29.10.08

AlentejoAgroRural

Regulamentações
1—O mercado de capitais está em crise .Com ele arrasta toda a economia inclusivamente a agrária .Que haja mercado de capitais e os respectivos especuladores financeiros , enfim , um produto urbano que ,para nós ,rurais , é perfeitamente dispensável Mais que dispensável ,agora que se vêm os danos que causa na agricultura , digo mesmo ,que é de evitar Para colmatar os seus estragos tomam-se medidas no sentido de garantir a solvência do sistema bancária e ,com isso , o retorno dos depósitos ; um novo contrato de habitação afim de evitar o deprimente espectáculo , que os EE.UU nos oferece , de assistirmos a despejos em massa ;e o avanço de grandes obras publicas visando a reactivação do emprego e de actividades adjacentes Acho bem que se minimizem os estragos sem que , contudo , deixe de pensar que tais fórmulas financeiras devam ser suprimidas do nosso ordenamento económico/financeiro pelo menos na presente versão
Uma conclusão já se esta a extrair :-- há sectores não podem ser deixados em roda livre .A pressão dos accionistas pela obtenção de dividendos , conduz á ganância desmedida ,obliterando os valores éticos e morais. Daí que até mesmo entre os ultra-liberais ,defensores do mercado selvagem , se aceite um regulador como forma de conter tais desmandos, especialmente nos sectores estratégicos da actividade económica

2--- Este terramoto vai ditar o fim do mercado de capitais especulativo no actual formato .A sociedade terá que assumir uma acção mais interventiva nos sectores estratégicos da nossa sociedade Como de entre os estratégicos a agricultura é o mais estratégico de todos , é por ele que terá que começar.
O drama porque passa a agricultura alentejana é o resultado disso mesmo Há nos nossos celeiros milhares de toneladas de trigo sem que haja compradores para ele .O pouco que vai saindo é destinado á industria de rações para gado .Sabendo que o trigo alentejano é, em termos de panificação , o melhor do mundo , ir para o gado é no mínimo ofensivo .Acresce o facto de estarem a ser descarregados navios de trigo na Trafaria ,que vai directo para as moagens e destas para as indústrias de panificação , indo fazer pão junto daqueles que têm o trigo retido Isto , no mínimo, é surrealista . Mas o pior é que sabendo-se que de um quilo de trigo se faz um quilo de pão e esse trigo é vendido a €0,15 e um quilo de pão comprado por €1,20 ,há aqui uma multiplicação por oito que se enquadra perfeitamente no perfil especulativo que é a razão deste escrito
.Mas não se fica por aqui esta comercialização sem regras .Nas malhadas há muitos novilhos prontos para abate que não tem escoamento ; milhares de porcos alentejanos gordos e anafados , sem haver quem os consuma ; nas adegas há vinhos para muitos anos ; nos lagares azeite..Enquanto isso, á população são oferecidos produtos importados cada vez mais caros
Uma constatação ressalta á evidência :-- Nos produtos atrás referidos , se produzidos sem constrangimento nós somos imbatíveis quer em termos de qualidade quer de preços . Ora , face a estas dificuldades de comercialização ,das duas uma :-- ou temos constrangimentos que dificultam e encarecem a produção tendo que ser extirpados , ou então o mercado internacional , aonde pululam todo o tipo de especuladores , faz batota usando o conhecido dumping , tendo que ser condicionado

3—Consola dizer-se que esta crise é generalizada .Não me parece que os respectivos mundos rurais dos nossos parceiros estejam assim tanto afectados quanto o nosso .Diminuiu o consumo , é certo, mas continuam prontos a fornecer três refeições diariamente aos seus concidadãos como condição intrínseca desta actividade A crise agrícola do Alentejo é diferente , velha ,profunda , estrutural , inumana.
Pode ser que se aprenda com esta lição e se interiorize que o nosso mundo rural tenha que ser regulamentado a nível regional por agentes emanados dos nossos estratos agrícolas Nestas ocasiões de crise aguda , tudo pode acontecer :--desde , devido ao facto do Alentejo ser um vazio humano , ser alvo de ocupação por parte desses capitalistas especuladores que danificaram o mercado de capitais , reduzindo-nos á vil condição de seus servidores , ou então arregaçarmos as mangas e pormo-lo em ordem Esta ultima será a maneira honrarmos os nossos antepassados e tornarmo-nos dignos dos nossos descendentes Ainda é possível. Nós somos capazes
Francisco Pândega (agricultor)////fjnpandega @hotmail .com ////alentejoagrorural.blogspot.com

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