Alentejo agrorural –
E O REGRESSO Á TERRA
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BREVE CARACTERIZAÇÃO
AS COMUNIDADES RURAIS – as vítimas . O Alentejo agrorural , tendo em conta a velocidade com as terras estão transferidas para a posse de estrangeiros ,em menos de uma geração vai escapar-se da nossa influencia político –administrativa .
Deste desfecho catastrófico só de nós mesmos , e de mais ninguém , nos podemos queixar .Justificações ? não há . Só condenações .Já que a situação a que chegamos deve-se somente á nossa inépcia e falta de coragem para irradicar os factores que estão na origem deste desastre
--- Jamais nos podemos queixar do meio já que este é incrivelmente rico .A tal ponto que só a cortiça ( estou a falar da cortiça em bruto tal como cai da arvore ,e sem qualquer valor acrescentado ) aqui produzida , anualmente , daria para viabilizar os sonhos de uma região se dela fosse pertença . Porem , porque submetido á mais feroz rapina, se algum caso se investimento , nos campos , aqui foi feito , a partir dela , escapou a minha atenta observação . --- Nem sequer do homem alentajano , esse denodado trabalhador , simples , frugal e honesto que , desde há mais de um século, trabalha a sua terra ,ao serviço dos que dela se apossaram
Temos muitos defeitos , evidentemente . Mas , ao fim de tantos anos de submissão , não se pode exigir que sejamos melhores nem sequer diferentes Ao fim de tantos anos , perdemos a capacidade de luta e a noção do que está a acontecer ; perdemos a percepção de que as nossas esperanças , longamente acalentadas , estão a ficar perdidas ; perdemos a capacidade de avaliação da força da nossa razão .
Mas os povos , por vezes , surpreendem E , entre nós, por exemplo , basta que claudiquem aos apoios sociais , que nos mantêm em estado de hibernação , para que surjam forças onde parece terem sido extintas .Os estrangeiros têm disso mais experiência do que nós .Se calhar está aí a razão porque a aquisição do Alentejo não está ainda mais avançada .
a)--- A QUESTÃO FUNDIÁRIA --- Que se instalem em empresas comerciais industriais ou outras , estratégicas ou não , derivadas ou destinadas a agricultura , suprindo a nossa incapacidade , na matéria , do mal ao menos È o custo da nossa mediocridade agrícola . Mas entrar pelo nossos património fundiária aí já dói . Isso constitui ,está claramente provado , uma ameaça a nossa soberania Isso condiciona , se não mesmo inviabiliza , a nossa recuperação quando acordarmos ,quiçá tarde e a más horas , para o nossos problemas sócio-económico .
A raiz dos nossos problemas reside na questão fundiria As terras não estão a ser usadas tendo em conta os grandes desígnios regionais . Não estão a contribuir para a superação da crise que atravessamos .Não está a contribuir para :--- a produção de alimentos ,o bem estar social das populações ,o povoamento harmónico do território ,a preservação da soberania , entre outros . Ora estes desideratos não estão a ser conseguidos por parte da generalidade dos grandes proprietários rurais. Destoa abordar-se esta questão . Contudo , tem que ser assumida e tratada . Se olvidada o cerne do problema fica truncado .
Importa reconhecer que a classe de grandes proprietários , insignificantes numericamente , e de valia eleitoral desprezível ,detém , porem , um poder de manobra e uma influencia descomunal .Mal que se ponha em dúvida a sua eficácia ou a legitimidade dos direitos adquiridos , empertigam-se e clamando pelo sagrado direito a terra como se de uma agricultor directo , efectivo e participativo se tratasse Fá-lo com enorme desplanta mesmo até tendo , já no bolso, um contrato promessa de venda a algum espanhol
Nós, os descendentes dos extintos seareiros , subjugados, vilipendiados , expolidas e empobrecidos , despojados do acesso a terra de uma forma ignóbil , sabemos bem que por detrás desse estranho comportamento está subjacente o tradicional habito punitivo contra a indefesa comunidade rural tradicional
b)---- O FASCÍNIO PELOS ESTRANGEIROS --- Há uma questão que se designa por hospitalidade e boa vizinhança que é tradicional entre nós. Mas isso não é extensivo a alienação do nosso território .O dever para com os nossos antepassados e para os nossos descendentes impede-nos de alienar o nosso património espacial . E nisso , nós , a classe rural tradicional , somos particularmente sensíveis dado que , em relação a sua exclusão , somos portadores de amargas experiências
Que em Espanha seja tudo mais barato , mais livre , menos conflituoso , menos intervencionista, lá isso é verdade .Que o espanhol tenha um mais elevado nível de vida ,mais alegria de viver ,mais integração rural ,é certo . Mas isso não são razões para claudicar de inveja .Mas sim , e de acordo com a nossa especificidade regional , para arregaçar as mangas e fazer da nossa região um local aprazível que dê gosto viver nele .Nós somos capazes enquanto tivermos espaço de manobra ou seja terra .
Mas é connosco e não com agricultores estrangeiros Esses ao contrario do que se pretende fazer crer , não são exemplo de melhor integração agrícola mas sim de como se captam subsídios . Senão repare-se :--- O solar das vacas leiteiras ( frísias e holandesas ) é onde abunda a erva durante todo o ano o que não é o caso da nossa região ; os olivais, tendo em conta que na fronteira , uma tonelada de azeitona dá mais de duzentos litros de azeite e aqui , na peneplanície de Évora , dificilmente atinge os cem , pode-se concluir que , por alguma razão , os antigos se limitaram á enxertia dos zambujeiros e não á implantação de grandes olivais ; em relação á vinha , que tradicionalmente está integrada nos sistemas agrícolas em uso , devido á forma de implantação (não estou a falar da surriba ) deixou de existir a tradicional interacção , com os restantes ramos do sistema .
Há aqui muitos fundos comunitários aplicados na instalação que , em termos de verdade regional , poderiam ser poupados ; muita cópia do que se faz no estrangeiro e pouca experiência regional ;pouca articulação com os outros ramos da actividade agrícola como por exemplo o pastoreio de ovelhas entre Setembro e Março ; a falta de estratégia para o pós--quarenta anos que consiste em , antes que a vinha morra , o solo já esteja ocupado por oliveiras , nuns locais , e por montados , noutros
São desvios á vocação da região que nós, em termos de verdade agrícola , não praticaríamos .mas que seduzidos por estrangeirismo não nos atrevemos a reprovar
c)--FALANDO DE SOLUÇOES - A solução possível , neste apertado leque de condicionantes ,seria , se houvesse coragem política para tanto ,do seguinte teor :---- cessação imediata da transmissão da posse (só posse , não uso ) da propriedade rústica .O desenvolvimento da Irlanda , embora isso não se mencione sempre que se exalta o seu milagre económico , foi devido a uma atitude destas .Claro que nós não somos capazes .
Há ,porem , outras medidas intermédias , mais suaves , que não implicam alterações na posse da terra ( mexer na posse seria como faze-lo a um ninho de vespas de onde jamais se sairia) mas tão só o uso da considerada excedentária ,depois de definida a propriedade tipo .Essa parte excedentária ,objecto de taxas fiscais , seria atribuída de acordo com a legislação em vigor (decreto lei 158/89 ). E aí ,sim , seriam repescados os saberes regionais. Mas rapidamente , antes que se consume a nossa extinção dada a autentica razia a que estamos a alvo
E um assunto importante que iremos abordar em próximo escrito
Francisco Pândega (agricultor)
e-mail:-- fjnpandega@hotmail.comBlog:-- alentejoagrorural.blogspot.com
26.2.06
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