23.10.05

Alentejo agro-rural
e as
PRESIDENCIAIS

1---- Tudo indica que o embate final se trave entre Mário Soares e Cavaco Silva
Ambos foram primeiros ministros e das respectivas prestações , enquanto tal , o eleitor decide-se por um deles
Da governação de Mário Soares sobressai o facto de ter encontrado o país á beira da bancarrota ; de ter exigido sacrifícios á nação e recorrido ao FMI ; de ter posto as contas em ordem e preparado o país , com invulgar sucesso ,para a adesão CEE
De Cavaco ressalta as péssimas negociações da PAC ; o ter, nos primeiro três anos , folgado com o fluxo de fundos comunitários ; de ter criado vícios na sociedade do que resultou , nos últimos sete anos , numa penosa governação ; de ter deixado a nação com um peso desmesurado de funcionários públicos inseridos numa estrutura ineficaz ; com imensos direitos adquiridos , entre os quais sobressaem as promoções automáticas.

2---- Há ,porem , aqui , uma outra questão de primordial importância que os diferencia abissalmente .Porque de decisivos efeitos regionais , deve ser analisada em separado das anteriores Estou a falar da terra . A sua acção perante ela constitui um sólido e incontestável indicador da grandeza de Soares face à mediocridade de Cavaco . Questão essa que foi, e é , de capital importância para o Alentejo e está na razão directa da penosa situação porque passa a nossa região .

Quando em 23 de Junho de 1976 Mário Soares foi indigitado 1º ministro o PCP campeava nos campos alentejanos e as Unidades Colectivas de Produção eram as fontes da conspiração social e alimentação financeira daquele partido
O colectivismo , fórmula agrícola que não funciona em parte alguma do mundo , por absurda e inadequada a vivência do homem , veio substituir o anterior sistema fundiário ,do tipo latifúndio , igualmente injusto e que esteve na razão da miséria nacional e da anulação do perfeito ruralismo ,com séculos de experimentação , apanágio da mundo rural alentejano
O que fez Mário Soares ? promulgou a Lei 77/77 que consistia na devolução , aos anteriores proprietários , de uma área cuja dimensão era , então , considerada suficiente para o normal exercício da actividade agrícola O remanescente , na posse das UCP, ficaria disponível para novos agricultores povoarem a região
Substituído , pouco depois , no governo , possibilitou que Sá Carneiro , sem necessidade de lhe alterar nem uma virgula sequer , instalasse , no curto lapso do seu governo , perto de cinco mil novos agricultores

Em . 08.10.1985 assume Cavaco Silva a chefia do governo . De imediato procedeu a desactivação da referida lei e, por meio de sucessivas alterações , desvirtuou-a completamente .Em vez da instalação de novos agricultores procedeu a devolução da sua quase totalidade aos antigos proprietários Os novos agricultores , já instalados, foram submetidos ao livre arbítrio dos donos da terra , que entretanto se apossaram dela , com rendeiros e tudo .Tem sido um fartar vilagem Quase todos já sossobraram
. Funcionou como se não tivesse havido 25 de Abril ; como se Mário Soares não soubesse o que andava a fazer ;como se Sá Carneiro não fosse um politico de excepcional visão ; como se a experiência do passado não demonstrasse que a solução do a Alentejo não passasse pelo povoamento agrícola , por agricultores directos e efectivos , residentes e em família .
O não ter percebido isso ; o ter alterados as Lei 77/77 de Mário Soares ; e não ter seguido o caminho traçado pelo saudoso politico que foi Sá Carneiro , conduziu a região para o deprimente estado agro-social em que hoje se encontra

3---- Somos nós , eleitores , quem vamos decidir qual destes dois políticos ,cuja visão dos problemas regionais é diametralmente oposta ,entre si , que vamos colocar na presidência :-- um Soares que, numa altura em que era difícil faze-lo , definiu as linhas mestras do futuro agro- rural regional , contrastando com um Cavaco que anulou tudo o que de bom recebeu legando-nos o Alentejo cuja vivência agro-rural , porque de tal forma inumana , nos deveria envergonhar
Convenhamos que entre os dois políticos há uma diferença abissal cujos efeitos importa analisar e ter em conta :--- a cedência de terra , com base na lei de Soares , praticada abundantemente por Sá Carneiro , porque algo semelhante ao aforamento , mantinha o uso da terra , no mesmo agricultor , sem qualquer constrangimento de exercício , já que somente excluía a possibilidade de alienação e hipoteca Esta mantinha-se , indefinidamente na posse de agricultores nacionais/regionais
.Por outro lado, as devoluções de Cavaco foram beneficiar insensíveis e egoístas proprietários que auferiram a quase totalidade dos fundos comunitários para alem de terem beneficiado da sobrevalorização da cortiça cujas receitas superaram , em muito, as dos subsídios da PAC .Para onde foi tanto dinheiro ? clama, sem resposta satisfatória , o comum cidadão ! Mas pior do que isso , já que tem implicações com a nossa soberania ,foi o facto de que vendo que algo vai mudar e esquecendo-se de que á terra pressupõe-se haver um vinculo afectivo que impede a sua venda a quem não esteja em condições de se integrar nos sagrados propósitos regionais , fê-lo , e continua a fazê-lo, impunemente .Isso pode até consubstanciar uma traição, aos nossos antepassados que penaram , lutaram e tombaram por essas chapadas , para no-la legar

4---- Incautos , perante um mundo globalizado , estamos a deitar borda fora a possibilidade de conseguimos a auto-suficiência alimentar a partir da qual nos tranquilizaríamos como povo livre e soberano, condição que temos obrigação de preservar .
Mas mais .Os alimentos que ingerimos podem vir carregados de substancias perigosas para a nossa saúda . Prevê-se , até , vir ser pela via alimentar a forma de enfraquecer os povos Depois da BSE , agora a gripe das aves ; depois da horto- frutícolas poderem ser o veiculo de poderosos venenos se não forem respeitadas as regras da sua aplicação , começa-se a perceber que compete a cada povo organizar-se para proceder ao auto-abastecimento e consequente acompanhamento dos sistemas agrícolas produtivos .Isto para alem da constituição de uma indispensável reserva estratégica alimentar São questão outrora defendidos ,já que era delas que dependia a sobrevivência dos povos , e que terão que ser repescados hoje , dados os perigos com a que a questão alimentar se confronta . Não sei se o Soares , de então , teria previsto estas questões . O que é certo é que elas iam no sentido das necessidades actuais . Agora supúnhamos que Sá Carneiro não tinha morrido ou que quem o substituiu fosse alguém de maior visão em relação ás questões do Alentejo .Com espaço e gente capaz poderíamos ser uma região prospera e onde merecesse a pena viver .Não foi isso que aconteceu e as causas tem que ser denunciadas
Daí a inevitável comparação entre as duas personagens :--- um Soares que preservou o nosso espaço contrastando com um Cavaco que promoveu a sua depredação
Francisco Pândega .(agricultor )
Blog---alentejoagrorural.blogspot.com
e-mail---- www.fjnpandega@hotmail.com

22.8.05

Alentejo agrorural

E OS INCÊNDIOS
1---- O PAÍS ESTÁ A ARDER .Há perdas de vidas e valores ; destruições ambientais ; mobilizam –se as pessoas ; gastam-se fortunas .O drama ir-se-á repetindo , ano após ano , enquanto houver vegetação e não forem tomadas medidas preventivas eficazes .
Eficácia na prevenção significa encarar o problema de uma forma regionalizada .Isto porque ,tanto quanto se percebe , no norte , a propagação faz-se através das copas das arvores e o combate está dificultado devido á orografia do terreno
No Alentejo esse tipo de dificuldades são inexistentes .Entre nós , os incêndios deixam de constituir problema desde que o espaço rural esteja devidamente agricultado e harmonicamente povoado
Agricultado significa a repescagem dos sistemas tradicionais , corrigidos á luz dos recentes conceitos de globalização .Isso implica o uso dos modernos equipamentos agrícolas e restantes factores de produção resultantes das tecnologias hodiernas .
Se reformas há a fazer elas prendem-se com a proibição do plantio da florestas exóticas , principalmente eucaliptos ; com a ocupação racional do espaço alentejano ; e com aquilo a que os marginais do sistema entendem ser uma barbaridade que é “ mobilizar periodicamente todo o solo” . Repito . No Alentejo só deixa de haver incêndios , só se manterá do que resta dos montados e se conservara esta impar paisagem , desde que arado, todo , de lés a lés , com uma periodicidade que não vá para alem dos sete anos .Isto não tem qualquer originalidade .É a nossa pratica corrente no exercício da actividade Sabe-o ,melhor do que eu , qualquer pessoas de um povoado rural
È assim o Alentejo autêntico . Deixa de o ser se apossado por alienígenas


2---- CARACTERIZANDO A FLORESTA alentejana pode-se concluir que , exceptuando algumas faldas de transição e linhas de agua , sendo resultante de um microclima muito específico , da área mediterrânica , é formada por quatro arvores de grande porte :- sobreiros , azinheiras, carapeteiros ( uma pomóidea ) e zambujeiros ( uma oliva ) .Sob o coberto dessas arvores desenvolve-se um substrato , ou camada intermédia, formada por arbustivas :- estevas , sargaços, rosmaninhos , pioneiras e tojos Por fim e num plano inferior , um terceiro tipo de vegetação :--os musgos
Posto isto e numa óptica de protecção contra incêndios há duas situações distintas : Uma , altamente propícia á deflagração de incêndios que é deixar-se de cultivar as terras votando-as ao estado primitivo ou seja á regeneração dos matagais .E outra , a que afasta o perigo de grandes incêndios ,que é a manutenção da terras submetidas ao normal cultivo e pastoreio o que ,entre nós se designa por sistema agro-silvo-pastoril

. . 2.a)---- O Alentejo dos matagais é o estádio normal, para que tende, se votado ao abandono como é previsto que venha a acontecer a breve prazo Para a analise do risco de incêndios ,importa analisar as sucessivas fazes , que se vão sucedendo na terra /floresta alentejana a partir da ultima vez que haja sido mobilizada .Vai-se progressivamente auto-degradando até que , ao fim de vinte anos de abandono , (variável de acordo com o tipo de solo e a intensificação a haja sido submetida ) , atingir o designado clímax .
Nos sete anos seguintes , após a última mobilização , o meio (terra/ floresta ) responde sucessivamente nas seguintes fases :---
---A primeira fase , com uma duração de sete anos , a terra auto-reveste-se por uma cobertura herbácea (pastagem )
---A fase seguinte de sete a catorze anos, a pastagem vai progressivamente cedendo lugar ao aparecimento de arbustivas ; Desaparecem as ervas , o montado /floresta inicia sinais de decrepitude .A concorrência movida pela arbustivas e a falta de mobilização do solo conduzem a fase designada por clímax A degradação do meio ; a agressividade da vegetação ; o chão coberto de folhagem ressequida ; tudo é resinoso e altamente inflamável .É o Alentejo votado ao abandono .É o retorno ao Alentejo dos fogos medonhos e monumentais ,que ainda são recordados pelas gentes mais velhas

I--- Porquê a periodicidade de sete anos ? Interrogar-se-ão aqueles que tenham , em relação a esta matéria , algum interesse . Sete anos é o período em que ,findo o qual , uma terra , sem mobilização /arejamento , cessa a actividade físico química .Como se compreende , esta , tal como todo e qualquer elemento vivo , encontra-se em estado de permanente transformação biológica .Diz a experiência que cessa essa actividade e entra em regressão , ao fim desse período , por falta de arejamento devido á compactação
Esta periodicidade de sete anos , resultante da experiência secular das classes rurais , volta a ter aplicação já que com base nelas que são viáveis as novas formulas de agricultura ecológica que têm por base a limitação do emprego de fertilizantes e pesticidas
Como se sabe , sete anos de pousio é o tempo necessário e suficiente para que a terra readquira o fundo de fertilidade ,se liberte das pastagens , que aqui se denominam ervas daninhas , dos insectos , fungos , viroses , bolores , podridões, etc, que se extinguem , nesse período de sete anos , por falta de hospedeiro .Sem essa auto-depuração do solo implicaria a aplicação de fertilizantes e pesticidas , cujas consequências são por demais conhecidas

II--- Mas o que o é o clímax da floresta alentejana ? Interrogar-se-á quem não esteja muito calhado com este tipo de conhecimentos . Ao contrario dos bosques do norte , em que um conjunto de plantas coexistem entre si . no Alentejo não .Na medida em que vai caminhando para clímax desenvolve-se uma feroz concorrência entre a vegetação de cuja peleja sai vencedora a planta mais primaria e menos útil :--o musgos
Sendo vegetais parasitas primários ,os musgos ,lismos ,líquenes ,algas ,e outros que se confundem entre si , instalam-se nas arvores sugando-as e debilitando-as ; cobre os despojos vegetais, que jazem sobre o solo, transformando-os em pó ; tapa o solo e as rochas com carapaças ,compactando-o e asfixiando-o impedindo que se realize a penetração do ar e consequentemente que desenvolvam as reacções físicas e químicas do solo ; formam um manto fofo ,das mais variegadas cores ,mais parecendo estopa altamente inflamável .As ervas desaparecem ,os arbustos definham e as arvores rareiam e fenecem
O musgo parece , pois , ser o elemento básico do reino vegetal regional .A partir de então , em termos de incêndios o Alentejo está transformado num barril de pólvora
Era assim o Alentejo anterior ao século XX .Volta a sê-lo na medida em que deixar de ser arado ou for apossado por quem não saiba ou queira dar-lhe o devido uso .

