28.1.07

AlentejoAgroRural
e as
LIÇÕES DA HISTÓRIA

1---Mais parece uma premonição que, com uma periodicidade bissecular, submete o nosso pais a duras provas de nacionalidade . São ciclos que invariavelmente se sucedem pela seguinte ordem :-- a um período de euforia nacional e abundância de recursos ,de origem externa e em proveito de gente bem colocada , segue-se outro de apatia e perda de vitalidade resultante de um certo cansaço e decrepitude que se instala entre nós .Por fim a invasão espanhola e consequente anexação do nosso território ao deles
De há seiscentos anos a esta parte ,estes ciclos sucederam-se três vezes , o ultimo dos quais culminou com a invasão franco /espanhola. Temos conseguido recuperar .Umas vezes com rasgos de coragem e valentia outras por sorte Sendo assim , e logo agora que coincide com mais um bicentenário , importa que nos ponhamos de atalaia não vá a historia repetir-se .

2--- EM CICLOS ,foi assim em 1385 ,1580 , 1800 e hoje tudo indica que se repita Com métodos mais sofisticados ; com outros enquadramentos , com roupagens revestidas de alguma candura , sem alterações nos propósitos.
----- Em 1385 deu-se a batalha de Aljubarrota . Antecedida por um período de grande fervor patriótico na libertação do território do domínio árabe ; seguiu-se um extraordinário desenvolvimento económico e povoamento agro-rural protagonizado por D Diniz . Depois o declínio derivado de um estranho conúbio com Castela do qual resultou no nosso enfraquecimento Uma medida , tomada por D. Fernando (ao que parece a única coisa acertada que fez na vida ) foi a lei das Sesmarias .Por meio dela procedeu ao povoamento da fronteira (de Mértola a vila Velha de Ródão ) ainda hoje bem visível ,e com isso puniu e dissuadiu as constantes surtidas sobre o nosso território. Mas mais:-- tornou afoitos os alentejanos que ,” avezados” a bater nos castelhanos foram decisivos em Aljubarrota .
----Em 1580 capitulamos , sem luta , às mãos de Espanha . Depois do período mais glorioso da nossa história ,(os descobrimentos ) , seguiu-se o do dinheiro fácil resultante das especiarias ; a luxúria e o amolecimento conduziram-nos à decadência e à perda de independência só recuperada (sessenta anos depois ) graças a ajuda da Catalunha .Triste , muito triste ,esta pagina da nossa história .
---- Em 1800 ,depois de um período áureo resultante do ouro e diamantes do Brasil , voltamos e entrar em crise de soberania . A Espanha e a França celebram tratados (Fontainebleau e Basileia) , visando o ataque e partilha ,entre si , do nosso pais A governação pôs-se a jeito , inebriada pelos conceitos de igualdade e fraternidade , afrancesou-se e espanholou-se .Foi um período de grande desonra nacional que importa não repetir . Sem governação , estávamos submetidos a livre arbítrio e a voracidade dos conquistadores franco /espanhóis .Só o frio da Rússia , dizimando as tropas de Napoleão , veio em nosso socorro ,não sem que antes se tivesse devastado a nossa sociedade, surripiado os nossos valores , perdido Olivença e experimentado alguma dificuldade em nos livrarmos do aliado inglês que veio em nossos socorro e, soube-se depois , não só .
---- Hoje , vinte anos depois da integração na CE e beneficiários de abundantes fundos da PAC , seria suposto que a nossa economia agrária , assim como o povoamento do território , tivessem acontecido e alterado o panorama socio-económico regional e com isso solidificado a nossa auto estima e o orgulho nacional /regional A nossa inépcia agrícola , que vai ao cúmulo de não distinguir as diferenças de critérios da actividade agro-rural das dos restantes sectores, a tal não conduziu .O não ser capaz de entender que a terra tem uma função especifica que ultrapassa as simples regras do mercado, está a conduzir-nos para os “braços amigos dos espanhóis” .E logo agora que é o fatídico bicentenário .

