Alentejo agrorural (II)
UMA REGIÃO :---- o que é e para que serve .
1--- Uma região natural é uma unidade geo-sócio-económica ,em que diversos factores constituintes resultam numa certa homogeneidade ,. Definidos os limites ,geralmente formados por uma faixa de transição , circunscreve-se uma região individualizada com características naturais diferenciadas das circunvizinhas .Dessas condições específicas resulta geralmente um tipo de economia com base nos recursos desse mesmo meio .Meio esse que o homem molda , mas que também é moldado por ele ,dada a sua imensa capacidade de construir paisagens e de se adaptar a elas
2--- O interesse da regionalização é mais evidente nas actividades relacionadas com o meio designadamente a agricultura .Já o mesmo não acontece com um médico ,um mecânico, etc. que tanto o são nesta como noutra qualquer.
Na agricultura podem até os equipamentos ,os fertilizantes e os pesticidas, serem de uso global .Mas não o são os sistemas , as espécies ,variedades , as raças e os calendários agrícolas ,os mercados , o que nos leva a ter que aprender de novo sempre que se saia de uma para outra região
. Isto é tão evidente que, eu próprio ,não obstante o facto de ser agricultor profissional que passou pelas três fazes agrícolas (braçal, tracção animal e, por fim ,mecânica) ,sempre que fui agricultor noutras paragens (zonas equatoriais e até austral em paralelos análogos aos do Alentejo ), sempre tive que aprender tudo de novo . Até mesmo hoje , e não obstante a imensa tarimba na actividade , sempre que viajo para fora da nossa região dou por mim a concluir :-- se tivesse que aqui viver da agricultura , morreria de fome .Ora sempre que para aqui venha gente de outras regiões , a estas põe-se-lhes o mesmo problema . Pode –se daqui concluir que o estudo das comunidades agrícolas imigrantes (exceptuando alguns extremenhos ) vai desfazer uma certa auréola de eficiência Esta é uma questão que tem que ser tida em conta aquando dos projectos de repovoamento
2.a)----Muito sumariamente, e numa perspectiva globalizada, o mundo é formado por uma sucessão de regiões todas diferente entre si, Do equador para os pólos, elas vão-se sucedendo por efeitos do arrefecimento na medida em que se afasta do centro. Daí que a constituição edafo-climática de uma região na área do equador seja abissalmente diferente de uma outra mais próxima dos pólos. Mas a definição não se fica por aí. Há outros factores a entrar na equação.Se assim fosse as regiões seriam simplesmente anéis ,envolventes da terra , de acordo com os paralelos. Por essa ordem de ideias o Alentejo seria a mesma região do que a Califórnia ou a Turquia.; ou então a mesma que na África austral Mas não o é por muitas razões sendo as diferenças desta ultima devida aos efeitos da corrente fria da Antárctica que desertifica a costa ocidental ou , por outro lado , a costa do Indica mais húmida e produtiva devido ás monções
Há outros factores, para alem dos paralelos geográficas, que determinam cada região:- -- a origem marítima ou interior assim como a intensidade e direcção das correntes de ar dominantes; a formação geológica dos solos; os relevos, altitudes, planícies, encosta e exposições; Isto dá origem a diferentes regimens de chuva; diversos tipos intensidade de erosão; diferentes comunidades florestais, etc. No mesmo paralelo há ,pois , regiões muito diferentes
2.b) --- Neste tipo de raciocínio inscreve-se o Alentejo natural cuja características resultam de uma massa de ar ou vento suão, designações que podem não corresponder ás em uso na meteorologia , mas que são do conhecimento tradicional ou melhor daqueles que lhes sofrem os efeitos
. Quente e seco no verão, seco e frio no inverno, não favorece a queda de chuva, é o factor que mais marca o Alentejo. Oriundo do Mediterrâneo /norte África, penetra no Alentejo pelo vale do Guadiana, contorna, pelo norte as serras do Algarve, espraia-se ao encontro de uma outra ocorrente, massa de ar de origem atlântica , que sobe pelo vale do Tejo. Desse encontro, bem nítido no terreno, resulta a divisão das terras transtaganas com as escalabitanas; perde intensidade nas serras de S.Mamede. Inflecte ainda pelo vale do Guadiana acima nas terras extremenhas
2. c) --- É isto o Alentejo natural aonde se insere um homem, nós, com os seus traças fisiológicos resultantes de diversos factores, mas também deste mesmo meio.
É este mesmo meio que determina o nosso tipo de alimentação até há pouco com larga participação de recolecta de recursos expontâneos (, frutos, caça, peixe, raízes, condimentos, plantas medicinais, etc) o vestuário e habitação com os recursos aos materiais disponíveis; usos ,costumes, tradições e crenças muito de acordo com determinados calendários; agrupamentos familiares com graus de parentesco diversos; organizações político /administrativas segundo os interesses económicos e defensivos dessa mesma economia e desse espaço.É este meio, assim definido, que nos moldou e fez de nós aquilo que somos Ou seja , e por outras palavras ´, o homem estabeleceu, em articulação com o seu meio, uma determinada tipologia identitária única e irrepetitível, porque única e irrepetitível é a região em si mesma.
2.d)--- Porque a globalização já aí está , a regionalização tornou-se a medida para nos articularmos nela . Daí pensar, correndo o risco de ter razão antes de tempo, (o que é muito mau) de pensar ser esse o propósito da UE.
Se não repare-se .De inicio era a Europa dos povos ou regiões.Essa fórmula ficou a esperar melhor oportunidade .Percorrem-se outros caminhos para serem obtidos os mesmos propósitos . Como se sabe as regiões naturais estão repartidas por mais do que uma nação sendo esse o caso Alentejo/ Extemadura , Minho /Galiza por exemplo , entre outros
Visando esse objectivo e na impossibilidade de vencer as nações, criou-se, na Europa, o livre direito de circulação e estabelecimento; a moeda única, os programas interregues que visam harmonizar as actividades sócio-económicas em ambos os lados de uma mesma região, dividida por fronteiras nacionais; presentemente uma constituição única, etc. Tudo no sentido de fazer esvaecer as nações
É uma forma de organizar as regiões, que o mesmo será um regresso tempos idos aonde mesmo , aquando das grandes migrações o meio transformava os imigrantes Agora ,em época de globalização e tendo em conta que o meio natural pouco mudou , importa reestruturar as regiões .Isto para , alem de muitas outras razões, potenciar organizar e concentrar a produção agrícola visando conquistar o próprio espaço num mercado alargado e muito competitivo
3.--- Se até há até há pouco o interesse económico das regiões era limitado e a questão social, que lhe está inerente , não era tido em conta , hoje , perante a globalização , temos que mudar de estratégia .Ou seja fazer rapidamente aquilo que deveríamos ter feito há , pelo menos , uma geração .
Controlava-se a produção agrícola abrindo ou fechando as importações . Hoje esse instrumento deixou de ser possível tendo que optar por produções de qualidade a baixos preços e sem ferir o meio ambiente . Não há outro caminho . E, para se obter esse desiderato , têm que ser feitas , no espaço agrorural , as alterações que foram necessárias e eliminar os constrangimentos que obstruam esses propósitos . Como a estratégia é variável de região para região , assim melhor se compreende a necessidade de regionalização do Alentejo Francisco Pândega ; www.fjnpandega@hotmail.com
23.3.05
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1 comentário:
Por todos os outros mas especialmente por este texto, o senhor Pandega deve ser objecto de um "Doutoramento Honoris Causa" !!!!
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