticidas sistémicos, muito venenosos, sem que tivesse sido guardado o necessário intervalo de segurança ou seja , sem que, antes, a planta os tivesse enviado para o solo ; carne de porco e frango que tresandam a antibióticos do que resulta que, quando os consumidores têm uma infecção e necessitam de ser tratadas por estes fármacos, eles não actuem Só os grandes avanços científicos da medicina têm impedido as calamidades. Mas que, hoje, há grandes perigos, pela via alimentar, lá isso há.
-- Com o outro ,ou seja a agricultura tradicional ou extensiva, agora também chamada biológica, recorre-se, em vez das modificações genéticas, cruzamento ou hibridações, ao apuramento genético das raças de animais e espécies de plantas, por meio de selecções aonde se potenciam os factores favoráveis sem a consequente descaracterização da planta ou animal ; os fertilizantes, em vez de produtos químicos, são substituídos por uma boa gestão dos pousios e rotação de culturas; a necessidade de pesticidas fica reduzida com o cultivo da coisa certa, no local acertado, na devida época e dispenso-lhe os necessários granjeios .
Se bem que haja uma menor produção e um desenvolvimento mais lento, eles são compensados por menores custos e aumento de qualidade, devido à rusticidade que lhes é conferida pela liberdade, nos amimais , ou pela adequação ao meio e época, nas plantas.

O ADN ALENTEJANO, se fosse possível estabelecer um código genético regional, defini-lo-ia assim: -- Uma região natural imensa e riquíssima, com características inigualáveis. Pena é que, por razão históricas, não tenhamos ainda superado os constrangimentos, aqui presentes, de forma que essa dimensão e essa riqueza potencial, não se tivessem traduzido em acolhimento de mais população, nem em maior bem-estar social. Abordo-o, muito sucintamente, nas características que me parecem ser as mais relevantes, visando justificar a viabilidade da agricultura tradicional/biológica, assim com a definição da dimensão da propriedade agrícola à escala do homem.
--- È de facto uma imensa planície, totalmente arável, em que o fundo de fertilidade regride com o cultivo intensivo e exagerado e se regenera se deixado algum tempo de pousio. Mas tem um limite. Se estiver demasiado tempo sem que os solos sejam mobilizados inicia-se um processo de reversão em resultado da compactação, alterações físico -químicas e perda de matéria orgânica que é arrastada, pela erosão, sem que, por meio das mobilizações, se aumente a camada arável. Entra no estádio que se designa de inculto produtivo. Desaparece a vegetação herbácea e, a seguir, a arbustiva e a arbórea começam a rarear, enfraquecidas , devido à presença de parasitas vegetais sendo o mais comum os musgos. O conhecer este comportamento é indispensável já que é a partir dele que se organize o mapa de culturas e respectivo calendário.
-– Outro factor com implicações na estratégia agrícola reside nas suas características pedológicas. È formado por um complexo de cinco tipos ou classes de solos que se distribuem em parcelas de dimensão e configuração muito variada, de forma que uma exploração de media dimensão pode conter dois três ou mais tipos de solo. Esta circunstancia condiciona a estratégia agrícola, inviabiliza a monocultura extensiva ,aconselhando uma exploração da terra ao nível da parcela a qual, por sua vez, implica que o agricultor seja participativo, assíduo e conhecedor do meio aonde exerce a actividade.

A “ HORA DA VERDADE”, esse conceito que se aplica quando escasseiam as hipóteses de tergiversar, também já chegou, finalmente, a agricultura alentejana. As definições atrás explanadas , que para a região funcionam como o ADN nos restantes corpos, são únicas exclusivas, da região Alentejo, e sem semelhança em mais parte alguma . Implicam que as soluções agrícolas sejam exclusivamente nossas certos que as provindas de outras regiões não têm aqui aplicação pratica
Estes conceitos determinam soluções enquadráveis no que se designa por marcas regionais Servindo os subsídios para agilizar o seu desenvolvimento mas jamais gerar habituação e dependência .
Um novo, e provavelmente o ultimo, QREN (ex-quadro comunitário de apoio), está em discussão. Sendo importante que não se repitam os erros dos anteriores. Não se podem subsidiar culturas ou animais exóticos; nem promover sistemas estranhos; nem tratar o montado com uma vulgar floresta; nem apoiar coisa alguma se desenquadre deste código genético regional.
É que os custos da inadequação ao meio são enormes, os efeitos fungíveis e o tempo perdido irrecuperável.
Francisco Pândega (agricultor) /// fjnpandega@hotmail.com./// alentejoagrorural.blogspot.com.