É nesses estádio ,porque altamente combustível ,que os fogos assumem a sua antiga e medonha dimensão .
Dantes os fogos eram ateados por cabreiros, que pastavam rebanhos de cabras , os animais que melhor transitavam naquelas condições .Isto para possibilitar o reaparecimento de “renovo “ do qual as cabras se alimentavam
Outras vezes os fogos eram ateados por foragidos ,não raro pessoas de bem fugidas á justiça por motivos politico/religiosos Para se defenderem reagrupavam-se e recorriam ao fogo.
. O Alentejo é ,pois , no estado bravio , altamente combustível .O fogo produzido por musgos e tojos e outros materiais , desenvolvem um tal calor que tudo mata e reduz a cinzas .Como forma de expressar a violência do seu calor havia, entre nós , a convicção de que até fazia estalar as pedras

III—Os açambarcadores de terras , desconhecendo este comportamento regressivo do meio , porque pouco habitual noutras paragens , ficavam surpreendidos perante a necessidade de mobilizar os solos .Pensando que bastaria adquirir terras para , sem mais custos recolher os frutos pendentes , designadamente a cortiça pela qual têm especial apetência , acabavam por concluir que havia custos de manutenção . . Depressa se aperceberam que detendo a terra obtinha a dependência das gentes das aldeias Pô-las a proceder ás desmatações e mobilizações ,do sub coberto , tem sido uma pratica comum desde há mais de um século , acintosamente regulamentada por leis de Cavaco Silva .A terra é mobilizada e , com isso , afastado perigo de incêndios recebendo ainda uma grande participação monetária .P ara alem da totalidade das receitas, com origem nos montados , das quais sobressai as da cortiça que são muitos milhões anuais .
Assim melhor se compreende algum o fausto e luxúria , aparentemente inexplicáveis , que por aí há .Assim melhor se compreende a pobreza dependência e falta de dinamismo nas aldeias rurais ,que tolhe a nossa regionalidade
Esgotado o recurso a esta a infame exploração do homem rural alentejano , surge, em sua substituição, dinheiro comunitário a rodos ; ao que parece está a haver mais parcimónia na sua atribuição do que resulta uma escapadela para teses turísticas e venda aos espanhóis .Não obstante esse reprovável comportamento , se questionados , empertigam-se invocando o sagrado direito á terra
2.b)--- A organização do espaço rural é a condição essencial para obstar aos incêndios . Para dar alguma coerência á descrição torna-se necessário descer a um patamar descritivo um tanto enfadonho . Vamos, sintetizar . Em circunstancias normais de aproveitamento e povoamento , os campos alentejanos constituem um mosaico muito complexo formado por retalhos de alqueives , terras de seara e pousios Isto porque a nossa técnica de exploração impõe que cada propriedade agrícola seja parcelada em folhas e em cada uma delas se proceda a rotação de culturas
Acontece que , quer o número de folhas quer o aproveitamento de cada uma , é variável de acordo com a capacidade de uso do solo
Conhecendo a percentagem , do valor agrícola de cada parcela , nós podemos calcular, com relativa exactidão , qual a ocupação do Alentejo em alqueives , searas e pousios de diversos anos
No caso presente , porque estamos a tratar de incêndios, só nos interessa a área de alqueives já que sobre eles o fogo não passa

O espaço, alentejano , nos seus 30.000 km2 , para análise de incêndios, divide-se em duas partes :-- cerca de 1/10 de vinhas ,olivais, regadios , área social e outras , em que a questão dos incêndios não se põe .Os restantes 27.000km2 que são as terras agrícolas extensivas, esses serão objecto de tratos agrícolas visando também a prevenção dos incêndios .
. Assim desses 27.000 Km2 , 10% são de terras boas (tipo A) ; 20% de terras medias (tipo B+C) : e os restantes 70% de terras más (tipo D+E).As terras boas , porque intensivamente cultivadas ,geralmente são ser divididas em três folhas uma da quais de alqueive ; ,as de media qualidade em cinco folhas; e as má em sete , isso significa que estão na situação de alqueive respectivamente , 1/3 de 10% ;1/5 de 20% ; e 1/7 de 70% Ou seja :-- dos 27.000 km2 de área agro-silvo-pastoril ,cerca de 5.000 mil Km2 estão alqueivados e absolutamente defendidas do fogo . Pode-se assim concluir , se a região for convenientemente explorada, essa enorme área constitui um eficaz aceiro que intercepta qualquer fogo que se haja instalado
Face ao exposto podemos afirmar que , se o Alentejo andar bem cultivado ,porque pontilhado de áreas aonde o fogo não caminha , obsta que progrediam .Nessas condições torna-se numa região imune aos incêndios

c)--- O combate aos incêndios Mais do que combate a nossa experiência é preventiva . Prevenção essa resultante do conhecimento do seu comportamento ,daí os aceiros que circundam as folhas e os caminhos .Em condições normais só há incêndios em Julho Agosto e princípios de Setembro
. Recordando , aquando das ceifas em Junho , fazíamos a rancho e consequentemente lume , no meio do restolho sem que vez alguma acontecessem casos de fugas de fogo .Ainda hoje ceifa-se e enfarda-se em Junho a periferia das searas. Depois é que se aceira indo bem a tempo de precaver dos fogos .
Mas perigo de incêndios , quer no pousio quer nos restolhos , fica muito reduzido se , na exploração , houver gado a pastar . O gado come e acama o restolho de tal ordem que um incêndio , a activar-se , fica praticamente inofensivo
Fogos nesta condições não causam estragos podendo até andar sob os chaparros não os prejudicando para alem de chamuscar a rama .Contudo essa queimada , pratica habitual até há pouco , é hoje proibida , e bem, já que mata as jovens plantinhas dispersas pelo terra, assim como as das estremas, valados e arrifes
Alem disso há o habito de , nas explorações , no verão , tempo em que os tractores têm pouco trabalho, estarem estacionados sempre com uma grade acoplada .Mal surja um incêndio faz-se um rego na frente do sentido das chamas , lança-se o que se designa por um contra fogo contra a frente que se pretende extinguir .Do encontro dos dois resulta, no imediato, apagamento de ambos

3--- A HUMANIZAÇÃO DO MEIO não é o abandono nem as praticas agrícolas exóticas .Tem que ser submetido a um regular cultivo como forma de manter a paisagem e impedir os incêndios Como se vê ,o Alentejo , se votado ao abandono ,é pasto fácil de fogos imensos e incontroláveis . Mas se cultivado normalmente o perigo de incêndios é inexistente . Não é a mesma coisa do que o norte aonde é bem clara a necessidade de um reordenamento florestal com vista a que aquele drama deixe de acontecer Temo porem que um plano de reordenamento florestal , gizado algures , num gabinete sem ligação ao problema ,nos seja imposto sem ter em conta a nossa especificidade regional
Qualquer intervenção nesse sentido , terá que ser de âmbito regional e passa pelo impedimento de plantação da floresta exótica designadamente os eucaliptos .Por outro lado uma intervenção no Alentejo , se bem que seja uma urgência , deverá ser abrangente e integrada no todo agro-rural dado que entre nós não há a floresta extrema ( montados ) mas sim a agro-silvo-pastorícia , que , como o nome indica , inclui a agricultura, o montado e a pecuária . Mas mais . Inclui também o povoamento e ocupação do território e consequente a manutenção deste espaço sob a égide pátrida; a preservação da paisagem e dos seus recursos naturais ; e outras .
Em suma , intervir na floresta é intervir na ruralidade no seu todo . Coisa que no norte , e tendo em conta o que se passa com os actuais incêndios , terá que haver outro tipo de abordagem

Espero ,porem , que essa boa intenção , a estender-se ao Alentejo , não se converta, em mais um sorvedouro de dinheiro como já estamos habituados ; numa agência de emprego do estado , para um certo numero de desvalidos ,os quais dão inicio a um processo de auto-destruição profissional ; numa associação de interesses empresariais , como tantas que por aí há ,as quais , salvo algumas honrosas excepções , constituem-se numa forma de empate ao desenvolvimento e a garantia da manutenção deste incrível bloqueio agrícola ; e em mais uma chatice para os poucos agricultores , tais estóicos abencerragens , que ainda resistem a toda uma erosão anti- rural a que temos estado submetidos.

Desbloqueie-se o acesso á terra de forma a que a ela acedam as novas gerações ; apoiem-se os sistemas agrícolas tradicionais que se articulem com os novos critérios impostos pela globalização ; usem-se , para tornar mais rentáveis e menos penosos os trabalhos agrícolas , os modernos equipamentos e as tecnologias de ponta ; e ver-se-á que , como que por encanto, todos , mas mesmo todos os problemas regionais , inclusivamente os dos incêndios , ficam solucionados .
Francisco Pândega (agricultor )
E-mail –fjnpandega@hotmail.com
Blog--- alentejoagrorural.blogspot.com

31.7.05

Alentejo agrorural
E O VENTO
1---- É demasiadamente grave a nossa dependência energética . Não só pelos enormes preços que o petróleo alcançou mas , muito principalmente , porque estamos á mercê de um produto importado que , a haver alguma perturbação nos transportes ,de que resulte em rotura de abastecimento , a nossa vida transforma-se num pandemónio inimaginável Para aliviar essa dependência , projecta-se a instalação de parques eólicos ,ou seja de grupos de aerodínamos , accionados pelo vento , destinados á conversão da força do vento em energia eléctrica É bom recordar que , já em tempos e utilizando a força do vento , percorremos , de caravela , os mares nunca dantes navegados .Com vento habilmente utilizado ,fomos um povo grande entre os maiores Os tempos ,hoje , são outros . Porque perdemos a garra de então ,amolecidos na dependência do estado ,temos que ser mais contidos nas aspirações concentrando-as naquilo que seja exequível e facilmente alcançável . Aumentar, para o máximo possível , a produção de energia renováveis , constitui , nas actuais circunstancias , um imperativo nacional .O deus Eolo dotou-nos com um tipo de vento perfeitamente aproveitável . .Aproveitamo-lo , pois , já que é uma benesse da natureza que pode aliviar substancialmente , os custos da factura energética e ,com isso , aliviar o mau estar resultante da dependência de terceiros

