Alentejo agro-rural ( V)
ALQUEVA ---semear o quê para vender a quem?
1--- As condicionantes do regadio A globalização; os novos critérios nos apoios comunitários; o perigo para a saúde pública com origem nos alimentos; a necessidade de povoar e, consequentemente, exercer a soberania do território; as preocupações ambientais; entre outras; obrigam a uma revisão dos conceitos de produção agrícola, seja ela de sequeiro seja de regadio . Obriga a que, sempre que se tomem decisões , neste domínio, se faça esta pergunta: -- semear o quê para vender a quem ?
a) --- Sem preocupações com a qualidade, produzir, hoje, é facílimo. Podem ser produzidas plantas num caixote de areia inerte, que funciona como suporte. Depois é juntar agua e micro nutrientes, administrados especialmente pela via foliar, e acompanhar com pesticidas. Podem ser criados animais enjaulados, privando-os da sua condição animal, para tanto basta dar-se agua e alimentos concentrados, vitaminas, antibióticos e anabolizantes.
Em ambos os casos o resultado é invariavelmente: --- produtos alimentares descaracterizados, senão mesmo decepcionantes , em termos de palatibilidade e, quiçá, perigosos para a saúde de quem os ingere b) – Sem preocupações ambientais, podem-se produzir grandes quantidades de produtos agro-alimentares desde que não se tenha em conta a preservação dos montados, a defesa dos solos contra a erosão, o seu empobrecimento pela via da exaustão; a conspurcação das águas, quer subterrâneas quer superficiais, como acontece nos locais aonde se procede a uma agricultura ou pecuária super intensiva Entre nós já se verificam agressões ambientais A maior das quais , foi a resultante das campanhas cerealíferas, no final dos anos vinte, cujos danos ambientais foram muito gravosos . De tal maneira que ,ainda hoje ,são bem visíveis na desflorestação, pobreza dos solos e falta de água, com especial incidência, a sul do Baixo Alentejo.
c)-- Sem preocupações com os custos de produção, o que acontece sempre que haja um certo tipo de subsidiação ou que os mercados sejam condicionados . Neste mundo globalizado, em que diariamente nos entram , pelas portas dentro , produtos oriundos de aonde hajam condições ecológicas favoráveis , obrigam-nos a fazer uma revisão da nossa estratégia , em termos de programação agrícola .
2---Instalação do regadio .Quer tenha origem na água da barragem de Alqueva ,seja proveniente de outras captações , também ele está absolutamente condicionado por aqueles três factores ( qualidade , ambiente e custos ) . Porque indissociáveis , entre si, terão que ser tratados em conjunto .A saber :---
a)---Se se fizer regadio , mais do que um ano seguido na mesma área , de certeza que se dá uma invasão de infestantes que dificultam o desenvolvimento da cultura. São os junquilhos ,as beldroegas, escalracho,corriola, lírios , milhâ e tantos e outros , que , de ano para , aparecem cada vez mais bastas . São as pragas constituídas por afídios ,lagartas, ralos, nemátodos , etc , que devoram uma cultura num ápice ; são os míldios ,os oídios, as viroses , bolores, podridões , etc. que reduzem as plantas a algo tisnado e irreconhecível ,.Mesmo que no regadio se proceda á rotação de culturas , muitas destas pragas são comuns ás diversas plantas
O combate pode ser feito pela aplicação de pesticidas ,que o mesmo será dizer , a continuação do que presentemente se faz ,ou então proceder ao uso dos pousios ,perfeitamente possíveis entre nós
Sendo assim , integrando o regadio num sistema de afolhamentos e ,neste, numa criteriosa rotação de culturas , resulta na aplicação mínima de fertilizantes de síntese assim como na dispensa de pesticidas
Ou seja :-- de um regadio, intercalado por pousios , resulta na eliminação das ervas daninhas , por falta de mobilização do solo ; na eliminação das pragas e doenças por falta de hospedeiro compatível ; e restaura a fertilidade já que ,com a lavoura ,é sempre trazido , para a superfície, algum subsolo o qual desencadeia um processo químico que favorece a fertilidade
c)—Cultivar o quê ? É o que falta responder . O mercado das horto-frutícolas é muito inconstante em termos de preços ; o facto de serem produtos muito perecíveis ,não dão para guardar ; requer muita mão de obra que nem sempre existe ; conhecimentos e predisposição do agricultor o que nem sempre acontece .Daí que defendamos que regadio , destinado a manutenção e acabamento da pecuária na exploração , irá funcionar como âncora , retorno ou salvaguarda , sempre que determinadas culturas deixem de ser viáveis
Uma exploração que tenha determinada área de sequeiro e regadio assente no sistema designado por agro-silvo-pastorícia ,o objecto do regadio se devera ser, basicamente, para a manutenção e acabamento do gado .Assim :---
----- Beterraba forrageira , que teve uma certa importância nos meados do século passado, como alimento para bovinos leiteiros , deu hoje lugar a grandes áreas de beterraba sacarina . È muito possível que esta cultura venha a ser afectada pela concorrência da cana sacarina Regada por fitas gotejadoras conseguem-se produções enormes Trata-se de uma excelente alimento para a manutenção e engorda de bovinos de carne
---- Sorgo com regas amiúde , resultam grandes produções de matéria verde . Irrigável por sistemas de aspersão ,e pastoreada directamente ,é uma forragem muito rentável para ovinos Especialmente para borregos á desmama resultam desmamas de alto rendimento
----- Abóboras porqueiras. Uma cucurbitácea muito rústica ,tradicionalmente cultivada de sequeiro . Porem ,se de regadio , por meio de tubos gotejadores , conseguem-se produções de alguns dezenas de toneladas por hectare . Excelente para a engorda de porcos, no verão, .Com a vantagem de diminuir a periodicidade das desparasitações já que as pevides são anti-helmíticos eficazes
3--- A versatilidade do sistema A experiência já mostrou que nestas questões da economia agrária não se pode ficar á mercê das flutuações do mercado nem dos caprichos de ninguém Daí que o regadio deva ser projectado com alguma abertura e elasticidade de forma a permitir alternativas. Ou seja haver , espaço para outras iniciativas agrícolas mas mantendo aberta a retaguarda e , com ela, a possibilidade de regresso ao sistema base sempre que essas oportunidades se esvaziem
Fica-se sempre em condições de fazer contratos de horto-frutícolas, com destino ao mercado da Europa Central , já que entre nós a época hortícola ,se antecipa cerca de dois meses em relação a eles ; um contrato com uma fabrica de tomate ou pimento ,mas logo que cesse o interesse por esse negócio ,se possa regressar ao sistema base .
Não acredito na viabilidade do cultivo de milho destinado ao etanol .Os países aonde chove no verão estão melhor posicionados para o seu cultivo . Mas pode acontecer , dada a corrida ao milho geneticamente modificado , a nossa região ,não obstante não boa produtora de milho , possa vir a constituir um reduto de salvaguarda da preservação genética desta espécie .Nessa altura já pode ser viável e, então possamos destacar uma parcela, do regadio /forragem , para esse efeito.
Francisco Pândega (agricultor )
E-mail:---fjnpandega@hotmail.com;
blog:-alentejoagrorural.blogspot.com
4.6.05
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