3----TEMOS EM MÃOS um gravíssimo problema de natureza económica , social e de soberania cujos contornos se podem enquadrar neste cenário:--- Uma falta de produção agrícola que nos angustia e torna dependentes ; um mundo rural que não contribui para a estabilidade social já que não absorve os desmandos urbanos antes sim é subsidiaria deles ; uma baixa auto-estima nacional ; o não entender que a intervenção do estado, ao pretender defender o sector agro-regional ,passa mais por impedir que seja coarctado na sua função , do que tentar conduzi-lo na sua acção ; e uma clara ameaça ,aonde mais dói , que e ao nosso chão sagrado Evidentemente que estas terras , tal como aconteceu com Olivença , não mudam de lugar .Muda sim o azimute da sua função o que nas actuais circunstancias é praticamente a mesma coisa Tanta debilidade criou-nos , em relação á Espanha , uma situação atípica de sentimentos de inferioridade , assaz perigosa , que se pode sintetizar assim :--
--- A integração comunitária implica o livre direito de estabelecimento e tem programas, de apoio , transfronteiriços Pretende-se certamente tornar melhores as relações de uma mesma região natural divididas em duas por fronteiras politicas .Não proíbe nem incentiva a aquisição de uma faixa de terra , na nação contigua para anexar a outra , pelo simples facto disso ser completamente impossível de acontecer, seja onde for , muito menos na Europa comunitária. Contudo , os nossos vizinhos aproveitando-se da circunstancia de estarmos um pouco em baixo , fazem-no ,sem pejo nem decoro e sem pensar que só seria aceitável se houvesse um mínimo de reciprocidade (estou a falar de terra )
--- A Espanha é formada por regiões e estados cada qual com a sua própria autonomia . Diversas dessas regiões , que nos envolvem , têm o seu natural prolongamento para o nosso território .Está nesse caso a Extremadura que é a continuação do Alentejo para o interior da península Ora ,se o que se está a passar no Alentejo , que se estima ter um oitavo do seu espaço adquirido por eles , acontecer na restante fronteira, Portugal acaba por, pura e simplesmente , desaparecer por incorporação nas regiões espanholas .Tudo muito legal ,negócios de particular para particular ; tudo sob a cândida complacência de interregs comunitários . Enquanto que nós, indignos representantes das gerações anteriores, assistimos , impávidos e serenos ,ao esbulhar da nossa soberania , tais moicanos, presos a direitos que nos desfavorecem sem coragem para proceder a reformas quanto mais a roturas .

4--- SOLUÇÃO –Com uma sondagem que dá 27% dos portugueses serem favoráveis à integração na Espanha ; com os donos das terras , receando terem que prestar contas à comunidade rural ,do uso que lhes estão a dar , a aprestarem-se a transferi-la rapidamente ; uma comunidade rural que pouco ou nada tem a defender a não ser as prestações mensais da segurança social ; e tendo em conta a pouca margem de manobra que o governo tem nesta matéria ; que fazer ? Será que a solução passa pelos nossos emigrantes que mourejam por esses mundo a carpir saudades do seu querido Portugal mas que ao regressarem as suas terras não aceitem continuar a trabalhar ,nelas , novamente ao serviço de estrangeiros ? Há aqui uma questão de raízes históricas que estão a ser ultrapassadas Não creio que seja pacifico, mas há que ter esperança .Está tudo em começo sendo susceptível de reversão .Até pode ser que acordemos a tempo e a premonição bicentenária , que constitui um enguiço da nossa história , se quebre .
Francisco Pândega(agricultor ) /// e-mail -- fjnpandega@hotmail.com ; ///blog -- alentejoagrorural.blogspot.com///

10.1.07

AlentejoAgroRural

UM ESTILO DE VIDA
Estamos a pagar um preço excessivamente elevado pelo facto de não percebermos que o mundo rural se rege por parâmetros diferentes dos restantes sectores socio-económicos Com uma estranha sedução pela administração centralizada, no topo da qual se tomam medidas nem sempre coincidentes com a verdade agro-regional , estamos a fragilizar de forma irreversível o mundo rural alentejano Daí que , não obstante as colossais potencialidades agro-económicos regionais , o Alentejo não esteja a contribuir , como poderia e deveria ,para a superação da crise económica ,antes sim , está a ser motivo de vergonha nacional .Daí que qualquer solução com vista a reorganizar o mundo rural alentejano tenha que ser de âmbito regional e antecedida de um debate ,a esse mesmo nível , afim de definir quem representa quem.
Nós não podemos persistir no erro de dar um tratamento igual a coisas diferentes A vida de uma região eminentemente agrícola ( o nosso caso) comporta dois estilos : --- Um de índole urbana -- ,o comercio, industria e serviços ( que inclui o promissor sector do turismo ),-- com as suas regras , dimensão e âmbito transnacional ; e outro a agro-silvo-pastorícia , também com as suas regras o a sua dimensão mas de âmbito condicionado pela realidade edafo-climática regional .Senão vejamos

O MERCADO é o factor por excelência para seleccionar os empresários :-- aos bons abre-lhe o caminho do sucesso e aos maus o da substituição Esta é a única forma de um desenvolvimento sustentado .
. Acontece que , sendo valido para os restantes sectores , só parcialmente o é para a agricultura Mais de metade dos nossos campos estão apossados por quem não sabe ou não quer dar-lhe o devido uso sem que a força do mercado os obrigue á respectiva substituição tal como nos outros sectores Fazem uma exploração longínqua e incompetente , por interpostas pessoas , para inglês ver , acobertar uma despudorada rapina dos recursos naturais , a captura de subsídios ,manter um elevado estatuto social e punir os inconformados alentejanos . Impedem , com isso , o normal uso da terra e fragilizam a região que , incapaz de reagir por si própria , esta ser transferida para a posse de estrangeiros
As gentes , sem meios e dependente da segurança social desespera perante a incompreensão do poder que pelo menos até agora tem sido um joguete nas mãos dos poderosos
. Falta, entre nós , um instrumento , complementar do mercado , que consagre simplesmente isto :--- “” que ninguém está mandatado para dar á terra um uso que não se compagine com os superiores desígnios regionais “” . Com ele e a ser usado por entidades que se pautem por princípios honradez regional , solucionar-se-iam , ainda a tempo , os gravíssimos problemas que nos minam.

