17.4.07

AlentejoAgroRural

JÁ TARDA
1---Já tarda a assumpção da consciência de que, sendo o Alentejo uma das regiões agrícolas potencialmente mais ricas do mundo , não pode continuar a ser das mais pobres da CE . Já tarda o enfrentar-se a presente situação , com coragem e denodo , impondo ,mais do que reformas mitigadas , roturas profundas com os factores que obstaculizam o nosso desenvolvimento . Esta pungente situação é típica dos colonizados que , perdendo a capacidade de luta , se submetem á voragem dos conquistadores . Não há alternativa . Ou se luta pela recuperação do nosso território , em mãos dos autóctones , como nos fizeram os africanos do ultramar ,aplaudidos por toda agente , ; ou continuamos de braços caídos , conformados com esta nova ocupação , que é a continuação da aqui vigente desde há 170 anos e responsável pela degradante situação social e económica em que nos encontramos .

2 --- Submetidos à mais despudorada rapina e cometendo grandes asneiras agrícolas , caímos num estado calamitoso de letargia , de perda de auto-estima muito preocupantes . Senão repare-se

a)--- Já durante a actual geração , mais propriamente a partir de 1985, entrou muito dinheiro , no mundo rural alentejano , quer de origem comunitária quer , quantias ainda maiores , resultantes da sobrevalorização da cortiça Sem resultados perduráveis, já que o mesmo ou foi desviado para actividades exteriores á região ou aplicado , sem resultados , neste tecido fundiário viciado. Para tal concorreram as mais estranhas e bizarras iniciativas agrícolas sempre aureoladas de soluções salvadoras , mas todas, umas a seguir as outras, a breve trecho se foram transformando noutros tantos desastres económicos .
À margem dessa fúria agrícola ficaram os ignotos agricultores tradicionais , marginados nos apoios , apelidados de atrasados e arcaicos, a manter as raças de animais , variedades de plantas e os sistemas agrícolas adequados ao meio que, agora, com as medidas agro-ambientais, estão a ser repescados .Foi o bom senso tradicional a não embarcar em aventuras .
--- Quem não se lembra da Odefrutas, um projecto megalómano, solução milagrosa, de produção de hortofrutícola, para a empregabilidade e obtenção de fundos? Bastou um pé-de-vento, mais forte, que rasgasse os plásticos, mobilizasse a areia e subterrasse as culturas, para deitar por terra esse tão auspicioso quanto falacioso projecto.
--- As enormes searas de trigo de regadio, só possíveis porque muito bem subsidiadas, levaram a que produção regional desse cereal caísse para níveis nunca vistos. Milho, girassol, beterraba sacarina, algodão, culturas de regiões quentes, onde chove no verão, desapareceram com a cessação dos subsídios, dado ser esse, o móbil da cultura.
--- Subsidiou-se o arranque de muitas centenas de hectares de olival para se plantarem outros igualmente subsidiados alguns de fora da bacia do Guadiana, aonde está por provar que sejam rentáveis.
--- Plantaram-se vinhas para alem das cotas habituais. O excesso de produção está a complicar as vendas. Atravancadas por paus, arames e tubos, que encarecem a exploração e tornam impraticável a seu aproveitamento pelos ovinos ,faz recair todos os custos de produção sobre o vinho ., diminui-lhe a competitividade. Breve virá o dia em que se reclamam subsídios para o arranque.

b)--2005 é o ano da entrada , em força , dos espanhóis , com uma estranha estratégia de aquisições de terra suportada por muito dinheiro e uma aureola de modernidade e competência ,projectos e propostas análogas as que nos vínhamos habituando desde os fundos comunitários Com inicio numa faixa junto da fronteira em breve chegaram ao mar .Como reacção ao primeiro embate ,e tendo em conta a inoperacionalidade dos actuais donos do Alentejo , foi de que “venha quem vier não pode ser tão mau como estes que cá estão “ Tal o estado de decepção em que nos encontramos Mas as coisas não são bem assim E quem já andou por outras paragens e viu o comportamento do colonizadores sabe que esta não é uma simples experiência colonizadora .Envolve já uma área considerável e muitas centenas de milhões de euros É a sério , do mais pura e duro , e feita com profissionalismo , sem alarde , mais parecendo que nada está a acontecer É para ficar , mais a mais , tendo em conta o nosso estado de desespero rural , tudo se ajeita para lhes facilitar a vida .

c)— Nesse quadro , há um cenário que se pode aventar , e que ira terá a seguinte sequência . Enquanto for possível manter a actual liberdade de expressão as posições políticas extremam-se. Os beneficiários de empresas e os seus acólitos filiam-se em politicas de direita, enquanto que a mole humana, dos trabalhadores, muito mais b numerosa , na esquerda ; aliás o Alentejo é o paradigma dessa circunstância. Em termos eleitorais isto tem consequências e, tal como na América Latina, acabará por degenerar em turbulência. Resguardar-se-ão por “ seguranças “ que mais não são do que milícias armadas privadas , tal como nas explorações coloniais.
Por outro lado, os bons trabalhadores rurais alentejanos , acostumados sê-lo enquanto tiverem a esperança de vir a ser agricultores , por conta própria ,apercebendo-se dessa impossibilidade , emigram para onde possam trabalhar , inclusivamente na terra , mas sem o desprestígio da servidão que os envergonha na própria A mão-de-obra magrebina substitui-los-á o que apressará a debandada dos restantes.
O êxodo para as cidades recrudescerá com as consequentes pressões sobre os sistemas sociais, tal como nos países do terceiro mundo . Para os manter, porem, é preciso dinheiro. Como este tipo de explorações agrícolas são subsidiárias de outras, com sede alem fronteira , também será lá a sede fiscal .Daí que, com dinheiro á mingua, é melhor nem pensar no que pode acontecer. A inconformidade com a nova situação alastrara mas ,tendo em conta a degradação social a que chegamos , nada ,com efeitos práticos , acontecerá .