2---- Outros países, utilizando a força do vento , desenvolveram as respectivas economias . Também nós , dada a bonomia , regularidade e previsibilidade dos nossos ventos ,temos essa possibilidade . Aliás utilizamo-lo abundantemente , nas lides agrícolas , até meados do século passado .
a)-- A Namíbia é um exemplo, bem conseguido , de sucesso , na utilização da energia eólica no accionamento de aéro- bombas .Muito simples e funcionais elevam a agua , das profundezas do deserto, para a superfície , transformando uma região desértica numa grande produtora de gado bovino Como se sabe a Namíbia , ex-colónia alemã do sudoeste africano , situa-se a sul de Angola . A Ocidente tem uma vasta costa atlântica .Essa costa que desde Moçamedes até a cidade do Cabo ,(uns milhares de quilómetros ,) é um dos desertos mais inóspitos do mundo aonde a agua superficial é praticamente inexistente Não tem matas mas somente arbustos rasteiros ; alguns pastos esparsos com uma palatibilidade do tipo salgado ; só areia e muitas rochas desnudadas . Essa aridez física e climática , escassez de agua , esterilidade dos solos , amplitudes térmicas , característica dos desertos , são devidas á corrente fria do Antárctico , que penetra no interior quente , e o transforma a em deserto Tem agua ,nas camadas profundas ,e tem muito vento ( a capital é Windooek –wind +ooek = casa do vento ) .O aparecimento da aerobombas foi providencial .Sendo um instrumento muito simples não deixa de ser funcional , quiçá o único possível , naquelas circunstancias e naquelas épocas .De onde vem essa agua , presente nas camadas mais profundas ? Interrogamo-nos ao atravessar o deserto.A explicação do indígenas é assim :-- No Planalto do Huambo (Angola ) nascem dois grandes rios que partem para sul , paralelamente , na direcção da Namíbia Ali chegados inflectem cada um para seu lado em direcções opostas ,fazendo fronteira :--- O Cunene para o Atlântico e o Okavango para o Indico .Acontece que , não obstante serem dois rios enormes ( fazem parte dos cinquenta maiores rios do mundo ) nenhum chega ao mar perdendo-se nos areais respectivamente da Namíbia e o Kalaari . Perante estes factos não deixa de haver alguma verosimilhança na afirmação de que agua no subsolo destes desertos é devida a esse rios É um exemplo bem eloquente do que ,com base em instrumentos simples e de fabrico caseiro , se pode transformar completamente uma região .No nosso caso importa descer ao mundo da realidade e retirar deste facto as devidas ilações
b)-- O nosso vento é caracterizado por ser muito certinho , regular, sem velocidades excessivas ,bonançoso , muito pontual e previsível .Desde há mais de sessenta anos que não há nenhum ciclone .Não nos podemos queixar ,como outras regiões , de destruições e catástrofes por ele causadas . Como se sabe ,quando o vento é muito forte e carregado de chuva , arrasta terras do que resulta a conhecida erosão ravinosa .Se forte , na terra seca, levanta nuvens de pó , no chão fica a areia e a rocha emergente .È a erosão eólica que empobrece os solos e faz desertos Felizmente o nosso vento não é desses Quem, como nós , anda por esses campos , todo o dia durante anos, sabe que o comportamento do vento se enquadra no seguinte quadro :-- Nos dias de verão temos, pela manhã , uma aragem fresca ,às vezes húmida (brandurada) ;durante o dia o sol aquece o vento não mexe ,dando lugar á nossa tão glosada calma ; de tarde prenda-nos com um ar fresco , bonançoso, vindo do lado nascente ou seja do mar , ao qual nós ,por isso mesmo, designamos por maré .No Inverno , quando do sul , é um vento irregular , gélido e cortante , (suão ) ; ou então se do norte (designado por nortadas ) , geralmente transforma-se em ventania fria, e não raro carregada de chuva, cuja origem , ao que se diz ,é , predominantemente , do Maciço Central da Península Ibérica.Sem aleatoriedades que causam estragos , o nosso vento espera que o transformamos em energia quer mecânica quer eléctrica Com os actuais preços do petróleo não há tempo a perder .
c)-- .Para alem da navegação , também na agricultura , nós utilizamos a força do vento com bastante êxito . Nas eiras , aquando das debulhas , a palha era separada do grão por meio de uma operação denominada espalhagar ,que consistia em lança-la contra o sentido do vento do que resultava a separação da a palha do grão por efeito dos diferentes pesos específicos Outra aplicação era a moenga dos cereais nos moinhos de vento ,os quais , edificados em locais estratégicos ,tinham a função de transformar a força do vento num movimento rotativo de uma mó , sobre outra estática ,por entre as quais o trigo era farinado Estas formas de aproveitamento, quer nas eiras , quer nos moinhos ,pertencem ao passado. Terão que dar lugar ás modernas aerobombas e aos aerodinamos .. Não estou a referir-me ao aproveitamento da energia eólica , em grande escala Isso transcende o âmbito deste escrito . Estou a falar do uso da energia eólica ,nas explorações agrícolas dispersas , que precisam de autonomia enérgica para pequenos usos :--- elevação de agua para uma horta familiar , gastos de casa ,animais domésticos ,baixa tensão para a iluminação , aparelhos de comunicação ,pequenos equipamentos , etc . O facto de estar uma curso a instalação dos canais de regadio de Alqueva, não retira minimamente a valia da energia eólica na dimensão que propomos . São equipamentos de diferentes dimensões para diferentes fins .A rega a partir de Alqueva destina-se a grandes regadios agrícolas os quais, logo que a cultura deixe de precisar de água , fecham-se as adufas até para o ano seguinte .

3---- Nem só com grandes empreendimentos se desenvolve a região .Pequenos ,simples ,funcionais, enquadráveis nos sistemas agro-sociais locais , são indispensáveis para o bom desempenhos da economia agro-rural O aproveitamento do vento ,porque perfeitamente ao nosso alcance é um deles .Discutindo ,com um amigo , o conteúdo deste escrito, antes de do seu lançamento, dizia-me ele:-- É absolutamente funcional para o fim proposto. Contudo quem são os destinatários ?- A pouca população que ainda resta nos campos alentejanos está acantonada nas aldeias . Os montes ,os destinatários naturais , são , na sua quase totalidade , pertença de estranhos ao meio e residentes algures , que tem uma noção egoísta e inconsequente do mundo rural .Daí que a sua disseminação tenha de ser antecedida de uma reestruturação fundiária que atribua á terra uma função social .Os equipamentos eólicos só irão pontilhar a paisagem alentejana quando os actuais “legítimos direitos “ sobre a terra ,forem substituídos pelo conceito de ruralidade FRANCISCO PÂNDEGA (agricultor)E mail:- fjnpandega@hotmail.comBlog—alentejoagrorural.blogspot.com

5.7.05

Alentejo agrorural

E A
ATRACÇÃO DE INVESTIMENTOS

1----Ignorando as colossais potencialidades da nossa região, faz-se tudo para captar capitais estrangeiros para a instalação de fábricas Indo-se ao ponto de clamar, dirigindo-se aos detentores de capitais, – “venham, tomem isto e dêem-nos um emprego! --.” O que nem sempre significa trabalho. Mesmo perante as deslocalizações para outros paraísos laborais, é nesse tema que se insiste, persistindo-se na cegueira de não olhar para a nossa vasta e riquíssima região aonde todos os sonhos sócio-económicos são possíveis Esta atitude deriva de uma já velha perversão, que consiste em defender, a todo o transe, quem trabalha por conta de outrem, dificultando a vida a quem persiste no trabalho por conta própria. Ora, sabendo-se que está no fomento de pequenas empresas , alfobre de auto-emprego e de trabalho persistente , de onde costumam nascer os grandes empresários , ,não se compreende que tudo , em nós , seja contra a sua instalação e sobrevivência Trabalhar por conta de outrem, seja de quem for e qual for o ramo, jamais pode resultar num estatuto social ou nível de vida superior ao seu homólogo que trabalhe por conta própria. Esta circunstância, instalada entre nós, constitui uma gravíssima inversão de valores que importa corrigir. A deslocalização de empresas é o primeiro sinal de algo vai ser inexoravelmente alterado em termos laborais; a necessidade do cumprimento das regras do PEC contem uma clara ameaça à dimensão e regalias da função pública; a presença de entidades estrangeiras, no ramo privado, com uma outra atitude perante a vida, é um claro indicador de que nós estamos errados. Mas mais:-- Se não ousarmos fazer as alterações de moto-próprio fá-las-emos de forma compulsiva. A solução , para o desenvolvimento , passa pelo auto-emprego e jamais (estou-me a referir à agricultura) pelas grandes sociedades agrícolas ou unidades colectivas de produção as quais , absolutamente iguais nos seus propósitos e na inadequação ao nosso meio. São responsáveis por muitos dos nossos danos .

2----- Industrializar o Alentejo? Evidentemente que sim!..Mas fazê-lo com base nos recursos naturais existentes e nas produções para as qual haja vocação ecológica. È assim: --- As indústrias, de mão-de-obra intensiva estão –se ,umas atrás das outras a mudar de local As que ficam arriscam a sus sobrevivência por incapacidade de sobreviver em concorrência; as grandes industrias de alta tecnologia, porque escudadas por uma certa abrangência comercial universal, estão fora do nosso âmbito ; e as outras que laboram com base na matéria-prima regional, essas sim, estão perfeitamente ao nosso alcance devendo ser sobre elas que envidaremos os nossos esforçosContudo ,isto, bloqueado como está , não pode continuar. Inseridos como estamos numa comunidade global de alta competição , é preferível que sejamos nós, por nosso livre arbítrio a proceder ás alterações do que faze-lo a soldo de estrangeiros Sem sonhos utópicos, vejamos o que está claramente ao nosso alcance:-- a extracção dos recursos naturais ,o sector turístico e as agro-indústrias alimentar .

a)--- Recursos naturais . Afinal não somos tão pobres como certos interesses nos pretendem fazer crer O que acontece é que claudicamos perante interesses exógenos , impossibilitando a sus conversão em riqueza e em bem estar social . Sem utopia , conhecendo , como muitos de nós conhecem , a enorme capacidade produtiva e tendo em conta a nova ordem comercial global ,qualquer programa de fomento industrial passa dos recursos naturais, designadamente :
---A existência de mármores , granitos , pirites ,etc., são recursos existentes na nossa região ,dos quais se pode esperar muito , em termos financeiros
---A costa marítima , que geralmente não se menciona , é uma valia económica não despicienda na função portuária , turística, piscatória e outras , que tornam o Alentejo uma invejável potencia regional Com acessibilidades constituir-se-ia na trave mestra do desenvolvimento do Alentejo e da Extremadura
----A cortiça , que incluímos neste capítulo , é um recurso florestal que tem contribuído , em termos financeiros , no último decénio , com verbas superiores (em bruto ) a cem milhões de contos anuais . É muito dinheiro .Tanto que ,só por si e se aqui aplicado , teria transformado o Alentejo , em termos de prosperidade, alcandorando-o da região mais pobre da Europa , para um das mais prosperas

b)--- Turismo . Sem duvida que o Alentejo tem vocação para ser uma boa região turística , em múltiplas vertentes .
---Paisagística A paisagem orográfica e florestal ; o regolfo de Alqueva ; os sistemas agrícolas e seus cultivares ; o clima ameno estável e sem aleatoriedades .Isto num Europa continental tão diferente , convida ao turismo paisagístico senão mesmo à residência da terceira idade que um Alentejo solarengo propicia
--- Histórica . Como toda e qualquer outra região , também neste aspecto temos uma aliciante oferta .Tudo na nossa região é historia Desde a abundante monumentalidade , o testemunho edificado da nossa história , até aos lugares de grandes feitos aos se ficou a dever a nossa soberania . Afinal , não obstante estarmos a passar por um mau momento , somos um povo adulto com um passado que enobrece .Não estamos mortos .
-- Gastronómico .Numa época em que está instalado ,por toda a parte , um certo terror alimentar , se conseguirmos aliar a garantia qualidade ,em termos de ausência de agro-químicos , aos sabores da nossa excelente cozinha , há , neste domínio , uma certo espaço turístico que imposta explorar .