2.12.06

AlentejoAgroRural

NÓS SOMOS CAPAZES

SERÁ QUE NÓS , por incapacidade de prover a nossa alimentação ,se bem que com condições excelentes para o efeito ,estamos condenados a importar 80% dos alimentos que consumimos muitos dos quais , para nossa vergonha , provenientes da , aqui ao lado , homóloga Extremadura ? Parece que sim .Mas não se culpabilize nem o meio nem o homem rural alentejanos , antes sim forças exógenas que sequestram o normal uso da terra Não havendo razões derivadas do meio nem do homem, só pode ser resultante de politicas erradas ou falta de aplicação de instrumentos correctores Um ,entre os diversos ,exemplo ilustrativo :--.Durante a ultima grande guerra , logo após a guerra civil espanhola , Franco decidiu fazer uma grande regadio na Extremadura .Sendo o Guadiana um rio internacional , convidou Salazar, e este aceitou ,para o discutir a ideia .Salazar ,entusiasmado reuniu em Beja ,com os donos da terra mas, ao contrario do que seria suposto ,foi obrigado a recuar . O mesmo em Espanha , á cabeça do qual encontrava-se um poderoso dignitário da nobreza Franco chamou –o e , (conta-se ) , peremptório ,intimou-o :--.Ou cedes a terra ou eu confisco-ta ; depois insurges-te contra mim e eu prendo-te ; e depois se verá ( ainda estavam frescas , na memoria do espanhóis , a pratica de fuzilamentos) . A persuasão ,com tais argumentos, resultou numa total cooperação .Em tão boa hora se estabeleceu o regadio que deu origem a que esta região , se especializasse na hortofruticultura motor de arranque para as restantes actividades económicas . Estamos a falar no pós-grande guerra, numa Europa faminta , quando ainda a globalização era uma miragem .

ENQUANTO ISSO DELAPIDAMOS o precioso capital humano então residente no mundo rural alentejano .Regredíamos miseravelmente para produções agrícolas perfeitamente desprezíveis ; a população passou de um para meio milhão de habitantes e mesmo essa concentrou-se as cidades da região , já que nos campos se tornou impossível conciliar o orgulho e identidade desta gente , com a indignidade da uma submissão ao poder fundiário .Desenraizados e ressabiados sabendo-se vitimas de uma tremenda injustiça ,presas fáceis de aliciamentos que nada tem que ver com uma postura responsável , alinharam nas reivindicações extremistas
.E hei-los activos e muito atrevidos ,de braço no ar, incorporando as contestações do professores esquecendo-se que uma sociedade debilitada lhes paga para ensinarem e não para se recusarem a serem avaliados ; dos militares que sem perceberem que são gente igual aos mais , não querem perder regalias nem o estatuto social , esquecendo que também eles têm a sua cota parte de responsabilidade na crise que o actual governo quer conter ; nas dos funcionários ( não todos felizmente )aterrorizados com a hipótese de virem para o pais real , injusto , bloqueado e cheio de armadilhas , que alguns deles , em lugares chave , cooperam para que fosse o que é .
Erramos assistindo passivamente a este drama social que marcou indelevelmente as gentes rurais daquela época .E hoje ,neste vazio humano , aonde se pratica uma agricultura , sem alma e sem produção , coexistem lado a lado , a pobreza económica e de espírito , a par com uma imensa feira de vaidades e exibicionismo bem expresso em milhões a troco de terra ; no alardear empreendedorismo agrícola bacoco , em empresarialização fundiária que nada tem que ver com agricultura mas antes sim com estatuto de posse , diversão e recreio , e especulação fundiária .Conseguem, porem ,,com tais baboseiras , inebriar os crédulos sem perceber que vem na linha das soluções salvadoras ,que redundaram noutros tantos desastres, a que nos habituaram. Com uma agravante :-- agora incluso o apossamento do nosso chão sagrado o que não deixa de construir algum perigo e muitas interrogações .E então nós ,comunidade rural autóctone não somos nada nem ninguém ‘?
E porque não vão para Africa ou para o resto da Europa e porquê esta fixação com o Alentejo ? Porque em Africa o mínimo que lhes pode acontecer são as sabotagens que inviabilizam a exploração, ; na restante Europa não porque pura e simplesmente esses povos sabem que liberdade e espaço nacional são uma e a mesma coisa e tem pago bem caro para manter .,portanto tudo bem, em todo o lado, menos por ai ; entre nós porque se aperceberam que os órgãos do governo têm pouca margem de manobra para a preservação do espaço nacional é a população que compete a defesa .Mas sendo 80% do território pertença de quem nunca se sabe de que lado está,(e a historia tem-nos demonstrado ), e a restante população ,que pouco ou nada tem a defender para alem dos direitos sobre o erário publico ou sobre a segurança social , não entende o que está em causa .Ao estado , que nos destruiu como entidade interventora , compete restabelecer a dignidade que nos foi retirada.
EVIDENTEMENTE QUE DADO a situação de absoluta desordem e injustiça fundiária , têm que ser tomadas medidas de contenção ,por uma entidade reguladora formada pelas gentes residentes e que tenham alguma sensibilidade para problema .E dar um claro aviso :---“O uso da terra ( já passou a época de se falar de posse ) tem que se processar de acordo com os superiores desígnios regionais .Aqueles que não sentirem em condições de neles se enquadrarem vão ter que mudar de vida já que vão ser objecto de medidas fiscais . Isto porque ,já que a sua detenção ,sem o devido uso ,pressupõe que ela representa um luxo ou um factor especulativo ,como tal tem que ser taxado “ .Nestas condições acontece o indispensável desbloqueamento da terra e, com isso , a oportunidade dos aldeãos transmitirem o seu legado/saber , a jovens licenciados ainda imberbes , que anualmente deixam as universidades .É que ,face a tantos falhanços agro-rurais, ficamos com a certeza de a solução passa por nós ,Nós somos capazes pelo simples facto de termos o quer e saber de experiência vivida . Se duvidam ponham-nos à prova .
Francisco Pândega (agricultor ) /// fjnpandega@hotmail.com /// alentejoagrorural .blogspot.com ///