19.5.05

Alentejo agro rural (IV)

ANTONIO BARRETO ERROU

1----- O escrito que António Barreto produziu , referindo-se à regionalização (Publico de 08.05.2005), constitui uma das análises mais absurdas e contraditórias que se possa imaginar .É daquelas que se pode afirmar que o inverso é que é verdade .António Barreto , não entende o que está subjacente a esta fórmula administrativa , daí que não devesse pronunciar-se acerca de uma questão que não domina minimamente .Este comentarista prestou um péssimo serviço ás diversas comunidades regionais que aspiram poder vir a intervir na administração do seu território, em substituição deste estranho centralismo que nos arruína completamente .

2---- Menciona o resultado do ultimo referendo ao que parece para nos convencer de que os eleitores não querem a regionalização, revelando ,com isso , uma grave falta de informação ; ao inventar os fantasmas de despesismo , aumento do numero de funcionários ou reciclagem de autarcas caídos em desuso ,é desconhecer que sendo a região o município dos municípios ,tem potencialidades para obviar eventuais faltas de honestidade ; ao defender uma administração centralizada é , alem de imoral , uma falta de respeito pelas gentes da interior .São temas que aventa para sustentar um estranho anti-regionalismo primário

a)--- Como se sabe o referendo venceu no Alentejo. Certamente devido ao facto de ser uma região perfeitamente definida ,por limites estáveis e de uma grande homogeneidade interna quer no que se refere ao meio natural quer no diz respeito ao magno problema fundiário , que aqui persiste , e que é directamente responsável pela debilidade regional .O voto negativo ,do resto do pais, deve-se á discordância com o mapa proposto mas jamais em relação ao conceito que lhe está subjacente .
Alem disso ressalta claramente uma visão urbana do problema, inconsistente e maledicente , eivado de contradições insanáveis .Enfim , o protótipo de quem não sabe do fala Este caso inscreve-se no conceito tão propalado por alguns escribas urbanos que, ignorando que há vida para alem dos grandes centro urbanos , são aliados objectivos dos grandes interesses aqui instalados que procedem a mais despudorada rapina dos recursos regionais e impedem que as gentes locais exercem a sua natural intervenção .
; Fazem coro com outros patetas úteis ,que os há sempre , que nesta matéria se põem em bicos dos pés , tantas vezes para fazer coro com os donos da sua vontade

b--- Não é justo atribuir à regionalização a incapacidade de recrutar , para os seus quadros administrativos, os melhores de entre nós .Isto porque ,sendo uma sendo uma região a autarquia da autarquias e regendo-se pelos mesmos critérios democráticos ela contem , em si mesma, a necessária capacidade regeneradora e a eficácia suficiente para impedir desvios comportamentais Por outro lado e tendo em conta que é a CCR a cúpula desse novo patamar autárquico e os presidentes das câmaras os respectivos deputados , não se vê aonde possa estar o aumento de efectivos humanos, dos custos administrativos ou de duplicação de procedimentos. Há , isso sim , um aumento de eficiência .Eficiência essa resultante do facto de termos , entre nós, o centro de decisão .
Mas não só .È sabido , porque é da natureza humana ,que sempre que as gentes sejam convidadas a participar em tarefas mobilizadoras , acontece o despoletar de um frémito exaltante ,potenciador de ímpetos edificantes , capazes de remover montanhas A regionalização pode ser o motivo arregimentador , que nos arrebate e motive ,a ressuscitar a este exangue Alentejo

c)---Qual a função da regionalização? Interrogar-se-á quem ande menos atento as estas questões de ordenamento do território ; dos aspectos agro-sociais ; ou tenha pouco interesse pelas comunidades rurais tradicionais . Convém saber que esta nova ordem não se destina a sectores tais como a justiça, ensino, segurança social , saúde, etc .Estes são sectores que funcionam transversalmente em todas as sociedades sejam elas de natureza rústicas sejam urbanas
Esta a razão pela qual muitos de nós ,porque afastada do mundo rural , não percebe a sua vital importância económica . Evidentemente que não vou aqui repetir a frase que foi dita a Clinton (é a economia estúpido ) mas digo que é fundamental para economia agrária já que esta depende do meio natural Há aqui uma questão de especificidade que não pode ser olvidada Isto porque as medidas adoptadas para uma região de certeza que não se enquadram noutras . .
Daí que no Alentejo sejamos nós quem tem o quer e saber fazer para dar sentido ao ruralismo regional. Só nós ,e mais ninguém , podemos integrar a nossa região no novo conceito de globalização. Seria a pensar em casos análogos ao nosso que a EU institucionalizou aquele pilar da sua construção designado por subsidiariedade ou seja o delegar poderes a quem, quer pela proximidade quer pelo saber fazer, faça melhor

