AlentejoAgroRural
Regulamentações
1—O mercado de capitais está em crise .Com ele arrasta toda a economia inclusivamente a agrária .Que haja mercado de capitais e os respectivos especuladores financeiros , enfim , um produto urbano que ,para nós ,rurais , é perfeitamente dispensável Mais que dispensável ,agora que se vêm os danos que causa na agricultura , digo mesmo ,que é de evitar Para colmatar os seus estragos tomam-se medidas no sentido de garantir a solvência do sistema bancária e ,com isso , o retorno dos depósitos ; um novo contrato de habitação afim de evitar o deprimente espectáculo , que os EE.UU nos oferece , de assistirmos a despejos em massa ;e o avanço de grandes obras publicas visando a reactivação do emprego e de actividades adjacentes Acho bem que se minimizem os estragos sem que , contudo , deixe de pensar que tais fórmulas financeiras devam ser suprimidas do nosso ordenamento económico/financeiro pelo menos na presente versão
Uma conclusão já se esta a extrair :-- há sectores não podem ser deixados em roda livre .A pressão dos accionistas pela obtenção de dividendos , conduz á ganância desmedida ,obliterando os valores éticos e morais. Daí que até mesmo entre os ultra-liberais ,defensores do mercado selvagem , se aceite um regulador como forma de conter tais desmandos, especialmente nos sectores estratégicos da actividade económica
2--- Este terramoto vai ditar o fim do mercado de capitais especulativo no actual formato .A sociedade terá que assumir uma acção mais interventiva nos sectores estratégicos da nossa sociedade Como de entre os estratégicos a agricultura é o mais estratégico de todos , é por ele que terá que começar.
O drama porque passa a agricultura alentejana é o resultado disso mesmo Há nos nossos celeiros milhares de toneladas de trigo sem que haja compradores para ele .O pouco que vai saindo é destinado á industria de rações para gado .Sabendo que o trigo alentejano é, em termos de panificação , o melhor do mundo , ir para o gado é no mínimo ofensivo .Acresce o facto de estarem a ser descarregados navios de trigo na Trafaria ,que vai directo para as moagens e destas para as indústrias de panificação , indo fazer pão junto daqueles que têm o trigo retido Isto , no mínimo, é surrealista . Mas o pior é que sabendo-se que de um quilo de trigo se faz um quilo de pão e esse trigo é vendido a €0,15 e um quilo de pão comprado por €1,20 ,há aqui uma multiplicação por oito que se enquadra perfeitamente no perfil especulativo que é a razão deste escrito
.Mas não se fica por aqui esta comercialização sem regras .Nas malhadas há muitos novilhos prontos para abate que não tem escoamento ; milhares de porcos alentejanos gordos e anafados , sem haver quem os consuma ; nas adegas há vinhos para muitos anos ; nos lagares azeite..Enquanto isso, á população são oferecidos produtos importados cada vez mais caros
Uma constatação ressalta á evidência :-- Nos produtos atrás referidos , se produzidos sem constrangimento nós somos imbatíveis quer em termos de qualidade quer de preços . Ora , face a estas dificuldades de comercialização ,das duas uma :-- ou temos constrangimentos que dificultam e encarecem a produção tendo que ser extirpados , ou então o mercado internacional , aonde pululam todo o tipo de especuladores , faz batota usando o conhecido dumping , tendo que ser condicionado
3—Consola dizer-se que esta crise é generalizada .Não me parece que os respectivos mundos rurais dos nossos parceiros estejam assim tanto afectados quanto o nosso .Diminuiu o consumo , é certo, mas continuam prontos a fornecer três refeições diariamente aos seus concidadãos como condição intrínseca desta actividade A crise agrícola do Alentejo é diferente , velha ,profunda , estrutural , inumana.
