AlentejoAgroRural
e os
Baldios Comunitários
1---A comunidade rural das Terras de Bouro manifesta-se ,de uma forma ordeira e civilizada , em defesa dos seus baldios tradicionais nas serras de Geres e Soajo . É a eterna luta pela manutenção dos baldios com a formula administrava por compartes Claro que o que está em causa é mais alto e mais profundo :-- trata-se de impedir a já velha ameaça do seu esbulho .Dantes pretendia-se mudar as regras administrativas .Hoje prevalecem as questão ambientais e ,mais recentemente , uma certa e muito difusa integração numa tal “fileira florestal “ que já esta a alastrar para os montados alentejanos .Mudam-se as versões mas não as intenções .
Os homens do norte têm resistido .Honra lhes seja feita .Nós não .Não conseguimos impedir o esbulho dos nossos baldios, perpetrado na ultima metade do século XX .Tal como no norte também nós tínhamos grandes baldios comunitários na periferia das vilas e aldeias .Perdemo-los em beneficio dos grandes donos do Alentejo que ,ao apoderam-se do poder local o usaram como meio para no-los capturar .A fórmula foi a de si bem conhecida :--os leilões fraudulentos tal como havia acontecido quando se apoderaram a das terras alentejanas ,indiferentes ao facto delas estarem detidas por famílias de foreiros Mais pobres ,ficamos nas insignificantes courelas na periferia dos povoados a funcionar como reserva de mão de obra Assim , com a espinha quebrada , restou curvarmo-nos perante os novos donos .e submetermo-nos ao sufoco da pesada bota latifundiária O Alentejo ficou transformado numa coutada e as gentes seus serventuários . Já lá vão quase duzentos anos Outros povos ,em iguais circunstâncias têm obtido a reposição dos seus direitos elementares .O caso dos sudetas da republica Checa é disso um exemplo bem eloquente Nós ainda não .
2---O ultima baldio comunitário que resistiu, no Alentejo , foi na freguesia da Granja concelho de Mourão Ate há pouco activo , inclusivamente com a respectiva adua ,.Ao que parece passou para a posse de um espanhol
A função dos baldios comunitários era importantíssima em diversos aspectos :--- Neles os aldeãos caçavam (não por recreação mas sim para se alimentarem ) e estabeleciam colmeais ; recolhiam lenhas , frutos , condimentos e ervas medicinais ; pastoreavam o gados em aduas ; e sempre que necessário retalhavam sesmos (que deu o nome á lei das sesmarias quatrocentos anos antes ) que eram divididos em courelas , que não iam alem de meia dúzias de hectares (terra de um moio ) que eram por sua vez atribuídas , por aforamento, a quem as trabalhasse e enquanto lhe desse um uso normal Mais tarde , ,”remido”o foro (o que será dizer certificar o agricultor ), era-lhe conferido titulo de plena posse
Ter courelas para e obter a auto-suficiência alimentar e baldios que garantiam o redimensionamento da exploração ,conferia ás gentes uma certa áurea de ser parte activa da sociedade Perdidos os baldios foi a capitulação perante as tutelas latifundiárias Foi um rude golpe no nível das perspectivas de vida
3---Que seria hoje o Alentejo se sobre nós não tivesse acontecido essa crueldade de sermos despojados das terras foreiros e dos baldios comunitários ? Seríamos uma região povoada por dois milhões de alentejanos já que o êxodo de cerca de uma milhão (entre os quais se inclui este vosso escriba ) no século passado não teria acontecido Sabido que os campos são o meio óptimo para o estabelecimento da família e procriação ,o Alentejo estaria perfeitamente povoado . Assim ocupados , a região não aproveitou o desenvolvimento galopante que a época de então proporcionou :--- os caminhos de ferro rasgaram o campos alentejanos ,de lés a lés , conferindo-lhes uma mobilidade ate então não experimentada ; Lisboa industrializa-se necessitando cereais, carne, queijos, azeite ,assim como de palha e carvão ; inventou-se a charrua de ferro vira-aiveca que, conjuntamente com uma maior eficácia nas apeiragens dos animais de tracção, tornou possível o arrotear os matagais e, com isso , uma maior produção de cereais a gados ; apareceram os primeiros fertilizantes químicos o que não obstante a sua monovalência levou a que as terras novas , respondessem bastante bem Essas mais valias, resultantes de um meio excelente e gentes com querer e saber fazer, não reverterem a benefício da região , Foram ,isso sim , consumidas na voragem da extravagancia ,volúpia e sumptuosidade dos insaciáveis e exuberantes donos do Alentejo
4---Esta crueldade histórica que impende sobre nós moldou-nos naquilo que hoje somos :---Ao contrario do que acontece nas Terras de Bouro , somos incapazes de perceber que o espaço rústico regional é o legados histórico dos nossos antepassados sobre o qual temos um inalienável direito consuetudinário .Dar-lhe um uso de acordo com os superiores interesses da regionais e lega-lo a geração seguinte , tal como o recebemos da anterior , é um desígnio geracional que temos que honrar
.As vicissitudes da historia tem-nos sido adversas .É um facto .Mas poderíamos ter feito mais nem que fosse um simples sinal da nossa inconformidade Hoje ,assim debilitados e quando é perfeitamente possível reabilitarmo-nos , constata-se que o excessivo tempo de subordinação fundiária e falta de exercício na actividade agrícola , fez-nos perder o ritmo evolutivo .Assim, este estado de abulia , tem sido muito bom ,muito cómodo mesmo, para os detentores das terras alentejanas já que dispõem de toda uma comunidade rural pacata , mansa ,obediente e que não chateia . Mas isso tem custos , Esta brandura não vai ajudar nada quando , agora que o livre direito de estabelecimento está institucionalizado , os apetites sobre a nossa região recrudescem e os governos , mercê dos acordos efectuados , estão manietados .Resta saber se vimos a ter oportunidade de sermos uma solução supletiva ,eficaz e inquestionável no sentido da manutenção da soberania sobre o espaço rústico
Acantonados nas aldeias já que as áreas envolventes nos estão vedadas ; indo trabalhar nas obras ou ficando em estado vegetativo a expensas dos apoios sociais , a continuar assim , vamo-nos degradando moral e profissionalmente até ao ponto de para pouco ou nada contarmos
Percebe-se melhor , o significado destas afirmações , se as contrastarmos com a luta que a comunidade rural das Terras de Bouro trava pela manutenção dos seus baldios .Conclui-se que eles são os vencedores que subsistem .Nós somos os vencidos em lenta agonia
A historia será implacável na condenação dos responsáveis pela extinção desta nossa milenar comunidade rural autóctone .Vitimas do facto de termos vindo ao mundo numa região ubérrima que desperta os mais vorazes apetites ,somos impedidos de nela demonstrar a nossa real valia .Somos marginalizados como se de algo descartável se tratasse Somos postergados em beneficio de endinheirados cujas origens e propósitos são incógnitas ,os quais ,exibindo um espartano desprezo por quem cá está , não olham a meios para atingir os seus fins .Fins esses que jamais se campaginam com os superiores interesses regionais
Francisco Pândega (agricultor)//fjnpandega@hotmail.com.//alentejoagrorural.blogspot.com
26.1.10
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