29.7.08

AlentejoAgroRural
E a

AGRICULTURA

1---Cada região natural é uma unidade agrícola ,com a sua própria especificidade , em resultado das condições edafo-climática onde se insere Passada a faixa de transição , de largura variável , o Alentejo perde toda e qualquer semelhança com as regiões agrícolas contíguas Daí resultam diferentes sistemas agrícolas, raças de animais , variedades de plantas , assim como calendários agrícolas
Fazendo jus ao ditado que diz que “ na terra aonde não nascer faça como ver fazer” é por isso que todos nós , agricultores , sentimos algumas dificuldades na interpretação dos sistemas das outras regiões . Ate mesmo eu , não obstante ter sido agricultor em zonas equatoriais , planálticas e até desérticas e tenha sido profissional de analise da adequação das comunidades autóctones aos respectivos meios ,logo com tarimba na matéria , sempre que saio do Alentejo e perante novas realidades rurais , dou por mim a considerar :--- se tivesse que viver da agricultura aqui morreria de fome
Ora se transpusermos essas dificuldades para os adquirentes ,vindos de outros lados , que por aqui pululam na demanda das terras alentejanas , melhor se compreendem os inúmeros e sucessivos desaires agrícolas a que aqui temos assistido .

2--- Desta permissividade , do tipo colonial , resulta o facto de grande parte do nosso solo rústico estar consignado a estranhos interesses e as gentes rurais alentejanas condicionadas por valores que pouco ou nada tem que ver com a nossa realidade regional .Nestas condições melhor se percebe porque o Alentejo não consegue dar o necessário contributo para a superação da crise que assola o pais e as suas gentes debandem do mundo rural para o urbano , onde perdem a identidade e se descaracterizam
De facto a opressão sobre o mundo rural tem sido uma constante em todos os países ao longos dos tempos Com uma diferença que nos desfavorece :-- os outros , aos poucos e cada um de sua maneira , vão-se libertando
a)---É assim em França a qual , desde a ultima guerra , tem procedido a programas de emparcelamento agrícola .Com base neles procede-se á anexação das explorações desactivadas visando a sua o seu redimensionamento para nives mais consentâneos com as necessidades da época .Com um bem regulamentado apoio bancário a modernização das explorações agrícolas vá-se processando sem atritos .Nessas condições a terra deixa de ser um bem comercial e especulativo , como se de algo descartável ou perecível se tratasse , para ser cedida a agricultores elegíveis ,não interrompendo , desta forma ,a sua função útil Assim se explica a conhecida pujança agro-rural francesa .Assim melhor se compreende a garra com que eles defendem a PAC no seio comunitário
Mas esta vocação agro-rural ,para alem de decisiva em termos económicos , tem também uma importantíssima função na estabilidade social .A contenção do movimento estudantil de Maio-68 foi um dos casos em que a eficiência rural anti-impactos urbanos , funcionou . As enormes proporções contestarias de que ia animado , só perderam a impetuosidade quando os pais dos estudantes , a partir da província , fizeram regressar os filhos que se manifestavam em Paris.
b)--- E a Suiça , mesmo sendo um pequeno pais encravado entre montanhas , subdividido , ate em termos linguísticos , terra do dinheiro , dos instrumentos de precisão , dos medicamentos, etc . faz questão de manter uma relativa autonomia alimentar . Indo ao ponto de ainda pastarem o gado , montanha acima na medida em que a neve derrega e montanha abaixo á frente dos nevões .Como se compreende , um pais assim rico não tem necessidade de se expor a um trabalho tão penoso . Sem desperdiçar as oportunidades económicos , sociais e ambientais , que o pastoreio proporciona , fá-lo , certamente ,também por ousadia ou por brio profissional o que sem duvida é mais enaltecedor do que uma exibição, desprovida de efeitos consequentes , num recinto desportivo
c)---E no Japão , como se sabe , logo a seguir á sua derrota na ultima guerra mundial , os EE.UU encarregaram o general MacArtur para proceder á sua reconstrução . Este , perante as queixas dos mandarins ,que se diziam estarem a perder privilégios agrícolas longamente detidos , depressa se apercebeu da existência de servos da gleba no mundo rural japonês .A resposta foi peremptória :--” a reestruturação do Japão também passa pela eliminação dos parasitas” . Também por isso o Japão é, hoje ,o que é .

3---Não restem duvidas a ninguém .A grandeza de uma nação é sempre directamente proporcional ao desenvolvimento do seu mundo rural .E a reconstrução da agro-ruralidade alentejana,,tal como os casos atrás citados ,também passa pelo parcelamento/emparcelamento ; pela eliminação de privilégios que obstruam o desenvolvimento regional ;pelo esforço continuado do subir e descer esta íngreme montanha da vida , que enobrece ,enrijece e endurece o homem rústico .Sob a égide de um Zé ,um João ou um Manel , em substituição de um MacArtur ,o Alentejo não pode esperar mais .
Francisco Pândega (agricultor) - //// - fjnpandega@hotmail.com -////- alentejoagrorural.blogspot.com.

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