Pode ser que se aprenda com esta lição e se interiorize que o nosso mundo rural tenha que ser regulamentado a nível regional por agentes emanados dos nossos estratos agrícolas Nestas ocasiões de crise aguda , tudo pode acontecer :--desde , devido ao facto do Alentejo ser um vazio humano , ser alvo de ocupação por parte desses capitalistas especuladores que danificaram o mercado de capitais , reduzindo-nos á vil condição de seus servidores , ou então arregaçarmos as mangas e pormo-lo em ordem Esta ultima será a maneira honrarmos os nossos antepassados e tornarmo-nos dignos dos nossos descendentes Ainda é possível. Nós somos capazes
Francisco Pândega (agricultor)////fjnpandega @hotmail .com ////alentejoagrorural.blogspot.com
29.10.08
20.10.08
AlentejoAgroRural
UMA SOLUÇÃO PARA A CRISE
1---A Islândia está a ser severamente atingida pela crise financeira e económica que afecta a Europa e ,em menor escala , outros países Ao ponto de , dado que a sua moeda deixou de funcionar como elemento de trocas , ter as reservas alimentares esgotadas ,aventado a hipótese de racionamento , falando-se mesmo de fome Quem diria que a Islândia , uma nação anglo-saxónica do bloco geográfico de que fazem parte a Inglaterra , a Irlanda , a Escócia , ,conhecidas pela solidez económica e estabilidade das instituições ,que chegaria a este estado .Surpreendente ,no mínimo , o que diz bem da gravidade crise ,por um lado , mas que ,por outro , indica que anda bem avisado quem organize o seu espaço rústico no sentido de acelerar a produção ,de forma a conseguir a auto-suficiência alimentar e providencie uma reserva estratégica de viveres .Quanto a nós é bom lembrar o ditado que “ Quando veres as barbas do vizinho a arder , põe as tuas a amolecer “As nossas , tendo em conta as baixas produções e produtividade agrícola , já estão chamuscadas .Nestas condições ,é preciso ter-se algum cuidado já que a solidariedade entre os povos ,quando a crise é generalizada ,nem sempre funciona em tempo útil.
2—Mas esta crise atinge umas nações mais do que outras e nestas uns sectores mais do que noutros .Os EE.UU da América , passada esta borrasca financeira , que pouco ou nada afecta o sector agro-produtivo conhecida a sua democraticidade e pragmatismo , regressam á normalidade quiçá mesmo fortalecidos Continuarão a ser descarregados barcos de trigo e milho enquanto tivermos valores para os pagar Aqui ao lado , a Espanha ,que foi seriamente afectada no imobiliário urbano , está a sofrer um abaixamento do poder de compra .Mas a sua economia agrária , porque próspera , continua montada e reanima logo que necessário Continua a exportar alimentos e vai recomeçar a expandir a sua área de produção.
Quanto a nós dizer-se que , devido ao facto de integrarmos os quinze do euro , não vamos ser atingidos como a Irlanda, é ser-se optimista impenitente .Mesmo que o euro se aguente , como elemento de troca entre as nações , nós , para comprarmos o mais de metade que falta para o nosso consumo , temos que ter euros disponíveis Para tê-los é preciso produzir e poupar , coisa que os nossos hábitos de novo rico se foram perdendo
Temos uma administração pública caríssima ,que retira da actividade privada os melhores de entre nós .Como se isso não bastasse agora os custos de produção estão acrescidos devido á exorbitância dos combustíveis ; as despesas dos imigrantes ao enviaram remessas para os seus países de origem ; assim como os custos de manutenção da ordem publica cada vez mais complicada
3--- Se as crises assim como as guerras ,são calamidades que importa evitar ,caso aconteçam também podem constituir-se numa oportunidade para fazerem , mais do que simples reformas , roturas com as formulas que obstaculizem a normalidade rural . Nas actuais circunstancias , e tendo em conta as colossais potencialidades agro-sociais do Alentejo , este pode converter-se na solução para a crise que nos atinge Basta arranca-lo da pasmaceira fundiária em que está mergulhado e traze-lo para a economia real
Acontece que isso tem que ser rápido .A nossa margem de manobra é cada vez mais escassa
Francisco Pândega ( agricultor ) fjnpandega@hotmail.com /// alentejoagrorural.blogspot.com
UMA SOLUÇÃO PARA A CRISE