c)--- As agro-indústrias alimentares .Sem subvalorizar os sectores atrás descritos , a autêntica solução ,para a região alentejana , reside na agro-indústria alimentar com base nos produtos agrícolas para os quais temos vocação ecológica ,. Será a partir deles , porque naturalmente de boa qualidade e produzidos a baixos custos ,que deverá assentar o fomento da nossa economia certo de que não há deslocalizações ,certos da sua auto-sustentabilidade . Acresce o facto de , dessa adequação , resultará uma total integração laboral ,ambiental , social . Estou ,como já se deve ter percebido , a falar da carne de porco , do vinho , azeite , horto -frutícolas e pouco mais. Concentrar a produção e a oferta em pouco mas bons produtos , aonde somos imbatíveis ; proceder a uma agressiva divulgação pelos modernos métodos ; toda a nossa produção , assim concentrada , pode ser suficiente para conquistar e manter o nosso próprio nicho de mercado globalizado ou alargado Claro que , sendo estas as culturas base , outras , muitas outras , se terão que efectuar não só como complementares ,das atrás referidas , como para auto-abastecimento regional É esta a verdade económica da nossa região , é este o nosso desígnio agro-social , é este o sistema que se coaduna com a nossa maneira de ser como se fizesse parte integrante do nosso código genético

3--- Este modelo económico implica alterações agro-sociais , no nosso tecido rural , já que importa privilegiar a agricultura do tipo familiar , em explorações de dimensões humanizadas , cujas vantagens são inumeráveis Ele irá facilitar um desenvolvimento exponencial do resultará , numa única geração , a possibilidade de povoar o Alentejo ,nos seus trinta mil quilómetros quadrados , com trinta mil famílias residentes em explorações funcionais ,acrescido de um igual numero de pessoas adjuvantes , o que constitui cerca de 250.000 pessoas directamente adstritas à agricultura . Numa sociedade moderna e equilibrada o número de pessoas directamente ligadas à terra não deve exceder dez por cento da população total Sendo assim , a população do Alentejo seria , tal como a nossa homologa Extremadura , de dois e meio milhões de habitantes .Seria esse o Alentejo de hoje se não tivesses sido vendido , em Lisboa , pela eufemisticamente denominada “venda de bens nacionais” ,do que resultou uma autêntica ocupação por estranhos ,até aos nossos dias , da qual, até hoje, nos não conseguimos libertar Francisco Pândega (agricultor)www.fpandega@iol.pt blog--- www.alentejoagrorural.blogspot.com

5.6.05

Alentejo agro-rural (V)
E OS
SINAIS DA FRANÇA

1— OS FRANCESES E HOLANDESES referendaram e rejeitaram a constituição europeia. Quanto a mim não foi a constituição que foi chumbada. Fosse ela qual fosse teria tido o mesmo destino. Já que ela, se bem que excessiva e maçuda, pouco mais vai alem do reorganizar as directivas em vigor Creio que o desencanto reside no facto de se ter desviado dos critérios fundacionais, ou seja a Europa da regiões ou povos O não ter percebido que há diferentes regiões naturais que moldam os seus próprios povos; gentes que se encontram em diferentes estádios evolutivos, com diferentes ambições, e formas de estar e ser, está a afectar o funcionamento da União.
As comunidades regionais e os seus problemas específicos, só podem ser entendidos e resolvidos a nível regional e com a participação activa dos seus autóctones. Trata-los, todos, como que se de uma amálgama de pessoas se tratasse, medi-las , todas , pela mesma rasoura, é não perceber que as condições de cada região natural geram diferentes especificidades vivenciais nas suas gentes

2----O “NÃO, foi devido a questões gerais, que atravessam toda a comunidade, designadamente a política de imigração para colmatar a perda de vitalidade e a deslocalização das indústrias resultante da globalização. Outras há, que, no nosso caso, seria a ineficácia da PAC – Analisamo-las, um pouco mais detidamente, sob o ponto de vista alentejano

a) -------Na actual situação nem nós, nem qualquer outro país dos quinze, estamos em condições de prescindir da imigração A nossa população, envelhecida, confortada sobre os direitos adquiridos, tem tudo garantido. Menos a capacidade de trabalhar e de se reproduzir. Daí que sinta ameaçada a sustentabilidade dessas garantias e o rejuvenescimento do tecido demográfico. Não obstante, o que é contraditório, continua numa luta insana pela liberalização do aborto, em vez de aplicar esse mesmo esforço, no sentido de lhes serem concedidas condições dignas para procriar. Aliás, estamos a falar de, para alem do pagamento de uma dívida aos respectivos progenitores, um dos desígnios da natureza

b)------Também as questões laborais estiveram na origem de muitos “nãos”. Há, hoje, um pavor, pelo facto das indústrias se estarem deslocalizar para outros países, considerados paraísos laborais, aonde os custos de produção são mais baixos e as relações menos quezilentas.
Não merece a pena lutar contra a natureza das coisas As mudanças são inevitáveis e os operários terão de procurar outra ocupação quer as empresas vão quer fiquem Pois se ficarem espera-as falência por perda de competitividade. Nessas condições, melhor será que vão pelo menos mandam para cá os produtos mais baratos
Nós ,como alternativa , temos a sorte de termos um vastíssimo território aonde a capacidade de ocupação na agricultura é ilimitada e as sinergias dela resultantes são incomensuráveis Mas é preciso alguma luta para desbloquear o meio rural, agora cada vez mais difícil devido a sua alienação para estrangeiros
As indústrias que laborarem matéria-prima regional, essas vão continuar entre nós. Estou a falar das agro -industrias alimentares, as extractivas, as relacionadas com o mar e, por fim, as turísticas .
É loucura sonhar com Sillicon’s Valley’s, quando temos aqui, mesmo à mão, algo mais precioso:--espaço Mas isso implica luta .Na situação acomodatícia em que nos encontramos , tantas vezes a rondar a cobardia , lutar por causas comuns , não arregimenta .Mas essa terá que ser empreendida e ganha por nós . Não tem nada que ver com a constituição Europeia

c)------A PAC (politica agrícola comum ),que, noutros países , potenciou o desenvolvimento rural , entre nós , tal não aconteceu .Se bem que , por sua via , tenham vindo , para a agricultura da região , quantias enormes ,elas não se traduziram nem em mais produção , nem alterações desta enquistada estrutura fundiária , na fixação de pessoas , no bem-estar rural , nem com dinheiro para o erário público . Talvez , isso sim , tenha alimentado as indústrias do ócio , prazer e diversão ,libertinagem .
. O que se vê nos nossos campos , sendo o resultado dos subsídios , destina-se a captar mais subsídios . Pouco ,muito pouco é de natureza auto sustentável . Ficamos pior do que estávamos .Perdeu-se tempo, a comunidade rural perdeu qualidade . Agora , antes que os subsídios acabem , transfere-se a terra para estrangeiros ficando a comunidade rural autóctone, definitivamente arredada da usufruição do seu espaço O que , sendo profundamente injusto , é muito perigoso para a nossa soberania
Os critérios das PAC eram muito selectivos quer no que se refere ao tipo de agricultor quer aos quantitativos individuais a subsidiar . Daí que , para obviar esse inconveniente , fosse permitido que se constituíssem cerca de dez mil sociedades agrícolas ; se alterassem as regras afim de que pudessem ser candidatados um número ilimitado de hectares ou cabeças de gado ; assim como permitir a candidatura aos pseudo –agricultores .Perdeu-se, desta forma , o sentido estruturante dos fundos para se tornarem num suporte à manutenção desta inqualificável estrutura fundiária
Como se sabe este processo teve início em 1985 .A sua aprovação e dotação financeira , tinha ,e tem , por base QCA (quadros comunitários de apoio ), com uma de vigência de sete anos ,: Só mais tarde , nos finais da década noventa ,Capoulas Santos , então ministro da agricultura , apercebendo-se da ineficiência do programa , tenha tentado introduzir critérios de plafonamento afim de contrariar este desastre monumental . Esbarrou com QCA, monolítico e inamovível e com uma multiplicidade de direitos adquiridos .Estava tudo acautelado
. Assim , de asneira em asneira, foi agonizando até ao ano passado que finalizou com esse erro monumental que foi o RPU (regime de pagamento único ) que , na prática , significa :-- pagar subsídios , agora sem a obrigatoriedade de produzir , com base em supostas produções , também elas já subsidiadas , mas que não existiram ,entre os anos 2000/2002 . A opção pelo RPU tinha dois anos para ser tomada :Não se percebe bem qual a pressa
È uma questão directamente ligada à União Mas será que , quer o tratado de Nice quer a nova constituição, tenham alguma culpa deste desastre ? Obviamente que não .

3 --- Pode-se concluir que União não está a conviver bem com a nova ordem comercial global Sem poder dispensar a imigração , teme pelo facto desta não se integrar e dissolver na sociedade de acolhimento Pode acontecer-lhe , como diz a metáfora que ,” a certa altura da ladeira , não se sabe bem se são os bois que puxam a carroça se é esta que empurra os bois.”---. A história é fértil no relato de povos que amoleceram ,não cuidaram da auto-defesa , sendo depois constrangidos ,a fazerem o que não gostam , a mando de outros . Isto é um aviso ,também para nós , alentejanos.
Pelo exposto ,já se percebe que preferiria que a nova constituição da União fosse mais leve e privilegiasse principalmente a manutenção do euro ,a representação internacional e a defesa comum , por um lado , e , por outro , desse ênfase a um comité das regiões ,elegendo-o como autêntico representante do sector socio-económico a nível das regiões naturais individualizadas .
Quanto aos temores que afligem os cidadãos comunitários, ,tais como o desemprego ,a deslocalização de empresas ou a invasão de produtos orientais ,não vejo que esta constituição , agora rejeitada ,não fosse um instrumento eficaz para a enfrentar
Francisco Pândega (agricultor )
fjnpandega@hotmail.com
alentejoagrorural.blogpot.com

4.6.05

Alentejo agro-rural ( V)

ALQUEVA ---semear o quê para vender a quem?

1--- As condicionantes do regadio A globalização; os novos critérios nos apoios comunitários; o perigo para a saúde pública com origem nos alimentos; a necessidade de povoar e, consequentemente, exercer a soberania do território; as preocupações ambientais; entre outras; obrigam a uma revisão dos conceitos de produção agrícola, seja ela de sequeiro seja de regadio . Obriga a que, sempre que se tomem decisões , neste domínio, se faça esta pergunta: -- semear o quê para vender a quem ?
a) --- Sem preocupações com a qualidade, produzir, hoje, é facílimo. Podem ser produzidas plantas num caixote de areia inerte, que funciona como suporte. Depois é juntar agua e micro nutrientes, administrados especialmente pela via foliar, e acompanhar com pesticidas. Podem ser criados animais enjaulados, privando-os da sua condição animal, para tanto basta dar-se agua e alimentos concentrados, vitaminas, antibióticos e anabolizantes.
Em ambos os casos o resultado é invariavelmente: --- produtos alimentares descaracterizados, senão mesmo decepcionantes , em termos de palatibilidade e, quiçá, perigosos para a saúde de quem os ingere b) – Sem preocupações ambientais, podem-se produzir grandes quantidades de produtos agro-alimentares desde que não se tenha em conta a preservação dos montados, a defesa dos solos contra a erosão, o seu empobrecimento pela via da exaustão; a conspurcação das águas, quer subterrâneas quer superficiais, como acontece nos locais aonde se procede a uma agricultura ou pecuária super intensiva Entre nós já se verificam agressões ambientais A maior das quais , foi a resultante das campanhas cerealíferas, no final dos anos vinte, cujos danos ambientais foram muito gravosos . De tal maneira que ,ainda hoje ,são bem visíveis na desflorestação, pobreza dos solos e falta de água, com especial incidência, a sul do Baixo Alentejo.
c)-- Sem preocupações com os custos de produção, o que acontece sempre que haja um certo tipo de subsidiação ou que os mercados sejam condicionados . Neste mundo globalizado, em que diariamente nos entram , pelas portas dentro , produtos oriundos de aonde hajam condições ecológicas favoráveis , obrigam-nos a fazer uma revisão da nossa estratégia , em termos de programação agrícola .

