20.8.09

AlentejoAgroRural
UMA CRISE ESTRUTURAL

1---Já fomos auto-suficientes em cereais .Nos anos transactos somente obtivemos 50% das nossas necessidades .; no presente só produzimos 20% ; para o próximo ainda vai ser pior dado que a área a semear vai ser menor .Somos abastecidos de cereais , leite e carne , etc. , por outros países designadamente a Espanha a França e países de Leste .Países esses que preservam a todo o custo os respectivos mundos rurais privilegiando-os em relação as restantes actividades económicas ;países que sabem o que é a fome ,logo defendem a todo o custo a auto-suficiência alimentar ; países que sabem que os grandes centros urbanos podem ser foco de contestações que só o efeito tampão dos campos pode esbater
E quando se tem noticia que já há nações que renacionalizam o seu comercio , isso significa que há subsidiação para as exportações ,contra as regras definidas pela OMC e os compromissos da Ronda de Doha ..Logo há distorção das regras do mercado que penalizam os obedientes cumpridores É muito cómodo ter os mercados abastecidos de produtos agrícolas , abundantes e baratos , importados / subsidiados .O problema é que destrói a nossa agricultura .O problema é que , quando os nossos fornecedores deixam de o ser ,por diversas razões inclusivamente por escassez de fundos ,,nós estamos num hiato de produção ,cuja retoma vai ser penosa


2--- Qual a razão desta falta de produção e produtividade numa região ubérrima e imensa como é o Alentejo ? É simples e importa que tenhamos a coragem de apontar :--- Porque mais de ¾ dos 30.000 km2 de superfície agrícola útil , estão apossado por 2.500 donos ,com uma media de 10Km2 (1000ha ) contrastando com os 12,5ha médios dos 40.000 pequenos agricultores que definham nos restantes 5.000Km2 .È aqui que está o cerne da questão O direito á propriedade , no Alentejo , mantêm-se no estilo da idade média . Evoca-se o sagrado direitos á terra , levando esse direito para o campo da afectividade , mesmo que tenham no bolso um contrato de venda a algum espanhol .Auto-proclamam-se empresários tal como os industriais ou comerciantes mas sem que nos casos de absentismo sejam punidos , já que o mercado, contrariamente ao que acontece com aqueles , não é suficiente para os excluir .
Será que se pode pactuar com o facto de mais de metade do Alentejo ser pertença de donos que cuja classificação em termos agrícola é zero , enquanto fenecem as gentes da aldeias em permanente inacção e perda de qualidade ; ou os jovens universitários que procuram sobreviver noutras actividades já que lhes esta interdito o acesso a terra ? Vivemos num constante enaltecer de investidores / salvadores , que sucessivamente se vão transformando em fracasso dado desconhecerem a especificidade rural , apanágio das gerações de agricultores autóctones
Tal postura , só possível depois de terem anulado e feito perder a identidade das gentes rurais , está a arruinar-nos completamente

3---Evidentemente que tal displicência agrária ,com duzentos anos de duração (dos quais os últimos cinquenta foram devastadores ) acaba por se pagar bem cara . Ou melhor :--já estamos a paga-la dada actual dependência alimentar ; a desvalorização profissional das gentes do campos por falta de exercício ; a desmesurada diáspora espanhola , cujas consequências não se estão a acautelar .São algumas das consequências
Só alterando o actual quadro das relações do homem /terra se podem corrigir estas ineficiências ,
Como? Interrogar-se-ão os menos calhados na matéria mas que têm alguma sensibilidade agro-rural !
Para começar convidar os que tem terra para alem dos razoável a dar-lhe uma aproveitamento mínimo e a terem uma postura consentânea com os superiores desígnios regionais .Se não acatarem tal determinação , terão que inexoravelmente se fazer substituir O sagrado direito á terra pressupõe um não menos sagrado dever de lhe dar um uso que se compagine com os superiores interesses regionais

4--- As épocas de crise , como a actual , são propicias para as decisões difíceis .A França confiscou as terras da nobreza e nelas instalou o numeroso exercito desmobilizado das frentes de batalha Napoleónicas ; a restante Europa reorganizou os respectivos mundos rurais após as devastações das duas guerras mundiais ; a Espanha , designadamente a Extremadura , o protótipo do Alentejo , a seguir a guerra civil
Vem a propósito ,contar um episodio relacionado com o regadio do Guadiana .Durante a 2ª guerra mundial e nos rescaldo da guerra Civil, a Espanha estava de rastos Daí que Franco tenha empreendido os grandes regadios de Badajoz e Merida . Isso implicava o confisco das terras aos nobres alguns dos quais resistiam e vociferavam contra aquilo que consideravam um esbulho O mesmo que no Alentejo .Com uma diferença :--- .Franco chamou os mais recalcitrantes propondo-lhe “Eu vou confiscar as vossas terras .Como tal ou cedem ordeiramente e calam-se ou confisco-lhas e prendo-vos” Evidentemente que o regadio, desde então e até hoje , foi e continua a ser uma verdade a qual ã Extemadura deve muito do seu desenvolvimento
Francisco Pândega (agricultor )// fjnpandega@hotmail.com/// alentejoagrorural.blogspot.com