1---A Islândia está a ser severamente atingida pela crise financeira e económica que afecta a Europa e ,em menor escala , outros países Ao ponto de , dado que a sua moeda deixou de funcionar como elemento de trocas , ter as reservas alimentares esgotadas ,aventado a hipótese de racionamento , falando-se mesmo de fome Quem diria que a Islândia , uma nação anglo-saxónica do bloco geográfico de que fazem parte a Inglaterra , a Irlanda , a Escócia , ,conhecidas pela solidez económica e estabilidade das instituições ,que chegaria a este estado .Surpreendente ,no mínimo , o que diz bem da gravidade crise ,por um lado , mas que ,por outro , indica que anda bem avisado quem organize o seu espaço rústico no sentido de acelerar a produção ,de forma a conseguir a auto-suficiência alimentar e providencie uma reserva estratégica de viveres .Quanto a nós é bom lembrar o ditado que “ Quando veres as barbas do vizinho a arder , põe as tuas a amolecer “As nossas , tendo em conta as baixas produções e produtividade agrícola , já estão chamuscadas .Nestas condições ,é preciso ter-se algum cuidado já que a solidariedade entre os povos ,quando a crise é generalizada ,nem sempre funciona em tempo útil.
2—Mas esta crise atinge umas nações mais do que outras e nestas uns sectores mais do que noutros .Os EE.UU da América , passada esta borrasca financeira , que pouco ou nada afecta o sector agro-produtivo conhecida a sua democraticidade e pragmatismo , regressam á normalidade quiçá mesmo fortalecidos Continuarão a ser descarregados barcos de trigo e milho enquanto tivermos valores para os pagar Aqui ao lado , a Espanha ,que foi seriamente afectada no imobiliário urbano , está a sofrer um abaixamento do poder de compra .Mas a sua economia agrária , porque próspera , continua montada e reanima logo que necessário Continua a exportar alimentos e vai recomeçar a expandir a sua área de produção.
Quanto a nós dizer-se que , devido ao facto de integrarmos os quinze do euro , não vamos ser atingidos como a Irlanda, é ser-se optimista impenitente .Mesmo que o euro se aguente , como elemento de troca entre as nações , nós , para comprarmos o mais de metade que falta para o nosso consumo , temos que ter euros disponíveis Para tê-los é preciso produzir e poupar , coisa que os nossos hábitos de novo rico se foram perdendo
Temos uma administração pública caríssima ,que retira da actividade privada os melhores de entre nós .Como se isso não bastasse agora os custos de produção estão acrescidos devido á exorbitância dos combustíveis ; as despesas dos imigrantes ao enviaram remessas para os seus países de origem ; assim como os custos de manutenção da ordem publica cada vez mais complicada
3--- Se as crises assim como as guerras ,são calamidades que importa evitar ,caso aconteçam também podem constituir-se numa oportunidade para fazerem , mais do que simples reformas , roturas com as formulas que obstaculizem a normalidade rural . Nas actuais circunstancias , e tendo em conta as colossais potencialidades agro-sociais do Alentejo , este pode converter-se na solução para a crise que nos atinge Basta arranca-lo da pasmaceira fundiária em que está mergulhado e traze-lo para a economia real
Acontece que isso tem que ser rápido .A nossa margem de manobra é cada vez mais escassa
Francisco Pândega ( agricultor ) fjnpandega@hotmail.com /// alentejoagrorural.blogspot.com
9.10.08
AlentejoAgroRural
UMA ANÀLISE COMPARATIVA
1— Estávamos na década sessenta .No Cuanhama , a sul de Angola , a comunidade rural manifestava-se ,com alguma turbulência , contra a instalação de fazendeiros , na sua região .Alegavam , e com muita razão , que alguns deles , ao construírem cercas de arame farpado , interrompiam os trajectos da transumância e dificultavam-lhes o acesso aos locais de abeberação
.Os cuanhamas são povos pastores , muito altivos e determinados . Vivem de forma tribal e todos os seus interesses gravitam em torno da criação de gado bovino . Muito aguerridos , combateram o exercito português com alguma eficácia .Não obstante as pesadas derrotas que lhes foram infringidas quer pelo capitão Alves Roçadas quer pelo general Pereira DÉça , mantiveram a liberdade de acção a independência de carácter ,para alem de uma postura de superioridade tribal .