2---Instalação do regadio .Quer tenha origem na água da barragem de Alqueva ,seja proveniente de outras captações , também ele está absolutamente condicionado por aqueles três factores ( qualidade , ambiente e custos ) . Porque indissociáveis , entre si, terão que ser tratados em conjunto .A saber :---
a)---Se se fizer regadio , mais do que um ano seguido na mesma área , de certeza que se dá uma invasão de infestantes que dificultam o desenvolvimento da cultura. São os junquilhos ,as beldroegas, escalracho,corriola, lírios , milhâ e tantos e outros , que , de ano para , aparecem cada vez mais bastas . São as pragas constituídas por afídios ,lagartas, ralos, nemátodos , etc , que devoram uma cultura num ápice ; são os míldios ,os oídios, as viroses , bolores, podridões , etc. que reduzem as plantas a algo tisnado e irreconhecível ,.Mesmo que no regadio se proceda á rotação de culturas , muitas destas pragas são comuns ás diversas plantas
O combate pode ser feito pela aplicação de pesticidas ,que o mesmo será dizer , a continuação do que presentemente se faz ,ou então proceder ao uso dos pousios ,perfeitamente possíveis entre nós
Sendo assim , integrando o regadio num sistema de afolhamentos e ,neste, numa criteriosa rotação de culturas , resulta na aplicação mínima de fertilizantes de síntese assim como na dispensa de pesticidas
Ou seja :-- de um regadio, intercalado por pousios , resulta na eliminação das ervas daninhas , por falta de mobilização do solo ; na eliminação das pragas e doenças por falta de hospedeiro compatível ; e restaura a fertilidade já que ,com a lavoura ,é sempre trazido , para a superfície, algum subsolo o qual desencadeia um processo químico que favorece a fertilidade

c)—Cultivar o quê ? É o que falta responder . O mercado das horto-frutícolas é muito inconstante em termos de preços ; o facto de serem produtos muito perecíveis ,não dão para guardar ; requer muita mão de obra que nem sempre existe ; conhecimentos e predisposição do agricultor o que nem sempre acontece .Daí que defendamos que regadio , destinado a manutenção e acabamento da pecuária na exploração , irá funcionar como âncora , retorno ou salvaguarda , sempre que determinadas culturas deixem de ser viáveis
Uma exploração que tenha determinada área de sequeiro e regadio assente no sistema designado por agro-silvo-pastorícia ,o objecto do regadio se devera ser, basicamente, para a manutenção e acabamento do gado .Assim :---
----- Beterraba forrageira , que teve uma certa importância nos meados do século passado, como alimento para bovinos leiteiros , deu hoje lugar a grandes áreas de beterraba sacarina . È muito possível que esta cultura venha a ser afectada pela concorrência da cana sacarina Regada por fitas gotejadoras conseguem-se produções enormes Trata-se de uma excelente alimento para a manutenção e engorda de bovinos de carne
---- Sorgo com regas amiúde , resultam grandes produções de matéria verde . Irrigável por sistemas de aspersão ,e pastoreada directamente ,é uma forragem muito rentável para ovinos Especialmente para borregos á desmama resultam desmamas de alto rendimento
----- Abóboras porqueiras. Uma cucurbitácea muito rústica ,tradicionalmente cultivada de sequeiro . Porem ,se de regadio , por meio de tubos gotejadores , conseguem-se produções de alguns dezenas de toneladas por hectare . Excelente para a engorda de porcos, no verão, .Com a vantagem de diminuir a periodicidade das desparasitações já que as pevides são anti-helmíticos eficazes

3--- A versatilidade do sistema A experiência já mostrou que nestas questões da economia agrária não se pode ficar á mercê das flutuações do mercado nem dos caprichos de ninguém Daí que o regadio deva ser projectado com alguma abertura e elasticidade de forma a permitir alternativas. Ou seja haver , espaço para outras iniciativas agrícolas mas mantendo aberta a retaguarda e , com ela, a possibilidade de regresso ao sistema base sempre que essas oportunidades se esvaziem
Fica-se sempre em condições de fazer contratos de horto-frutícolas, com destino ao mercado da Europa Central , já que entre nós a época hortícola ,se antecipa cerca de dois meses em relação a eles ; um contrato com uma fabrica de tomate ou pimento ,mas logo que cesse o interesse por esse negócio ,se possa regressar ao sistema base .
Não acredito na viabilidade do cultivo de milho destinado ao etanol .Os países aonde chove no verão estão melhor posicionados para o seu cultivo . Mas pode acontecer , dada a corrida ao milho geneticamente modificado , a nossa região ,não obstante não boa produtora de milho , possa vir a constituir um reduto de salvaguarda da preservação genética desta espécie .Nessa altura já pode ser viável e, então possamos destacar uma parcela, do regadio /forragem , para esse efeito.
Francisco Pândega (agricultor )
E-mail:---fjnpandega@hotmail.com;
blog:-alentejoagrorural.blogspot.com

19.5.05

Alentejo agro rural (IV)

ANTONIO BARRETO ERROU

1----- O escrito que António Barreto produziu , referindo-se à regionalização (Publico de 08.05.2005), constitui uma das análises mais absurdas e contraditórias que se possa imaginar .É daquelas que se pode afirmar que o inverso é que é verdade .António Barreto , não entende o que está subjacente a esta fórmula administrativa , daí que não devesse pronunciar-se acerca de uma questão que não domina minimamente .Este comentarista prestou um péssimo serviço ás diversas comunidades regionais que aspiram poder vir a intervir na administração do seu território, em substituição deste estranho centralismo que nos arruína completamente .

2---- Menciona o resultado do ultimo referendo ao que parece para nos convencer de que os eleitores não querem a regionalização, revelando ,com isso , uma grave falta de informação ; ao inventar os fantasmas de despesismo , aumento do numero de funcionários ou reciclagem de autarcas caídos em desuso ,é desconhecer que sendo a região o município dos municípios ,tem potencialidades para obviar eventuais faltas de honestidade ; ao defender uma administração centralizada é , alem de imoral , uma falta de respeito pelas gentes da interior .São temas que aventa para sustentar um estranho anti-regionalismo primário

a)--- Como se sabe o referendo venceu no Alentejo. Certamente devido ao facto de ser uma região perfeitamente definida ,por limites estáveis e de uma grande homogeneidade interna quer no que se refere ao meio natural quer no diz respeito ao magno problema fundiário , que aqui persiste , e que é directamente responsável pela debilidade regional .O voto negativo ,do resto do pais, deve-se á discordância com o mapa proposto mas jamais em relação ao conceito que lhe está subjacente .
Alem disso ressalta claramente uma visão urbana do problema, inconsistente e maledicente , eivado de contradições insanáveis .Enfim , o protótipo de quem não sabe do fala Este caso inscreve-se no conceito tão propalado por alguns escribas urbanos que, ignorando que há vida para alem dos grandes centro urbanos , são aliados objectivos dos grandes interesses aqui instalados que procedem a mais despudorada rapina dos recursos regionais e impedem que as gentes locais exercem a sua natural intervenção .
; Fazem coro com outros patetas úteis ,que os há sempre , que nesta matéria se põem em bicos dos pés , tantas vezes para fazer coro com os donos da sua vontade

b--- Não é justo atribuir à regionalização a incapacidade de recrutar , para os seus quadros administrativos, os melhores de entre nós .Isto porque ,sendo uma sendo uma região a autarquia da autarquias e regendo-se pelos mesmos critérios democráticos ela contem , em si mesma, a necessária capacidade regeneradora e a eficácia suficiente para impedir desvios comportamentais Por outro lado e tendo em conta que é a CCR a cúpula desse novo patamar autárquico e os presidentes das câmaras os respectivos deputados , não se vê aonde possa estar o aumento de efectivos humanos, dos custos administrativos ou de duplicação de procedimentos. Há , isso sim , um aumento de eficiência .Eficiência essa resultante do facto de termos , entre nós, o centro de decisão .
Mas não só .È sabido , porque é da natureza humana ,que sempre que as gentes sejam convidadas a participar em tarefas mobilizadoras , acontece o despoletar de um frémito exaltante ,potenciador de ímpetos edificantes , capazes de remover montanhas A regionalização pode ser o motivo arregimentador , que nos arrebate e motive ,a ressuscitar a este exangue Alentejo

c)---Qual a função da regionalização? Interrogar-se-á quem ande menos atento as estas questões de ordenamento do território ; dos aspectos agro-sociais ; ou tenha pouco interesse pelas comunidades rurais tradicionais . Convém saber que esta nova ordem não se destina a sectores tais como a justiça, ensino, segurança social , saúde, etc .Estes são sectores que funcionam transversalmente em todas as sociedades sejam elas de natureza rústicas sejam urbanas
Esta a razão pela qual muitos de nós ,porque afastada do mundo rural , não percebe a sua vital importância económica . Evidentemente que não vou aqui repetir a frase que foi dita a Clinton (é a economia estúpido ) mas digo que é fundamental para economia agrária já que esta depende do meio natural Há aqui uma questão de especificidade que não pode ser olvidada Isto porque as medidas adoptadas para uma região de certeza que não se enquadram noutras . .
Daí que no Alentejo sejamos nós quem tem o quer e saber fazer para dar sentido ao ruralismo regional. Só nós ,e mais ninguém , podemos integrar a nossa região no novo conceito de globalização. Seria a pensar em casos análogos ao nosso que a EU institucionalizou aquele pilar da sua construção designado por subsidiariedade ou seja o delegar poderes a quem, quer pela proximidade quer pelo saber fazer, faça melhor

d---Para alem das questões económicas , atrás tratadas , outras há , igualmente importantes que , também elas ,só têm solução no âmbito da regionalização
Uma ,aliás , gravíssima , prende-se com o facto de o Alentejo ,tal Eldorado dos tempos modernos , estar a ser objecto de uma estranha colonização estrangeira que afecta a nossa soberania e com gravíssimas implicações sociais
O facto da terra alentejana estar a transitar dos actuais donos , esses ilustres desconhecidos entre nós , para estrangeiros , sem a anuência dos nossos representantes regionais , é uma traição . Traição essa que só passa impune porque previamente houve o cuidado de reduzir a comunidade rural local a uma estado de abulia a raiar o vegetativo Esta transmissão do nosso espaço regional ,para alienígenas que se aproveitam da nossa desta nossa debilidade social , seria impensável em qualquer parte do mundo e por conhecidas razões , muito menos na Europa
Inseridos, como estamos , numa EU aonde as comunidade rurais ,são tratadas com desvelo , nós , enquanto enchemos os bolsos de autenticas” maquinas” de captação de subsídios , estamos apostados em debilita-las . Nós , comparativamente aos povos que prezam o seu mundo rural , somos uns autênticos predadores do espaço que os nossos antanhos nos legaram

e--- Acresce que isto , para alem de afectar a região , constitui uma grave subversão das expectativas das gentes do campos que vêm no acesso a terra o coroar dos seus projectos de vida Desde sempre, nós , rapazes das aldeias , trabalhadores nas nossa diminutas courelas , acalentemos a esperança de que , baseados no facto da detenção da terra estar em mãos erradas , acabaria por algo acontecer de forma a que , mais tarde ou mais cedo , chegasse a nossa vez .
A debandada dos campos, foi consequência da falência dessas expectativas
No campo ficaram os mais acomodados , geralmente por natureza dócil, logo incapazes de fazer o menor gesto consequente no sentido de uma reestruturação fundiária . Digo mais . Casos haverá em que uma decisão nesse sentido, para alem de ter que ter a oposição dos grandes donos de terras ,terá também a de alguns desses potenciais beneficiários Tal o estado de degradação a que se chegou

f--- Ao imporem-nos uma reforma agrária , cujo modelo colectivista não se encaixa na nossa forma de ser, e, ao que parece , na de ninguém ; ao presentemente estar a ser transferida a posse para capitalistas estrangeiros , ficam frustradas definitivamente as nossa legítimas expectativas
A nossa esperança derradeira está na regionalização já que o poder de decisão ser transferido para nós Ou seja deixar de estar concentrado no parlamento nacional , aonde , num universo de duzentos e trinta parlamentares os nossos dez não têm a menor possibilidade de fazer entender a nossa especificidade regional
Estamos a falar de terra , questão tão importante , mas tão simples de solucionar ..Perfeitamente consensual e geradora de receitas .Tão simples , tão justa e tão ao nosso alcance.

