15.3.05

rEGIONALIZAÇÃO AINDA

Alentejo agrorural (I)
E A GLOBALIZAÇÃO / REGIONALIZAÇÃO
1--- São duas designações muito em uso ultimamente. Nem toda a gente, porem, entende o alcance de cada uma delas, nem a correlação entre si.
Regionalização é o acto ou efeito de estabelecer um patamar intermédio de governação entre o poder nacional e o poder local. Foi a base fundacional da CEE, então designada Europa dos povos ou das regiões, sendo composta por 250 regiões naturais, aquando dos quinze.É um dos seus pilares organizativos, designado por subsidariedade, que significa a delegação de poderes para os patamares inferiores (regiões) já que estes, por uma questão de proximidade, e não só, sabem fazer melhor.
A globalização, identificada pela sigla OCM (organização comum de mercados), é uma nova ordem comercial global, que visa a completa liberalização da circulação dos produtos muito principalmente os agrícolas Desde há muito defendida pela FAO com base no facto de que, se cada região produzisse e lançasse no mercado os alimentos para a qual tem vocação ecológica, cessaria a fome mundial.

2---- A globalização é, pois, uma colossal transformação comercial que tem tudo a ver com a regionalização ou vice-verso. Foi debatida no Uruguai, há cerca de uma década, aprovada, regulamentada e dado início á sua execução, anos depois, em Doha. , Neste curto lapso de tempo revolucionou a vida dos povos inclusivamente a nossa:- alentejanos.

a)--As grandes superfícies comerciais são o resultado mais visível dessa evolução, já que concentram os produtos agrícolas (e outros) das mais diversas proveniências, distribuídos regularmente por todas as regiões, durante todo o ano, bem apresentados e a preços razoáveis. Acabaram as épocas de fartura excessiva assim como os períodos de carência com as consequentes alterações de preços.Funcionam como vasos comunicantes que canalizam, a grande velocidade, produtos agrícolas oriundos das mais recônditas regiões, dispersando-os por toda à parte.Com métodos modernos de comercio a retalho, causaram grandes baixas no comércio tradicional.
Até a Praça do Geraldo, centenário centro de negócios, ás terças feiras, não se aguentou tendo sido extinto nessa função; os negócios de gado mudaram-se para as associações e outras organizações de agricultores acabando por ir , também ,para as grandes superfícies .Mesmo, ultimamente, quando o sector comercial parecia ter estabilizado, aparece o comercio chinês, com grande agressividade, muitos e variegados equipamentos a preços até então inimagináveis. Conseguiram o seu nicho de mercado Outras muitas outras alterações se sucederão que nos submergirão se não acordarmos para esta nova realidade

b)--- O facto de não nos termos regionalizado, em devido tempo, como aconteceu com os nossos parceiros comunitários, sendo a nossa vizinha Extemadura um exemplo, bem eloquente, de sucesso, demonstra claramente quão penalizados fomos. Mas por outro lado indica que é com alguma autonomia regional que se abre o caminho do sucesso já que a participação dos residentes torna a administração mais eficiente Por outro lado, alerta-nos para as dificuldades que nos esperam se adormecêramos.As debilidades do nosso mundo rurais estão expostas, Este está bloqueado. A não o alterarmos continuamos impossibilitados de reagir.

c)---- Foi para superar esses bloqueios que a comunidade despendeu verbas imensas, sob a forma de subsídios.Vinte anos depois verifica-se que a produção diminuiu, os campos estão mais desabitadas, as comunidades rurais local desfeitas, a propriedade agrícolas cada vez concentradas.Cada vez mais uma larga faixa está a ser anexada, em termos económicos, á nossa vizinha Espanha.A sua situação económica permite-lhe fazer financiamento para aquisição de tudo o que é alentejano mais parecendo uma acintosa forma de aproveitamento da nossa debilidade financeira, da nossa irresponsabilidade fundiária e da nossa inconsciência agrorural.
É por aí que se tem que começar.
Temos que diferenciar dois tipos de empresas:- -- as não agrícolas que se instalam em cima, na cave, ao lado; deslocalizam-se, falem, prosperam, estão em constante movimento; a força do mercado obriga a uma certa assiduidade e profissionalismo, caso contrario elimina os inaptos.
Com a terra não. Um possuídor de terras é imune ás forças do mercado.Até mesmo o mais impenitente absentista se mantém na posse da terra indefinidamente. Basta parar, e abandonar, meter a chave no bolso e entregar ás autoridades à guarda do seu património.Retirando a terra da sua função agro-social é uma forma de coarctar os movimentos das gentes das aldeias, coagi-las á humilhante servidão de tão má memória ,enfraquece-las e provocar a desertificação humana .
A regionalização, como forma de governação democrática na qual participam as gentes locais, é a maneira de eliminar estes constrangimentos.A globalização que funciona como vasos comunicantes, encarrega-se de preencher, por estranhos, esse vazio humano É esse o panorama a que se assiste no Alentejo.
O tempo de despertar para esta realidade está a findar. Temos sobre a nossa cabeça uma espada de Dâmocles que se chama globalização /regionalização.

3----- Defendo que a superação dos nossos problemas passa pela defesa, a todo o transe, do nosso espaço regional e nele se dê prioridade ao sector agrícola. A partir daí, tal como cogumelos instalar-se-ão uma vasta panóplia de actividades destinadas à agricultura, outras dela derivadas É o mundo rural a proceder livremente à humanização do meio de uma forma autónoma e auto-suficiente.
Importa, porem, reservar, para nós, a terra, ou seja, o espaço vital aonde se exerce a nossa regionalidade, como, aliás, fazem os nossos parceiros comunitários, já que está em moda referir-nos a eles . O livre direito de estabelecimento está assumido por todos.Mas, na prática, está a funcionar unilateralmente --eles compram o Alentejo e nós não compramos, na terra deles, nem um metro.Era só o que faltava como certamente dirão.
Mantendo-a, a recuperação é possível. Perdendo-a espera-nos a servidão aos seus detentores
Quem dominar a terra domina tudo.De resto, nós, alentejanos, temos disso uma amarga experiência. O nosso espaço agrícola foi ocupado em 1836.Limitados no acesso á terra a nossa comunidade rural enfraqueceu, perdeu a identidade, a combatividade e debandou. Somos meio milhão. Mas se tivéssemos tido um percurso político mais vertical, tal como o da Estremadura, teríamos quintuplicado a população e seriamos uma região próspera Assim estamos nos seus antípodas.Voltamos ao assunto FRANCISCO PÂNDEGA ---

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