Para analisar a situação foram indicados o eng. Possinger, alemão, da Universidade Munique ; os nossos serviços incumbidos de lhe prestar apoio logístico ; e eu , técnico dos mesmos , como motorista , guia e interprete nalgumas das viagens ..As recomendações protagonizadas foram a prova cabal da nossa sensibilidade e respeito dos direitos das comunidades rurais .Daí resulta o facto de , passados os desmandos da descolonização , as nossos relações ,com esses povos , voltarem a ser amistosas .Uma pergunta ,porem , se impõe :--- Porque é que se não se usam os mesmos critérios de respeito ,em relação aos autóctones alentejanos , que usamos com os povos que colonizamos ?
2--Foi produzido um trabalho que continha recomendações audazes .Localizava a região com muito detalhe ; descrevia o meio natural com algum pormenor ,; o tipo de povoamento que era exclusivamente de pastores itinerantes ; e alvitrava uma solução pacificadora evitando um possível recrudescer contestatário .
Sem considerações desnecessárias ,fez-se um trabalho isento, corajoso e muito profissional que se podia resumir assim :-- Nas actuais circunstancias ,a viabilidade funcional da região ,quer económica quer social , impõe que seja mantida e preservada na presente configuração geográfica com um mínimo de interferências externas .
a)—Trata-se de região natural e tribal homogénea , com uma superfície semelhante a Portugal . .Situa-se entre o sopé sul do planalto do Huambo numa extensão de 200Km aprox. e a norte da Namíbia numa extensão de cerca de 400Km É considerada a região de transição entre o Planalto do Huambo , fecundo e rico em recursos hídricos e o deserto do Kalaari um local extremamente inóspito .A Poente é limitada pelo rio Cunene e a Nascente pelo Cubango .Estes dois rios têm em comum o facto de serem enormes e a particularidade nascerem ambos na anhara do Vulo-Vulo a 15 km de distancia um do outro , entre a cidade do Huambo ( junto a embala do soba grande ) e o Chinguar Ambos se dirigem para sul .Chegados a Namíbia , o Cubango inflecte para nascente na direcção do Indico só não o alcançando porque antes se perde nos pantanais do Botswana O Cunene inflecte para poente ,na direcção do Atlântico raras vezes lá chegando porque antes infiltra-se nas areias da Namíbia
b)--- Caracteriza-se ainda ,em termos orográficos ,por ser uma planura arenosa ; com um regime de chuvas do tipo torrencial mas com uma queda anual muito baixa ; em termos climáticos ,seco com altas e baixas temperaturas no mesmo dia ; vegetação do tipo savana com predominância de espinhosas ; abundância de caça (elefantes rinocerontes .zebras , palancas , e outras antílopes ) ;pastagens espontânea do tipo pasto salgado muito palatável e nutritivo conferido á carne (dos bovinos assim como da caça ) um sabor muito especial ; não praticam agricultura limitando-se ao cultivo de sorgo (massango e massambala , ) nos currais desactivados beneficiando dos estrumes e da protecção do cercado .A grande limitante é a escassez de agua dado que ,exceptuando aqueles dois rios periféricos , no seu interior não há cursos de agua com caudal permanente mas sim pequenas lagoas resultantes das chuvas , dispersas , a esmo , que vão progressivamente secando na medida em que se entra no verão, condicionando toda a vida animal
c)---Escassamente povoada por diversas tribos do grupo etnográfico cuanhama concentram-se geralmente na margem esquerda do Cunene de onde irradiam na demanda de pastagem e para onde voltam geralmente acossado pela escassez de agua .Grandes produtores de “olongombe” (bovinos ) consomem e vendem anualmente muitos milhares de “garrotes” e “nemas” (novilhos e novilhas ) criados de uma modo ultra-extensivo cujos custos de produção ,descontada a mão de obra , são zero A transumância constitui uma espécie de façanha bem própria de homens audazes dado que pastar uma manada ,em tão estranhas condições , implica não deixar tresmalhar nenhuma rês ; conduzi-la para boas pastagens ; não a deixar morrer de fome nem de sede , nem serem devorada pelos leões com os quais têm frequentes lutas .