3---Um dos desígnios dos povos rurais é assumirem-se como sendo os fiéis depositários da seu espaço com a incumbência da o legar á geração seguinte .Ou seja :-- nós somos a geração intermédia entre a anterior e a que se segue Nessa conformidade não somos mais do que os depositários de um testemunho geracional que inclui usos costumes e tradições , assim como o espaço físico aonde tal de exerce.
. Ora esse desígnio tem sido cerceado .Daí a razão porque nós , como povo , andarmos macambúzios e entristecidos
É por estas e outras razões , e não obstante as premonições anti-regionalistas de António Barreto ,que importa defender a regionalização já que é instrumento com qual iremos dar sentido e vida ao Alentejo .
E-mail:---fjnpandega@hotmail.com;
blog:- alentejoagrorural.blogspot.com

11.4.05

A HORA DA VERDADE

Alentejo agrorural ( lll )

A hora da verdade

Ide a uma grande superfície comercial e vede os efeitos da globalização no comércio das horto-frutícolas , carne e legumes, e reparai nas opções aquisitivas das donas de casa
São estantes e estantes a abarrotar dos mais diferentes produtos , das mais diversas proveniências , expostos lado a lado , ao dispor dos adquirentes ,possibilitando uma escolha absolutamente livre e consciente por comparação A opção por este ou aquele produto deriva somente do trinómio preço ,qualidade e apresentação . Aquelas outras questões ,tais como o trabalhos mal remunerado , o trabalho infantil ou a preferência pelo que é nacional, são questões postergadas para outros fóruns São estas as regras e é com elas que temos que viver neste mundo globalizado Não são elas que irão mudar ,somos nós que nos temos que adaptar .

1---- Se bem que sejamos nós , os agricultores , os mais seriamente afectados , já que nos vai ser movida uma enorme concorrência , assim como o cessar dos subsídios á agricultura, por outro lado beneficia os consumidores , em geral , já que estes , aliás nós todos , vão poder adquirir alimentos mais baratos , diversificados e melhor distribuídos ao longo do ano .
Há outras razões que favoreceram a anuência da Europa á globalização ,não obstante ser muito ciosa da protecção aos seus agricultores . Como se sabe , no após ultima guerra mundial , a Europa apostou na auto-suficiência alimentar por meio da intensificação agrícola .Se bem que o resultado se tivesse pautado pela abundância e até excedentes , a forma como alguns desses alimentos são produzidos , fá-los ser de má qualidade, senão mesmo até perigosos para a saúde pública Alem disso ,essa intensificação, está a danificar o meio ambiente e a inquinar as aguas superficiais assim como as interiores .Daí a inevitabilidade da Europa abrir as portas á globalização

2--- Na verdade em agricultura tudo é possível em termos de produção .Deixa de o ser , porem , quando se tenha que viver do seu rendimento ; quando se tenham preocupações com o meio ambiente ; ou respeito pela saúde daqueles que se alimentam do que produzimos .Nessa altura é preciso ser-se profissional
Nessa altura é preciso desfazer alguma confusão que reside na cabeça de alguns técnicos :-- é a incapacidade de discernir as duas vertentes fundamentais da arte de agricultar :--- os equipamentos e o meio Os primeiros compreendem ( tractores , alfaias , ferramentas , utensílios ,cercas, ,charcas , equipamentos de rega , medicamentos ,fertilizante ,rações ,etc. ) não tem limites a necessidade de inovações tecnológicas No meio ( pousios , alqueives e regadios, afolhamentos, rotação de culturas ,encabeçamento , sementeiras , engordas, poda e regeneração de montados, preservação da caça, protecção contra incêndios ,etc. ) porque tudo isto se encontra interdependente nele só deve intervir quem tenha interesse directa na exploração e seja detentor da experiência multigeracional a qual nós , comunidade rural tradicional , somos portadores

Na destrinça destes dois factores reside a diferença entre o sucesso e o fracasso na actividade Em relação a isso comenta-se, entre nós , com alguma ironia, “:sempre que surge alguém no mundo agrícola , com inovações em relação as intervenções no meio ,é só esperar algum tempo e ver-se-á que depressa se cansa “.É uma regra que não falha .Tantas vezes perdendo os bens que herdou Outras deixando atras um rasto de incumprimentos financeiros

3—Nessa perspectiva algo tem de mudar em relação á nossa atitude agrorural .Desde as culturas que só têm em vistas a abstenção de subsídios ; o não ter em conta a rentabilidade do investimento , o desprezo pelo meio ambiente ; o estar é distância e pretender, de lá, que outros , cá , lhe viabilizem as suas taras e os seus vícios, tornou-se impraticável .Há ,pois ,em nome da verdade agrícola ,alterações substanciais a fazer .
.Daí que tenhamos que abandonar culturas como a de milho , girassol , algodão , porque de regadio e, como tal ,pertença de regiões aonde chove no verão ;a beterraba sacarina , com custos de produção muito elevados , não pode competir com as vastíssimas áreas de cana- de –açúcar ; os citrinos , porque afectados pelas frequentes geadas ,só estão livres desse perigo á beira do Mediterrâneo ; o leite tem menores custos de produção nas zonas aonde há forragens frescas durante todo o ano ; gado de raças exóticas , cujos solares têm outras características , não podem substituir as raças autóctones .
Que resta para nós ? Interrogar-se-á quem me ler . A resposta é inequívoca . Nós temos um lugar garantido , nesse comércio globalizado ,com os nossos produtos tradicionais cultivados por sistemas amigos do meio ,que nós , comunidade rural tradicional , tão bem sabemos fazer .Com a vantagem estratégica, que não é despicienda , de serem culturas usadas na nossa subsistência alimentar ,o que nos põe a salvo da inteira dependência ,e tantas vezes chantagem ,de outros consumidores .Com a vantagem, ainda , de nem sequer serem produtos perecíveis o que nos alivia das contingências ,tantas vezes imprevisíveis ,de perdas em armazém .
A nossa carne , cereais ,cortiça , vinho, azeite, horto-frutícolas , num comércio em que para produzir não haja batota , ( como por exemplo subsidiar por debaixo da mesa), porque de excelente qualidade , conseguem implantar o seu próprio nicho de mercado .

4----Desta forma ,se conseguirmos eliminar os constrangimentos que vitimam a nossa região e nos arruinam social e economicamente, nós conseguiremos superar as contingências , aliás , exaltantes , da enorme concorrência que a globalização nos impõe Verdade agrícola e adequação do meio á presença de agricultores efectivos , directos e libertos de suseranias , heis a tarefa que se nos impõe neste mundo agricolamente globalizado Mas depressa . Os perigos que espreitam a nossa inércia fazem desta “a hora da verdade “.FRANCISCO PÂNDEGA
Fjnpandega@hotmail.com-- Blog www.alentejoagrorural.blogspot.com

23.3.05

Alentejo agrorural (II)

UMA REGIÃO :---- o que é e para que serve .

1--- Uma região natural é uma unidade geo-sócio-económica ,em que diversos factores constituintes resultam numa certa homogeneidade ,. Definidos os limites ,geralmente formados por uma faixa de transição , circunscreve-se uma região individualizada com características naturais diferenciadas das circunvizinhas .Dessas condições específicas resulta geralmente um tipo de economia com base nos recursos desse mesmo meio .Meio esse que o homem molda , mas que também é moldado por ele ,dada a sua imensa capacidade de construir paisagens e de se adaptar a elas

2--- O interesse da regionalização é mais evidente nas actividades relacionadas com o meio designadamente a agricultura .Já o mesmo não acontece com um médico ,um mecânico, etc. que tanto o são nesta como noutra qualquer.
Na agricultura podem até os equipamentos ,os fertilizantes e os pesticidas, serem de uso global .Mas não o são os sistemas , as espécies ,variedades , as raças e os calendários agrícolas ,os mercados , o que nos leva a ter que aprender de novo sempre que se saia de uma para outra região
. Isto é tão evidente que, eu próprio ,não obstante o facto de ser agricultor profissional que passou pelas três fazes agrícolas (braçal, tracção animal e, por fim ,mecânica) ,sempre que fui agricultor noutras paragens (zonas equatoriais e até austral em paralelos análogos aos do Alentejo ), sempre tive que aprender tudo de novo . Até mesmo hoje , e não obstante a imensa tarimba na actividade , sempre que viajo para fora da nossa região dou por mim a concluir :-- se tivesse que aqui viver da agricultura , morreria de fome .Ora sempre que para aqui venha gente de outras regiões , a estas põe-se-lhes o mesmo problema . Pode –se daqui concluir que o estudo das comunidades agrícolas imigrantes (exceptuando alguns extremenhos ) vai desfazer uma certa auréola de eficiência Esta é uma questão que tem que ser tida em conta aquando dos projectos de repovoamento

2.a)----Muito sumariamente, e numa perspectiva globalizada, o mundo é formado por uma sucessão de regiões todas diferente entre si, Do equador para os pólos, elas vão-se sucedendo por efeitos do arrefecimento na medida em que se afasta do centro. Daí que a constituição edafo-climática de uma região na área do equador seja abissalmente diferente de uma outra mais próxima dos pólos. Mas a definição não se fica por aí. Há outros factores a entrar na equação.Se assim fosse as regiões seriam simplesmente anéis ,envolventes da terra , de acordo com os paralelos. Por essa ordem de ideias o Alentejo seria a mesma região do que a Califórnia ou a Turquia.; ou então a mesma que na África austral Mas não o é por muitas razões sendo as diferenças desta ultima devida aos efeitos da corrente fria da Antárctica que desertifica a costa ocidental ou , por outro lado , a costa do Indica mais húmida e produtiva devido ás monções
Há outros factores, para alem dos paralelos geográficas, que determinam cada região:- -- a origem marítima ou interior assim como a intensidade e direcção das correntes de ar dominantes; a formação geológica dos solos; os relevos, altitudes, planícies, encosta e exposições; Isto dá origem a diferentes regimens de chuva; diversos tipos intensidade de erosão; diferentes comunidades florestais, etc. No mesmo paralelo há ,pois , regiões muito diferentes

2.b) --- Neste tipo de raciocínio inscreve-se o Alentejo natural cuja características resultam de uma massa de ar ou vento suão, designações que podem não corresponder ás em uso na meteorologia , mas que são do conhecimento tradicional ou melhor daqueles que lhes sofrem os efeitos
. Quente e seco no verão, seco e frio no inverno, não favorece a queda de chuva, é o factor que mais marca o Alentejo. Oriundo do Mediterrâneo /norte África, penetra no Alentejo pelo vale do Guadiana, contorna, pelo norte as serras do Algarve, espraia-se ao encontro de uma outra ocorrente, massa de ar de origem atlântica , que sobe pelo vale do Tejo. Desse encontro, bem nítido no terreno, resulta a divisão das terras transtaganas com as escalabitanas; perde intensidade nas serras de S.Mamede. Inflecte ainda pelo vale do Guadiana acima nas terras extremenhas