d---Para alem das questões económicas , atrás tratadas , outras há , igualmente importantes que , também elas ,só têm solução no âmbito da regionalização
Uma ,aliás , gravíssima , prende-se com o facto de o Alentejo ,tal Eldorado dos tempos modernos , estar a ser objecto de uma estranha colonização estrangeira que afecta a nossa soberania e com gravíssimas implicações sociais
O facto da terra alentejana estar a transitar dos actuais donos , esses ilustres desconhecidos entre nós , para estrangeiros , sem a anuência dos nossos representantes regionais , é uma traição . Traição essa que só passa impune porque previamente houve o cuidado de reduzir a comunidade rural local a uma estado de abulia a raiar o vegetativo Esta transmissão do nosso espaço regional ,para alienígenas que se aproveitam da nossa desta nossa debilidade social , seria impensável em qualquer parte do mundo e por conhecidas razões , muito menos na Europa
Inseridos, como estamos , numa EU aonde as comunidade rurais ,são tratadas com desvelo , nós , enquanto enchemos os bolsos de autenticas” maquinas” de captação de subsídios , estamos apostados em debilita-las . Nós , comparativamente aos povos que prezam o seu mundo rural , somos uns autênticos predadores do espaço que os nossos antanhos nos legaram

e--- Acresce que isto , para alem de afectar a região , constitui uma grave subversão das expectativas das gentes do campos que vêm no acesso a terra o coroar dos seus projectos de vida Desde sempre, nós , rapazes das aldeias , trabalhadores nas nossa diminutas courelas , acalentemos a esperança de que , baseados no facto da detenção da terra estar em mãos erradas , acabaria por algo acontecer de forma a que , mais tarde ou mais cedo , chegasse a nossa vez .
A debandada dos campos, foi consequência da falência dessas expectativas
No campo ficaram os mais acomodados , geralmente por natureza dócil, logo incapazes de fazer o menor gesto consequente no sentido de uma reestruturação fundiária . Digo mais . Casos haverá em que uma decisão nesse sentido, para alem de ter que ter a oposição dos grandes donos de terras ,terá também a de alguns desses potenciais beneficiários Tal o estado de degradação a que se chegou

f--- Ao imporem-nos uma reforma agrária , cujo modelo colectivista não se encaixa na nossa forma de ser, e, ao que parece , na de ninguém ; ao presentemente estar a ser transferida a posse para capitalistas estrangeiros , ficam frustradas definitivamente as nossa legítimas expectativas
A nossa esperança derradeira está na regionalização já que o poder de decisão ser transferido para nós Ou seja deixar de estar concentrado no parlamento nacional , aonde , num universo de duzentos e trinta parlamentares os nossos dez não têm a menor possibilidade de fazer entender a nossa especificidade regional
Estamos a falar de terra , questão tão importante , mas tão simples de solucionar ..Perfeitamente consensual e geradora de receitas .Tão simples , tão justa e tão ao nosso alcance.

3---Um dos desígnios dos povos rurais é assumirem-se como sendo os fiéis depositários da seu espaço com a incumbência da o legar á geração seguinte .Ou seja :-- nós somos a geração intermédia entre a anterior e a que se segue Nessa conformidade não somos mais do que os depositários de um testemunho geracional que inclui usos costumes e tradições , assim como o espaço físico aonde tal de exerce.
. Ora esse desígnio tem sido cerceado .Daí a razão porque nós , como povo , andarmos macambúzios e entristecidos
É por estas e outras razões , e não obstante as premonições anti-regionalistas de António Barreto ,que importa defender a regionalização já que é instrumento com qual iremos dar sentido e vida ao Alentejo .
E-mail:---fjnpandega@hotmail.com;
blog:- alentejoagrorural.blogspot.com