Isto tem efeitos no comportamento dos homens e determina , se efectuada com êxito ,que passe de adolescente para adulto tal como nós ,alentejanos , aquando das “acêfas “ .Tal dureza no trabalho fez do cuanhama um homem altivo senão mesmo belicoso mas também leal no comportamento Dai a razão porque tinha que ser tomada em devida conta a sua resistência a instalação de fazendeiros E quando lhe aconselhávamos moderação, respondiam , apontado para o forte de Roçadas ,recordação de duros combates contra os portugueses , exclamando “” Vocês , brancos ,vem e vão .Nós é que ficamos com os problemas que vocês cá nos deixam “” .Contra tais factos escasseavam-nos os argumentos .
d)----O relatório concluía pela cessação da emissão de concessões de terras .Que a cassação das licenças existentes , nas rotas da transumância , era desnecessária dado não haver a menor possibilidade de alguém , seja lá onde for , se instalar na agricultura contra a vontade das respectivas populações locais .E estas estavam determinadas a opor-se Logo seriam naturalmente desactivadas regressando ao domínio público . E com medidas , a prazo , dar-se-iam início á construção de “chimpacas” (charcas de terra nos locais a onde agua estava memos funda ) e nos locais mais secos a construção de furos com aero-bombas de elevação tal como fizeram a os sul-africanos na vizinha Namíbia Com isso os pastores sedentarizar-se-iam ,aumentando ,assim o encabeçamento .Alterar-se-iam os costumes de forma a que na geração seguinte houvessem locais de colonização sem afrontar os hábitos dos pastores indígenas
3---Certamente devido ao facto de ser aldeão , pequeno agricultor e filho de seareiro na época da extinção dessa modalidade , deu-me uma maior sensibilidade para a analise das questões agro-rurais de outras comunidades ,em cujos estudo e intervenção participei .Sempre com alma de rural alentejano .Daí facilmente ter constatado a veracidade do ditado que diz “ só se entende a dimensão de uma floresta se vista de fora “. Nessa perspectiva o Alentejo também é melhor entendido , em toda a sua plenitude , se visto de outras paragens a partir de outras realidades .Sobressaindo , então , com toda a pujança a sua grandeza espacial e as suas colossais potencialidades agrícolas Por outro lado e em contraste com outras comunidades , avultam os injustificados constrangimentos fundiários ,que lhe tolhem a produção e o bem estar rural , assim como o facto das gentes não fazerem parte da solução antes sim serem agentes ,tantas vezes passivos, dos estranhos interesses aqui instalados
Nestas condições e excluindo os sectores comerciais , industriais e serviços , que têm uma lógica muito própria , tem inteiro cabimento a recomendação preconizada para o Cuanhama “
“Nas actuais circunstancias ,a viabilidade funcional da região ,quer económica quer socialmente , impõe que seja mantida e preservada na presente configuração geográfica com um mínimo de interferências externas “.