2. c) --- É isto o Alentejo natural aonde se insere um homem, nós, com os seus traças fisiológicos resultantes de diversos factores, mas também deste mesmo meio.
É este mesmo meio que determina o nosso tipo de alimentação até há pouco com larga participação de recolecta de recursos expontâneos (, frutos, caça, peixe, raízes, condimentos, plantas medicinais, etc) o vestuário e habitação com os recursos aos materiais disponíveis; usos ,costumes, tradições e crenças muito de acordo com determinados calendários; agrupamentos familiares com graus de parentesco diversos; organizações político /administrativas segundo os interesses económicos e defensivos dessa mesma economia e desse espaço.É este meio, assim definido, que nos moldou e fez de nós aquilo que somos Ou seja , e por outras palavras ´, o homem estabeleceu, em articulação com o seu meio, uma determinada tipologia identitária única e irrepetitível, porque única e irrepetitível é a região em si mesma.
2.d)--- Porque a globalização já aí está , a regionalização tornou-se a medida para nos articularmos nela . Daí pensar, correndo o risco de ter razão antes de tempo, (o que é muito mau) de pensar ser esse o propósito da UE.
Se não repare-se .De inicio era a Europa dos povos ou regiões.Essa fórmula ficou a esperar melhor oportunidade .Percorrem-se outros caminhos para serem obtidos os mesmos propósitos . Como se sabe as regiões naturais estão repartidas por mais do que uma nação sendo esse o caso Alentejo/ Extemadura , Minho /Galiza por exemplo , entre outros
Visando esse objectivo e na impossibilidade de vencer as nações, criou-se, na Europa, o livre direito de circulação e estabelecimento; a moeda única, os programas interregues que visam harmonizar as actividades sócio-económicas em ambos os lados de uma mesma região, dividida por fronteiras nacionais; presentemente uma constituição única, etc. Tudo no sentido de fazer esvaecer as nações
É uma forma de organizar as regiões, que o mesmo será um regresso tempos idos aonde mesmo , aquando das grandes migrações o meio transformava os imigrantes Agora ,em época de globalização e tendo em conta que o meio natural pouco mudou , importa reestruturar as regiões .Isto para , alem de muitas outras razões, potenciar organizar e concentrar a produção agrícola visando conquistar o próprio espaço num mercado alargado e muito competitivo

3.--- Se até há até há pouco o interesse económico das regiões era limitado e a questão social, que lhe está inerente , não era tido em conta , hoje , perante a globalização , temos que mudar de estratégia .Ou seja fazer rapidamente aquilo que deveríamos ter feito há , pelo menos , uma geração .
Controlava-se a produção agrícola abrindo ou fechando as importações . Hoje esse instrumento deixou de ser possível tendo que optar por produções de qualidade a baixos preços e sem ferir o meio ambiente . Não há outro caminho . E, para se obter esse desiderato , têm que ser feitas , no espaço agrorural , as alterações que foram necessárias e eliminar os constrangimentos que obstruam esses propósitos . Como a estratégia é variável de região para região , assim melhor se compreende a necessidade de regionalização do Alentejo Francisco Pândega ; www.fjnpandega@hotmail.com

15.3.05

rEGIONALIZAÇÃO AINDA

Alentejo agrorural (I)
E A GLOBALIZAÇÃO / REGIONALIZAÇÃO
1--- São duas designações muito em uso ultimamente. Nem toda a gente, porem, entende o alcance de cada uma delas, nem a correlação entre si.
Regionalização é o acto ou efeito de estabelecer um patamar intermédio de governação entre o poder nacional e o poder local. Foi a base fundacional da CEE, então designada Europa dos povos ou das regiões, sendo composta por 250 regiões naturais, aquando dos quinze.É um dos seus pilares organizativos, designado por subsidariedade, que significa a delegação de poderes para os patamares inferiores (regiões) já que estes, por uma questão de proximidade, e não só, sabem fazer melhor.
A globalização, identificada pela sigla OCM (organização comum de mercados), é uma nova ordem comercial global, que visa a completa liberalização da circulação dos produtos muito principalmente os agrícolas Desde há muito defendida pela FAO com base no facto de que, se cada região produzisse e lançasse no mercado os alimentos para a qual tem vocação ecológica, cessaria a fome mundial.

2---- A globalização é, pois, uma colossal transformação comercial que tem tudo a ver com a regionalização ou vice-verso. Foi debatida no Uruguai, há cerca de uma década, aprovada, regulamentada e dado início á sua execução, anos depois, em Doha. , Neste curto lapso de tempo revolucionou a vida dos povos inclusivamente a nossa:- alentejanos.

a)--As grandes superfícies comerciais são o resultado mais visível dessa evolução, já que concentram os produtos agrícolas (e outros) das mais diversas proveniências, distribuídos regularmente por todas as regiões, durante todo o ano, bem apresentados e a preços razoáveis. Acabaram as épocas de fartura excessiva assim como os períodos de carência com as consequentes alterações de preços.Funcionam como vasos comunicantes que canalizam, a grande velocidade, produtos agrícolas oriundos das mais recônditas regiões, dispersando-os por toda à parte.Com métodos modernos de comercio a retalho, causaram grandes baixas no comércio tradicional.
Até a Praça do Geraldo, centenário centro de negócios, ás terças feiras, não se aguentou tendo sido extinto nessa função; os negócios de gado mudaram-se para as associações e outras organizações de agricultores acabando por ir , também ,para as grandes superfícies .Mesmo, ultimamente, quando o sector comercial parecia ter estabilizado, aparece o comercio chinês, com grande agressividade, muitos e variegados equipamentos a preços até então inimagináveis. Conseguiram o seu nicho de mercado Outras muitas outras alterações se sucederão que nos submergirão se não acordarmos para esta nova realidade

b)--- O facto de não nos termos regionalizado, em devido tempo, como aconteceu com os nossos parceiros comunitários, sendo a nossa vizinha Extemadura um exemplo, bem eloquente, de sucesso, demonstra claramente quão penalizados fomos. Mas por outro lado indica que é com alguma autonomia regional que se abre o caminho do sucesso já que a participação dos residentes torna a administração mais eficiente Por outro lado, alerta-nos para as dificuldades que nos esperam se adormecêramos.As debilidades do nosso mundo rurais estão expostas, Este está bloqueado. A não o alterarmos continuamos impossibilitados de reagir.

c)---- Foi para superar esses bloqueios que a comunidade despendeu verbas imensas, sob a forma de subsídios.Vinte anos depois verifica-se que a produção diminuiu, os campos estão mais desabitadas, as comunidades rurais local desfeitas, a propriedade agrícolas cada vez concentradas.Cada vez mais uma larga faixa está a ser anexada, em termos económicos, á nossa vizinha Espanha.A sua situação económica permite-lhe fazer financiamento para aquisição de tudo o que é alentejano mais parecendo uma acintosa forma de aproveitamento da nossa debilidade financeira, da nossa irresponsabilidade fundiária e da nossa inconsciência agrorural.
É por aí que se tem que começar.
Temos que diferenciar dois tipos de empresas:- -- as não agrícolas que se instalam em cima, na cave, ao lado; deslocalizam-se, falem, prosperam, estão em constante movimento; a força do mercado obriga a uma certa assiduidade e profissionalismo, caso contrario elimina os inaptos.
Com a terra não. Um possuídor de terras é imune ás forças do mercado.Até mesmo o mais impenitente absentista se mantém na posse da terra indefinidamente. Basta parar, e abandonar, meter a chave no bolso e entregar ás autoridades à guarda do seu património.Retirando a terra da sua função agro-social é uma forma de coarctar os movimentos das gentes das aldeias, coagi-las á humilhante servidão de tão má memória ,enfraquece-las e provocar a desertificação humana .
A regionalização, como forma de governação democrática na qual participam as gentes locais, é a maneira de eliminar estes constrangimentos.A globalização que funciona como vasos comunicantes, encarrega-se de preencher, por estranhos, esse vazio humano É esse o panorama a que se assiste no Alentejo.
O tempo de despertar para esta realidade está a findar. Temos sobre a nossa cabeça uma espada de Dâmocles que se chama globalização /regionalização.

3----- Defendo que a superação dos nossos problemas passa pela defesa, a todo o transe, do nosso espaço regional e nele se dê prioridade ao sector agrícola. A partir daí, tal como cogumelos instalar-se-ão uma vasta panóplia de actividades destinadas à agricultura, outras dela derivadas É o mundo rural a proceder livremente à humanização do meio de uma forma autónoma e auto-suficiente.
Importa, porem, reservar, para nós, a terra, ou seja, o espaço vital aonde se exerce a nossa regionalidade, como, aliás, fazem os nossos parceiros comunitários, já que está em moda referir-nos a eles . O livre direito de estabelecimento está assumido por todos.Mas, na prática, está a funcionar unilateralmente --eles compram o Alentejo e nós não compramos, na terra deles, nem um metro.Era só o que faltava como certamente dirão.
Mantendo-a, a recuperação é possível. Perdendo-a espera-nos a servidão aos seus detentores
Quem dominar a terra domina tudo.De resto, nós, alentejanos, temos disso uma amarga experiência. O nosso espaço agrícola foi ocupado em 1836.Limitados no acesso á terra a nossa comunidade rural enfraqueceu, perdeu a identidade, a combatividade e debandou. Somos meio milhão. Mas se tivéssemos tido um percurso político mais vertical, tal como o da Estremadura, teríamos quintuplicado a população e seriamos uma região próspera Assim estamos nos seus antípodas.Voltamos ao assunto FRANCISCO PÂNDEGA ---

17.2.05

CAVACO SILVA e o Alentejo profundo

Não me esforço por perceber as opiniões Cavaco em relação ao PS .Analiso ,sim , a acção desta abominável personagem , em relação ao Alentejo ,para concluir :------ Evidentemente que a reforma agraria ,tal como foi instaurada , foi um erro .Contudo poder-se-ia ter convertido numa agricultura individual de dimensão humana e, a partir daí , dar-se nova vida ao Alentejo , tal como fez a vizinha Estremadura .Mas não. Essa desprezível criatura optou pela devolução de tudo aos detestáveis latifundiários ,ou seja o retorno aos responsáveis pela devastação social da nossa região . O resultados foi a instalação de uma gravíssima crise sócio-económica ; um crescendo do êxodo , e consequente depovoamento , das gentes autóctones ; a depredação dos fundos comunitários ,; enfim ,a mais grave crise existencial dos últimos tempos .O governo desta incrível criatura coincidiu ,precisamente, quando mais se necessitava de um governo com sentido patriótico que privilegiasse o uso da terra (não importa a passe ) por parte daqueles que vivem dela e para ela . Foi o inverso que aconteceu .O chão sagrado alentejano, ao ter voltado à posse dessas famigeradas criaturas ,iniciou um ciclo de apressada transferência para os espanhóis que o mesmo será dizer a transferência , da nossa, para outras soberanias .FP.Do blog---- alentejoagrorural.blogspot.com

16.2.05

CARO AMIGO --falando de Cavaco Silva

Não tenho a honra de o conhecer para , pessoalmente, melhor lhe agradecer o seu comentário .
É verdade que neste mesmo blog ( alentejoagrorural.blogspot.com) , ao falar da acção governativa de Cavaco ,deveria tê-lo feito com uma adjectivação mais comedida. Deveria reconhecer que há pessoas, porque destituídas de sensibilidade para os problemas agro –rurais , não sabem quão nefasta foi a sua acção agro-fundiária , no pós reforma agraria Não sabem ,pois , quão difícil é contermo-nos ao referirmo-nos a ele.Sucessor de Sá Carneiro não podia ,deste forma , alegar desconhecer a solução para o Alentejo já que aquele saudoso político havia-a legado .Preferiu optar pela retoma de um passado agro-fundiário que foi , e continua a ser , a razão dos nossos males e que nos está a conduzir para a perda da soberania , deste precioso naco, que é o nosso Alentejo .

