9.11.09

AlentejoAgroRural

NÓS SOMOS ASSIM

1---É ofensivo ouvir esse repetitivo chorrilho de anedotas insultuosas ,senão mesmo grosseiras , cuja acção se atribui ao homem rural do Alentejo .Visam não só ridicularizar-nos como considerarem-nos estúpidos e frouxos. De facto , nós , como povo , estamos a atravessar um momento pouco elevado .Estamos assim como que abúlicos , desorientados , incapazes de proceder a uma eficaz defesa dos nossos valores soberanos E compreende-se dado que após tantas gerações de efectiva exclusão fundiária nós não poderíamos ser melhores nem diferentes .Somos ,pois , o produto de vicissitudes históricas , cuja superação nos tem sido impossível .Com o falhanço das alterações no tecido fundiário , aquando do 25 de Abril , perdeu-se a ultima esperança e o homem do Alentejo ,vencido ,baixou os braços
Contudo , e ao contrario do que se possa pensar, nós não somos geneticamente fracos .Esta debilidade que nos anula é circunstancial sendo ultrapassada logo que as relações homem /espaço rústico sejam normalizadas Isto porque não obstante os tremendos constrangimentos agro-fundiários que nos tem vitimado , conseguimos , ainda assim ,ter sido altamente produtivos até aos meados do século passado fazendo do Alentejo o celeiro do pais Nestas condições não ha razões para duvidar da nossa eficácia

2---Contrariamente ao que hoje somos , já fomos valentes e decisivos na luta pela libertação regional .Podemos voltar a sê-lo logo que o governo nos restitua a identidade e o amor próprio que nos sequestrou aquando da delegação ,a favor dos donos do Alentejo , do exclusivo de todos os poderes:-- politico /administrativo , económico ,de representatividade, entre outros
Nessa altura , então , sim , faremos jus á nossa raça de que tanto nos orgulhamos Cito ,entre tantos , três pontos altos daquilo que somos ;--

a)—Quando as legiões romanas invadiram a Transtagana (a região Alentejo de hoje ), depararam-se com uma inusitada resistência ,senão agressiva rebeldia , por parte dos autóctones (hoje ,nós , os alentejanos ) . Eram pastores transumantes ,de certa forma itinerantes já que as residências ,construídas de materiais ligeiros , eram de curta duração .Caçadores /recolectores o que lhes conferia uma certa autonomia alimentar e uma vivencia simplificada , assim como grande mobilidade Daí as dificuldades que os romanos encontram na sua pacificação o que nos valeu o epíteto de “ gente que não se governa nem se deixa governar “
Evidentemente que não nos chegaram a perceber :--- Nós sabemo-nos governar no nossos espaço ancestral com o qual estamos perfeitamente identificados Enganaram-se , pois , os romanos ,a nosso respeito .O subvalorizarem-nos foi-lhes fatal .O resultado foi que logo que apareceu um chefe credível que defendia os nossos valores e prometia a restituição dos nossos espaço vital , a expulsação do ocupante não tardou .

b)---Seculos mais tarde ,na década que antecedeu 1385 (batalha de Aljubarrota ) voltáramos a demonstrar de que têmpera somos feitos Os castelhanos faziam constantes incursões pela fronteira alentejana pilhando e destruindo uma vasta faixa da raia Estabelecida ,por volta de 1370 , a lei das Sesmarias (tanto quanto sei ainda não foi revogada ) que consistia na confisco de terras a quem não lhe desse o devido o uso e a sua posterior entrega , pela regime de aforamento , a quem e enquanto a trabalhasse Com a atribuição de terras iniciou-se uma migração interna formada por agricultores /soldados para a faixa contigua á raia onde muitos “deram o corpo as balas” Daí ainda hoje haver uma considerável densidade de povoados e de terras mais repartidas desde Vila Velha de Ródão a Mértola E os castelhanos , useiros e vezeiros nas razias ,viram frustradas as tentativas de anexação desta faixa de a Alentejo

c)—Nos meados do seculo XVll ,o nosso pais libertou-se de sessenta anos de ocupação espanhola Estes ,desembaraçados dos problemas internos , voltaram a agredir-nos , com toda a violência , invadindo-nos pelo Alentejo . Nunca se chegou a saber quantos dos nossos tombaram , pelas chapadas das Linhas Elvas e arredores de Estremoz ,para que o Alentejo continuasse a ser nosso
O aproveitarmos esse ensejo para sermos grandes e livres , é outro tipo de luta que nos falta travar . .

3—. Temos uma enorme e altamente produtiva região agrícola e gente perfeitamente a altura para lhes dar um uso consentâneo com a multiplicidade de valências que constituem o nosso mundo rural . Só o não fazemos porque fomos vencidos .Não o fazemos porque somente somos 5% dos parlamentares se bem que representamos 1/3 do território mas que , na verdade , constitui mais de metade da superfície agrícola útil do pais
.Usa-la , no sentido de a fazer brotar todas as suas funcionalidades , impõe-se-nos .Está perfeitamente ao nosso alcance produzir alimentos bons e baratos evitando a dependência das importações ; povoar o território constituindo-se , cada monte, num marco de afirmação pátria ;reavivar os nossos valores histórico / culturais elementos base do orgulho de ser alentejano .Temos gente, entre a nossa comunidade rural autóctone , com o querer e saber fazer muito melhor do que os endinheirados que por aí pululam .Provenientes das mais estranhas origens , eivados dos mais bizarros propósitos , associados de forma a obnubilar a sus acção ; sem pudor , acantonam as gentes das aldeias deixando-lhes somente o acessos ás estradas ,via emigração
È imperioso alterar as regras no acesso a este precioso bem , que é o nosso solo pátrio ,considerando-o ,no sentido mais nobre do termo , um espaço aonde se exerce a regionalidade
Algo perdurável e não fungível ,inconvertível em dinheiro e jamais susceptível de ser descartável como se se de uma objecto desnecessário se tratasse Algo sublime ,pertença de todos , por igual, se bem que detido ,em termos de exploração agrícola , de uma forma individual e efectiva , por quem tenha dignidade para tal
.Esta formula ,perfeitamente pacifica entre nós , resulta da antiquíssima lei do aforamento (vigorou entre nós até ao 25 de Abril ) de onde foi extraído o aforismo de a “terra a quem a trabalha “ Terá que ser assim .E só assim seremos dignos dos nossos antepassados .Só assim o AlentejoAgroRural emergirá como um gigante agrícola suficientemente produtivo para garantir a auto-suficiência alimentar o que , nesta época de crise , é algo reconfortante Só assim nos libertaremos deste anátema depreciativo que afecta o AlentejoAgroRural e suas gentes
Francisco Pândega(agricultor ) ///fjnpandeg@hotmail.com ////alentejoagrorural.blospot.com

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