Francisco Pandega (agricultor ) /// fjnpandega@hotmail.com/// Alentejoagrorural.blogspot.com
UMA ANÀLISE COMPARATIVA
1— Estávamos na década sessenta .No Cuanhama , a sul de Angola , a comunidade rural manifestava-se ,com alguma turbulência , contra a instalação de fazendeiros , na sua região .Alegavam , e com muita razão , que alguns deles , ao construírem cercas de arame farpado , interrompiam os trajectos da transumância e dificultavam-lhes o acesso aos locais de abeberação
.Os cuanhamas são povos pastores , muito altivos e determinados . Vivem de forma tribal e todos os seus interesses gravitam em torno da criação de gado bovino . Muito aguerridos , combateram o exercito português com alguma eficácia .Não obstante as pesadas derrotas que lhes foram infringidas quer pelo capitão Alves Roçadas quer pelo general Pereira DÉça , mantiveram a liberdade de acção a independência de carácter ,para alem de uma postura de superioridade tribal .
Para analisar a situação foram indicados o eng. Possinger, alemão, da Universidade Munique ; os nossos serviços incumbidos de lhe prestar apoio logístico ; e eu , técnico dos mesmos , como motorista , guia e interprete nalgumas das viagens ..As recomendações protagonizadas foram a prova cabal da nossa sensibilidade e respeito dos direitos das comunidades rurais .Daí resulta o facto de , passados os desmandos da descolonização , as nossos relações ,com esses povos , voltarem a ser amistosas .Uma pergunta ,porem , se impõe :--- Porque é que se não se usam os mesmos critérios de respeito ,em relação aos autóctones alentejanos , que usamos com os povos que colonizamos ?
2--Foi produzido um trabalho que continha recomendações audazes .Localizava a região com muito detalhe ; descrevia o meio natural com algum pormenor ,; o tipo de povoamento que era exclusivamente de pastores itinerantes ; e alvitrava uma solução pacificadora evitando um possível recrudescer contestatário .
Sem considerações desnecessárias ,fez-se um trabalho isento, corajoso e muito profissional que se podia resumir assim :-- Nas actuais circunstancias ,a viabilidade funcional da região ,quer económica quer social , impõe que seja mantida e preservada na presente configuração geográfica com um mínimo de interferências externas .
a)—Trata-se de região natural e tribal homogénea , com uma superfície semelhante a Portugal . .Situa-se entre o sopé sul do planalto do Huambo numa extensão de 200Km aprox. e a norte da Namíbia numa extensão de cerca de 400Km É considerada a região de transição entre o Planalto do Huambo , fecundo e rico em recursos hídricos e o deserto do Kalaari um local extremamente inóspito .A Poente é limitada pelo rio Cunene e a Nascente pelo Cubango .Estes dois rios têm em comum o facto de serem enormes e a particularidade nascerem ambos na anhara do Vulo-Vulo a 15 km de distancia um do outro , entre a cidade do Huambo ( junto a embala do soba grande ) e o Chinguar Ambos se dirigem para sul .Chegados a Namíbia , o Cubango inflecte para nascente na direcção do Indico só não o alcançando porque antes se perde nos pantanais do Botswana O Cunene inflecte para poente ,na direcção do Atlântico raras vezes lá chegando porque antes infiltra-se nas areias da Namíbia
b)--- Caracteriza-se ainda ,em termos orográficos ,por ser uma planura arenosa ; com um regime de chuvas do tipo torrencial mas com uma queda anual muito baixa ; em termos climáticos ,seco com altas e baixas temperaturas no mesmo dia ; vegetação do tipo savana com predominância de espinhosas ; abundância de caça (elefantes rinocerontes .zebras , palancas , e outras antílopes ) ;pastagens espontânea do tipo pasto salgado muito palatável e nutritivo conferido á carne (dos bovinos assim como da caça ) um sabor muito especial ; não praticam agricultura limitando-se ao cultivo de sorgo (massango e massambala , ) nos currais desactivados beneficiando dos estrumes e da protecção do cercado .A grande limitante é a escassez de agua dado que ,exceptuando aqueles dois rios periféricos , no seu interior não há cursos de agua com caudal permanente mas sim pequenas lagoas resultantes das chuvas , dispersas , a esmo , que vão progressivamente secando na medida em que se entra no verão, condicionando toda a vida animal
c)---Escassamente povoada por diversas tribos do grupo etnográfico cuanhama concentram-se geralmente na margem esquerda do Cunene de onde irradiam na demanda de pastagem e para onde voltam geralmente acossado pela escassez de agua .Grandes produtores de “olongombe” (bovinos ) consomem e vendem anualmente muitos milhares de “garrotes” e “nemas” (novilhos e novilhas ) criados de uma modo ultra-extensivo cujos custos de produção ,descontada a mão de obra , são zero A transumância constitui uma espécie de façanha bem própria de homens audazes dado que pastar uma manada ,em tão estranhas condições , implica não deixar tresmalhar nenhuma rês ; conduzi-la para boas pastagens ; não a deixar morrer de fome nem de sede , nem serem devorada pelos leões com os quais têm frequentes lutas .