Como alentejano rural , agricultor directo , que nos anos cinquenta viu interrompida a sua permanência ,nesta que é a nossa região ; que durante um quarto de século de ausência carpiu, transido de saudades , daquele sofrimento que nos prostra de dor ., leva-me a não abdicar de denunciar , aqueles que claramente estão na origem da injusta situação porque passa a nossa região tentando advertir outros a que evitem que lhe aconteça aquilo porque eu passei .Com o único objectivo de lembrar aos nossos filhos que ,agora que há liberdade de expressão e acção , podem e devem ser mais eficazes do foi a minha geração

Sabendo da enorme capacidade agrícola , claramente subaproveitada , da nossa região que assim permanece devido a esta injustiça fundiária , tenho o direito denunciar quem obstaculize a persecução da função terra como factor de bem estar rural
.È que fiz parte , como seareiro (na casa de meu pai , já que então eu era ainda moço ) desses heróis que fizeram do Alentejo o celeiro do país ,nas herdades de alguém que , algures , procedia a mais vil exploração, até á extinção , daquela que foi a classe agrícola mais heróica, mais articulada com o meio que uma nação pode almejar

Sabido que a solução do Alentejo reside no estabelecimento de agricultores directos que povoem os campos ,tudo o que se possa fazer para favorecer a sua instalação deve merecer o nosso empenho .Ou , por outras palavras ,tudo o que se possa fazer contra quem obstaculize esse desiderato, é um serviço que se presta á nossa região

Em relação aos comunistas eu divido-os em dois grupos distintos :-- os trabalhadores rurais , essa classe de gente á qual tenho a honra de pertencer , que foi usada ,por revolucionários idiotas e sem escrúpulos , ao serviço de um colectivismo agrícola absurdo, senão mesmo infame , essa gente não sabe o que faz e muito menos não consegue entender as enormes ameaças que sobre si impendem
Os outros ,cuja acção se deveria circunscrever ao operariado das industrias da periferia grandes cidades ,longe dos campos , deve ser impedida de intervir no mundo rural alentejano
Esses e Cavaco Silva , porque objectivamente aliados , se bem que em campos opostos , constituem os extremos exacerbados e os maiores responsáveis pela actual situação do Alentejo .- Porque ambos , as duas faces da mesma moeda ,porque falsa , deve ser impedida de circular entre nós . Porque os causadores das dificuldades porque passamos , devem ser denunciados e prescindir das suas considerações , já que inadequadas para reconstrução deste despedaçado Alentejo.
e-mail--- www.fjnpandega@hotmail.com
Regionalização
Quanto a mim , a primeira decisão a tomar , logo que o PS aceda ao governo , será o estabelecimento da regionalização. Dado que a nossa região tem características especificas , irrepetitíveis em lado algum ,e porque graves ameaças impendem sobre a sua soberania , a institucionalização da região tem que ser urgente e a solução dos seus múltiplos problemas passar por nós
Urgente porque são enormes desafios com que estamos confrontados os quais ,por isso mesmo , não se compadecem com a morosidade de um referendo ,alem de que , por imperativo constitucional, ele é dispensável .Passar por nós porque , dada a especificidade dos problemas , aqui existentes , só nós temos o saber e querer para resolve-los .
Felizmente, para nós, dada a coincidência dos limites da região histórico/natural com os da região política/administrativa e ainda com os da CCR e das direcções regionais , nós temos a tarefa facilitada Ao que parece , outras regiões experimentam algumas dificuldades na sua implementação . Isso não deve, porem , afectar o nosso percurso .O nosso processo, podendo até constituir uma experiência piloto , é facílimo Mais uma razão para não ser postergado .Francisco Pândega
publicado no site PS-Évora –18.01.05
Voltando á regionalização ,com especial incidência no sector agrícola ,citamos o blog :-- alentejoagrorural.blogspot.com ,"Porem, as causas deste mau estar, no Alentejo, que derivam da estática posse da terra e do seu mau uso agro-social ,resultam num tabu como se tratasse de um tema sacrossanto que diaboliza quem o põe em causa"

Dispondo a região de tão vasto e riquíssimo território , sem que o mesmo faça parte dos projectos dos políticos ,como solução deste imenso atoleiro socio-económco para onde nos estão a empurrar ,só pode ser resultado do desconhecimento das suas incomensuráveis potencialidades ou receio de enfrentar o imobilismo aqui instalado
É um debate , com muito interesse , que tem que ser travado neste partido ,o único com condições de aceder ao governo e que tudo devemos fazer para que governe bem


publicado no site do PS-Évora-17.01.05
O desenvolvimento de Évora , assim como o de todo o Alentejo , passa pela estabelecimento da regionalização no conceito de subsidariedade que daí deriva .A partir daí desbloquear-se-á o sector agrícola base fundamental para um enorme desenvolvimento regional auto-sustentável . Os nossos filhos orgulhar-se-ão da nossa acção já que lhe legamos um Alentejo aonde mereça a pena viver .Francisco Pândega
R
O desemprego
Evidentemente que o presente governo está deixar armadilhada a governação O recurso aos subsídios de desemprego será uma solução provisória . O perdurável será desbloquear a economia , a nível regional , de forma a que cada região , de acordo com os seus recursos , possa resolver as situações dando prioridade ao auto-emprego
No Alentejo será por meio de desbloquear o uso da terra .cuja capacidade de auto-emprego é praticamente ilimitada . A fórmula deverá ser a defendida nesta blog sendo mais simples do que á primeira vista possa parecer. Francisco Pândega
A agricultura – uma solução sócio-económica perfeitamente ao nosso alcance
Com base na agricultura e na multiplicidade de actividades que ela potencia , a Extremadura , com uma superfície semelhante á nossa mas sem costa marítima , tem dois e meio milhões de habitantes que vivem plenamente a vida como ela deve ser vivida .
Sem custos , mas tão só com coragem , nós , no nosso Alentejo, poderíamos igualar , numa única geração , o elevado desenvolvimento dessa a outra metade do Alentejo natural ( a Extremadura ) .
Tal como uma poderosa locomotiva , a agricultura pode arrastar , atrás de si, tudo o que podemos imaginar :--- produzir produtos agro - silvo –pecuários , industrializando-os e comercializando - os ; ter uma famosa universidade vocacionada neste ramo da actividade , investigando, ensinando e divulgando o muito que o agricultura necessita; decuplicar a sua população com perfeita instalação e integração ;etc.
Com um clima excelente ,temperado , regular e previsível ; solos ricos e planos sendo totalmente agrícolas ; agua potável regularmente distribuída , quanto basta ; sem problemas étnicos / rácicos ; sem nada negativo , o que precisamos para ser prósperos ? Coragem. Somente coragem .. Blog-alentejoagrorural.blogspot.com---- fjnpandega@hotmail.com
Transcrito do site PS-Évora –18.01.05
Voltando á regionalização ,com especial incidência no sector agrícola ,citamos o blog :-- alentejoagrorural.blogspot.com ,"Porem, as causas deste mau estar, no Alentejo, que derivam da estática posse da terra e do seu mau uso agro-social ,resultam num tabu como se tratasse de um tema sacrossanto que diaboliza quem o põe em causa"

Dispondo a região de tão vasto e riquíssimo território , sem que o mesmo faça parte dos projectos dos políticos ,como solução deste imenso atoleiro socio-económco para onde nos estão a empurrar ,só pode ser resultado do desconhecimento das suas incomensuráveis potencialidades ou receio de enfrentar o imobilismo aqui instalado
É um debate , com muito interesse , que tem que ser travado neste partido ,o único com condições de aceder ao governo e que tudo devemos fazer para que governe bem .Francisco Pândega


Transcrito do site do PS-Évora-17.01.05
O desenvolvimento de Évora , assim como o de todo o Alentejo , passa pela estabelecimento da regionalização no conceito de subsidariedade que daí deriva .A partir daí desbloquear-se-á o sector agrícola base fundamental para o desejável desenvolvimento regional auto-sustentável . Os nossos filhos orgulhar-se-ão da nossa acção já que lhe podemos vir a legar um Alentejo aonde mereça a pena viver .Francisco Pândega
Alentejoagrorural
E a cidade e os campos



1---- Comenta-se , entre quem tem alguma sensibilidade para questões sócio - económicas ,o facto da Extremadura espanhola , sendo a mesma região natural do Alentejo , com sensivelmente a mesma área , sem as vantagens do acesso ao mar e que há sete décadas era, em tudo, equiparada nós , ser hoje uma economia próspera ao contrario da nossa incrivelmente debilitada . A explicação está na sua opção pela agricultura para onde converge todo o seu esforço Desenvolve-se exponencialmente quer em termos de produção quer de produtividade do qual resulta num bem visível bem-estar Ate no rosto das pessoas transparece um certo prazer de viver , contrastando com o nossos modos inseguros e acabrunhados Essa forma de estar traduz-se em vantagens demográficas cuja população já ascende ao quíntuplo da nossa .È ,de facto, um exemplo de sucesso que , por comparação com a nossa ineficiência , nos deveria fazer corar de vergonha

2---- A Extremadura constitui-se ,.há algum tempo , numa região com autonomia administrativa que tem feito a sua grandeza .Enquanto que nós ainda discutimos se devemos ou não regionalizar a nossa região . Obtida a capacidade de intervir no seu meio, ordenou o seu espaço rural , de acordo com as necessidades locais .Nós ,Alentejo , sendo mais de metade do espaço agrícola nacional , somos representado por dez deputados num universo de duzentos e trinta .Ou seja são duzentos e vinte que não percebem os nossos problemas, não gostam de nós , não havendo forma de os convencer a cooperar connosco .no reordenamento rural , condição indispensável para o nosso desenvolvimento agro-social
A Extremadura foi palco , entre os anos trinta e sete /quarenta , de uma violentíssima e sangrenta revolução com reforma agrária associada . Obtida a paz e aproveitando as alterações fundiárias , atribuíram terras aos agricultores , povoando os campos Estabeleceu-se um plano de regadio a partir do Guadiana . Foi a solução adequada há época , potenciando sinergias ou seja uma multiplicidade de actividades destinadas á agricultura ou dela derivadas
.Contrastando connosco que tivemos uma revolução de cravos que ,embora tenha interferido a nível das grandes propriedades agrícolas , não tiramos partido dessa circunstância .Foi , pois , uma oportunidade perdida .

3---- Ao que parece o nosso mal tem sido o ter deixado debilitar excessivamente a comunidade rural residente .Com isso deixamos o campo aberto a um pequeno numero de grandes proprietários cujos propósitos são os seus interesses pessoais indiferentes ao desenvolvimento da região Para melhor se avaliar todo seu poder , ilustra-se com um facto passado entre Franco e Salazar O primeiro mostrava os planos de povoamento e irrigação da bacia do Guadiana espanhol de onde nasceu a ideia de Alqueva Entusiasmado ,Salazar convocou uma reunião com os lavradores alentejanos, em Beja , afim de lhe dar conta do seu projecto de desenvolvimento do Alentejo , obviamente a partir das terras deles .Não só obteve uma recusa peremptória de cooperação , como um enorme escarcéu em volta dos auto- proclamados sagrados direito á terra , tudo envolto em tais ameaças que levaram o velho ditador a desistir do projecto.
De fracasso em fracasso chegamos aos dias de hoje com uma Alentejo fragilizado , uma população que tem debandado e a perda irreversível da comunidade rural da década cinquenta .

4-----. ----- È por causa desta e doutras incapacidades da administração ,que situação política é absolutamente adversa a produção .Podemos até caricatura-la ,sem grande exagero ,assim:--- Uma população que abomina o mundo rural e se refugia nos povoados preferencialmente nas maiores cidades .Vive em função das receitas de empregos no estado , das reformas , da segurança social ou de actividades particulares destinadas a manutenção desses mesmos grupos sociais . Deixando os campos na posse de um reduzido numero de herdeiros ou adquirentes /especuladores , agora que o filão da PAC está a esgotar , vão procedendo á sua alienação para os desenvolvidos espanhóis ,com uma economia sólida e necessidade de se expandirem .
Desta forma , instalados nos povoados , não percebemos o que nos está acontecer nem sequer somos capazes de avaliar o quanto está em causa .
O pior será quando a torneira que viabiliza essa vida citadina começar a fechar e concluirmos que há vida para alem do ciclo restrito das cidades Depois é só constatar que do nosso alheamento resultou na ocupação do nosso espaço vital para onde temos que ir ao serviços de outrem . Nós ,os que já estivemos emigrados , sabemos como é . Os que não tiveram necessidade de ter saído , vão ficar a saber .Depois não se queixem FRANCISCO PANDEGA