25.3.08

AlentejoAgroRural
UMA REGIÃO /UM POVO
1 --- Quis o destino que, também em terras distantes e numa determinada altura , tivesse sido profissional de definição de regiões naturais e, nelas, da forma como respectivos povos, nos mais diversos estádios evolutivos, se inseriam.
Mas ,o que é uma região ? interrogar-se-ão os menos calhados nas relações do homem rústico com o seu meio. Uma região é uma unidade geo-agro-sócio-económica com bastante homogeneidade no seu interior e perfeitamente diferenciada em relação ás circunvizinhas Cada qual com as suas gentes , com a sua bem conhecida adaptabilidade ao respectivo meio , que cria a sua própria língua , ou mesmo dialecto, e organiza-se socialmente . Migrantes e transumantes por aventura ou necessidade , belicosos por natureza , anexam, á sua , outras regiões, geralmente pela força .Assim nasceram as nações e se formaram os impérios .
Hoje ,porem , devido a instantaneidade das comunicação e á globalização comercial dos produtos agrícolas ,está-se a regressar à unidade regional como pilar/base de desenvolvimento . Um pouco por toda a parte , com especial destaque para as nações que se libertaram com a implosão da ex- federação russa ,estão a lutar pela autonomia regional . Esse movimento , de reposição da região natural , como forma de potenciar a especificidade de cada uma , também acaba por acontecer na comunidade europeia ,tanto mais depressa quanto mais soberania for delegada para a entidade supranacional, Isto faz parte intrínseca da génese dos povos para quem a liberdade passa , em primeiro lugar ,pelo exercício da sua identidade regional com um mínimo de interferências exóticas .

2 --- O factor que mais personifica uma região é a sua localização em determinado quadrante . Muito variável no sentido longitudinal devido ao arrefecimento e redução da incidência solar, na medida em que se avança do equador para os pólos No sentido perpendicular, que o mesmo será dizer dos paralelos ,a variabilidade deriva das correntes de ar (quer marítimas quer continentais), das altitudes, da orografia e das formações geológicas (solos) Estas condições geram um certo clima e regime de chuvas que, por sua vez, determinam um tipo de arborização, e outras plantas, espontânea e cultivadas. Eis os princípios básicos que caracterizam uma região

a)---É neste conceito que se inscreve o AlentejoAgroRural. O clima , que é o factor mais importante , é formado por duas correntes marítimas :-- Uma que, pelo vale do Guadiana, transporta uma corrente de ar mediterrânico e outra, pelo vale do Tejo, ar atlântico mais frio. Com intensidades variáveis , misturam-se ao centro da região amenizando a temperatura Em Junho e Julho a corrente marítima atlântica é mais forte daí que as tardes de verão sejam suavizadas pelo ar fresco (maré) , vindo do poente , tornando-as bonançosas
Não tem montanhas , antes sim pequenos relevos arredondados que raramente excedem os duzentos metros o que faz do Alentejo uma imensa planície .Bordejado por serras , a sul , resulta ,desse lado , uma reduzida a influencia marítima já que elas fazem subir o seu efeito para camadas superiores
Com este clima e regime de chuvas ,desenvolve-se uma agro-silvo-pastorícia muito especifica .E ,com base nela, produtos únicos em termos de qualidade e baixos custos que constituem a marca Alentejo. Estamos a falar de cortiça , partes de porco de montanheira , azeite, alguns vinhos , hortícolas em determinado período do ano designadamente tomate para a industria .Impõem-se aumentar o volume de produção , padronizar as suas características , organiza-la e concentra-la de forma a conseguir o próprio nicho nesta complexo mercado global

b)--- Definida a aptidão agrícola, falta acrescentar que a nossa região é dotada de uma estrutura rústica impar: --recursos naturais abundantes e únicos, dimensão suficiente para o exercício da regionalização e potencialidades económicas que, a serem exploradas por quem sabe e quer, dotá-la-iam a de uma grandeza económica incomensurável Se a isto acrescentarmos o facto de ter uma vasta costa marítima, com excelentes condições turísticas, piscatórias e portuárias o Alentejo é efectivamente uma região/potencia,
Enorme , sendo 1/3 da superfície total do pais e compreendendo mais de 50% da sua superfície agrícola útil (já que é praticamente arável/agrícola de lés a lés) é algo que todas as nações almejariam ter. Daí estar transformada no Eldorado de endinheirados, como se uma região milenar, berço de um povo, pudesse ser objecto de transacções como se de uma produto perecível se tratasse.

c) ---Em termos populacionais e não obstante ser uma região salubre, encontra-se despovoado já que nela somente habitam 5% da população dos pais. Trata-se de uma história com início em 1835. Uma longa e triste historia de um povo que tem sido sempre derrotado nas múltiplas tentativas de impor o seus direitos sobre o seu espaço coevo Foram muitos ano de submissão, de perdas de identidade, de pobreza, fome, exclusão, maus tratos e todas as vicissitudes que acontecem aos povos que se deixam vencer .Que perdem a capacidade de reagir
E, hoje, se bem que haja democracia e tenhamos a via parlamentar para defender os interesses regionais, acontece que o houve o cuidado de nos reduzir a uma insignificância electiva Daí deriva o facto de não termos voz parlamentar nem organização social, nem força anímica, para impor a nossa especificidade regional. Representados por 10 deputados (incluso os quatro concelhos do litoral) , num universo de 230, o poder parlamentar encontra-se no norte dos pais. Norte que é substancialmente diferente do Alentejo, com outros problemas que requerem outras soluções; que não coopera connosco, não nos compreende e não gosta de nós; para quem, nós, somos alguém, no distante sul, a quem se atribuem todas as anedotas depreciativas que por aí circulam. Daí que solução terá que partir de nós mesmos usando, para tal , a força da nossa razão.

3---Tal como os EE.UU, a Espanha o Brasil , Portugal insular , etc .um pais desenvolve-se regionalizando-se O Alentejo só passa a barreira da lassidão se conseguir a sua institucionalização com a consequente autonomia do sector rústico . Esta solução vem dar mais coerência a vida rural e ,de uma forma indirecta , beneficiar a urbana Para alem das razões de ordem socio-económica , outras há , de transcendental importância , que importa defender designadamente a reorganização do espaço rústico de forma a humanizar o uso do solo e dar-lhe as multifuncionalidades que lhes estão adstritas,.Tais como:-- a produção de alimentos de qualidade sem degradar os meio ; organização da comercialização produtos agrícolas genuínos neste mercado global ; defesa dos montados, património único em avançada degradação, que importa defender como forma de preservar o meio ambiente ,a paisagem e o clima ; o povoamento do território afim de garantir uma soberania efectiva do espaço rústico ; conservação da identidade histórico/cultural regional do Alentejo e, com isso, honrar os nossos ascendentes que tombaram , por estas chapadas , para no-lo legar.
Francisco Pândega (agricultor) /// e.mail: -fjnpandega@hotmail.com ///blog:-AlentejoAgroRural.blogspot.com