3 –Com isto não é dizer que , se bem que tarde , ainda não seja possível reverter a situação .Importa porem que se use firmeza na aplicação dos instrumentos que dispomos para o efeito , como abundantemente tenho referido em /// alentejoagrorural.blogspot.com/// A salvação do essencial passa pela limitação da dimensão da propriedade rústica por meio da reformulação da actual lei dos indivisos , de forma a que, para alem dos limites mínimos de fraccionamento , também imponha um teto máximo de dimensão , taxando as áreas que vão para alem do suficiente para o normal exercício da actividade agrícola .O meio será unicamente o fisco e a base será a pontuação em função da capacidade de uso dos solos . Resultam terras excedentárias, com destino as jovens universitários que , enquadrados por agricultores experientes , irão constituir uma quadricula povoadora ,formada por agricultores efectivos , livres ,participativos, assíduos ,única forma de salvaguardar os superiores desígnios regionais .
Francisco Pândega (agricultor) –fjnpandega@hotmail.com /// alentejoagrorural.blogspot.com

10 comentários:

Anónimo disse...

Mas V. acha que , fragilizado como está o governo , devido a essa questão da universidade independente , que está em condições de agir num ramo tão delicado ?

Anónimo disse...

O governo não fica fragilizado , dado tratar-se de um sórdido ataque , na sequencia de outros que lhe têm desferidos . Creio que sai reforçado e capaz de , logo que interiorize o enorme desafio que esta anexação territorial representa , o enfrentar com a coragem com que o tem feito noutros casos .Francisco Pandega

AlentejoAgrorural disse...

Mas V. acha que , fragilizado como está o governo , devido a essa questão da universidade independente , que está em condições de agir num ramo tão delicado ?

AlentejoAgrorural disse...

Neste artigo afirma que o Alentejo é uma das melhores regiões agrícolas do mundo .Não é isso que parece nem isso que tenho ouvido dizer . V. não estará a exagerar ?.

AlentejoAgrorural disse...

Neste artigo afirma que o Alentejo é uma das melhores regiões agrícolas do mundo .Não é isso que parece nem isso que tenho ouvido dizer . V. não estará a exagerar ?.

Anónimo disse...

Sera que v .é anti-espanhol ? Não acredida na inovação que os espanhois são portadores ' Sem eles qual seria a solução ?

Anónimo disse...

Resposta
Não sou anti espanhol . Admiro ,antes sim ,o seu desempenho agrícola , mas em Espanha . Aqui , e no sector agrícola , não vejo com bons olhos a sua exagerada presença Tanto cá como lá a terra é pertença das comunidades rurais .A forma avassaladora como adquirem o Alentejo e exibem uma tecnologia que só encanta os bacocos , é a forma de dilatar as fronteiras . Acontece que , com isso , nós somos definitivamente arredados do uso do nosso espaço agrícola . Em parte alguma do mundo se compra um território tal como acontece aqui . Em parte alguma se ignora a função dos autóctones como a mais legitima forma de preservação da soberania Francisco Pândega.

Anónimo disse...

Resposta
Dizer-se que o Alentejo não presta deve-se ao facto dos poderosos que o detêm evitarem alardear as imensas riquezas que daqui extraem .
Como se pode ver (neste blog no artigo o QREN ) tem 60% de terras de terras mais fracas mas mesmo assim capazes de produzir montado (uma riqueza colossal ) e pastagem .Não conheço região alguma , como o Alentejo , em que em toda a sua vasta extensão seja agrícola . O que aconteceu foi a expulsão dos seareiros e a sua ocupação por marginais ao sistema e golpistas de todo o género que se aproveitam da incapacidade de reacção das s suas gentes . Francisco Pândega

Anónimo disse...

Dizer que se podem estabelecer agricultores residentes nos campos , mais parece que você não é desta época. As pessoas querem regressar as cidades ,todos os dias , dormir nelas , ver televisão ,tomar café e divertirem-se .

Anónimo disse...

Resposta
Pode-se tomar café , ver-se televisão e ter contacto com o mundo ,via Internet , mesmo num monte . Convívio social de facto só com pessoas .Mas num povoamento normal (que não é o nosso caso ) ,em explorações de media dimensão (digamos dois Km2 em média ), resulta numa malha de povoamento em que se podem ver os vizinhos , falar com eles e manter um fácil convívio .Não tão próximo que gere fricções nem tão longe que isole . Com interesse comuns , estabelecem-se contactos e solidificam-se interesses . A gente nova convive , com muito maior honestidade ,uns com os outros, fazendo amizades que frequentemente resultam matrimónios .Amizades mais sólidas do que as superficiais nas urbes . È isto o que se chama ruralismo .Francisco Pândega