O TRABALHO ----O conceito de trabalhador rural por conta de outrem é, claramente ,diferente do urbano . Nas cidades tem por principio o cumprimento de horários sob apertada vigilância e em delegar para terceiros a protecção na doença , no desemprego e velhice.
Nos campos , o protótipo do trabalhador rural alentejano ,(não o que trabalhava em grandes ranchos para alguém desconhecido cujas relações eram normalmente de desprezo mutuo assumido individualmente e em grupo). tipo em pequenos grupos
ao serviço de um agricultor , tinha por base um virtual contrato de defesa de interesses mútuos
.O patrão sabia fazer-se respeitar , pela correcção de comportamento , humanização do trato e pelo o exemplo , sendo frequente iniciar os trabalhos dizendo :-- “” façam assim como eu estou a fazer “. sem deixar duvidas quanto a sua exequibilidade
Mas havia outra questão muito importante . Estava sempre subjacente , em nós , a esperança de um dia vir a ser agricultor por conta própria Para o efeito preparávamo-nos intensamente :--- juntava-se dinheiro poupando e trabalhando até ao limite do humano , aperfeiçoava-nos permanentemente e com isso ascendia-se socialmente , facilitando o matrimónio preferencialmente com uma rapariga com bens .O conceito do trabalho próprio assim o impunha Uma experiência milenar a ditar as regras .
Com a transição da lavoura de tracção animal para a mecânica e a extinção dos seareiros , ( o auto-emprego possível á época ) esse sonho longamente acalentado feneceu e com ele a esperança Sem essa perspectiva , trabalhar na sua terra para alguém detestável , tido por usurpador , tornou-se num suplicio Daí o anátema de sermos maus trabalhadores na própria região .

A FAMILIA . Criamos uma sociedade de tal forma defeituosa que deixou de cumprir o dever básico de constituir família e ter filhos .Com isso deixamos envelhecer o nosso tecido social ao ponto de , só por si , se tornar incapaz de se auto-rejuvenescer. Ao que parece a solução passa por entregar essa tarefa aos imigrantes .De facto , quando se chega a isso , torna-se claro que estamos em vias de extinção.
Mas se bem que ter filhos nas urbes se torna num sacrifício o mesmo não acontece no rústico . Numa sociedade rural estabilizada como foi e ainda pode vir a ser a nossa , constituir família e procriar são questões quotidianas que fazem parte da forma de ser e estar no nosso mundo rural . Não estamos a falar de programas , que vão neste ou naquele sentido , afim de aumentar a natalidade .Estamos a falar de afastar os constrangimentos , aqui existentes , para que o ruralismo autêntico funcione em toda a sua plenitude . A constituição da família nuclear é como que um desígnio da natureza ; e ,dela resulta a alargada ou clânica , que constitui como que uma malha de segurança envolvente .É assim o homem rural . Fazem-se filhos para pagar a divida contraída aos progenitores e garantir apoios na velhice . ,Constitui-se família e fazem-se filhos porque é assim mesmo e mais nada .É a natureza a ditar as suas regras .

FACE AO EXPOSTO ,dir-se-á ! Que se passa connosco para que os valores da ruralidade não influenciem beneficamente os da urbanidade , potenciando-se mutuamente ? O mal não está nos urbanos Estes seguem o seu caminho ao seu próprio ritmo O mal está em nós que não conseguimos libertar-nos dos factores que impedem a prossecução do nossos destino
A minha experiência ,na qualidade de trabalhador rural por conta de outrem e pequeno agricultor ,nos campos alentejanos e ,posteriormente e noutras paragens , pesquisador etnólogo especialmente dedicado a articulação dos povos rurais com o meio ,concluo que não há povo algum que resista se impedido de aceder ao seu espaço circundante.
Está nesse caso a comunidade rural alentejana que pode ser assim caracterizada,:--- Limitada na usufruição do seu espaço vital de há 170 anos a esta parte , tem sido severamente punida por não se conformar com tal situação da qual resultou ,não só a perda da capacidade de luta, como da percepção do que lhe esta a acontecer ; os grandes donos do Alentejo ,ausentes e entretidos na dissipação das fabulosas receitas daqui auferidas sentem-se como casta com um direito divino sobre o nosso espaço ancestral , sem que se sintam na obrigação de prestar contas a ninguém ; e estado ( há a esperança que o actual governo encare esta situação de uma forma mais patriótica ) e até a nível da CE , aceitam como representantes da região precisamente os responsáveis pela degradante situação regional .Efectivamente há aqui um ajuste de contas que tarda em ser feito -- Francisco Pândega (agricultor)/// e-mail --fjpandega@hotmail.com /// blog—alentejoagrorural.blogspot.com .