Isto tem efeitos no comportamento dos homens e determina , se efectuada com êxito ,que passe de adolescente para adulto tal como nós ,alentejanos , aquando das “acêfas “ .Tal dureza no trabalho fez do cuanhama um homem altivo senão mesmo belicoso mas também leal no comportamento Dai a razão porque tinha que ser tomada em devida conta a sua resistência a instalação de fazendeiros E quando lhe aconselhávamos moderação, respondiam , apontado para o forte de Roçadas ,recordação de duros combates contra os portugueses , exclamando “” Vocês , brancos ,vem e vão .Nós é que ficamos com os problemas que vocês cá nos deixam “” .Contra tais factos escasseavam-nos os argumentos .
d)----O relatório concluía pela cessação da emissão de concessões de terras .Que a cassação das licenças existentes , nas rotas da transumância , era desnecessária dado não haver a menor possibilidade de alguém , seja lá onde for , se instalar na agricultura contra a vontade das respectivas populações locais .E estas estavam determinadas a opor-se Logo seriam naturalmente desactivadas regressando ao domínio público . E com medidas , a prazo , dar-se-iam início á construção de “chimpacas” (charcas de terra nos locais a onde agua estava memos funda ) e nos locais mais secos a construção de furos com aero-bombas de elevação tal como fizeram a os sul-africanos na vizinha Namíbia Com isso os pastores sedentarizar-se-iam ,aumentando ,assim o encabeçamento .Alterar-se-iam os costumes de forma a que na geração seguinte houvessem locais de colonização sem afrontar os hábitos dos pastores indígenas
3---Certamente devido ao facto de ser aldeão , pequeno agricultor e filho de seareiro na época da extinção dessa modalidade , deu-me uma maior sensibilidade para a analise das questões agro-rurais de outras comunidades ,em cujos estudo e intervenção participei .Sempre com alma de rural alentejano .Daí facilmente ter constatado a veracidade do ditado que diz “ só se entende a dimensão de uma floresta se vista de fora “. Nessa perspectiva o Alentejo também é melhor entendido , em toda a sua plenitude , se visto de outras paragens a partir de outras realidades .Sobressaindo , então , com toda a pujança a sua grandeza espacial e as suas colossais potencialidades agrícolas Por outro lado e em contraste com outras comunidades , avultam os injustificados constrangimentos fundiários ,que lhe tolhem a produção e o bem estar rural , assim como o facto das gentes não fazerem parte da solução antes sim serem agentes ,tantas vezes passivos, dos estranhos interesses aqui instalados
Nestas condições e excluindo os sectores comerciais , industriais e serviços , que têm uma lógica muito própria , tem inteiro cabimento a recomendação preconizada para o Cuanhama “
“Nas actuais circunstancias ,a viabilidade funcional da região ,quer económica quer socialmente , impõe que seja mantida e preservada na presente configuração geográfica com um mínimo de interferências externas “.
Francisco Pandega (agricultor ) /// fjnpandega@hotmail.com/// Alentejoagrorural.blogspot.com
Subscrever:
Mensagens (Atom)