31.7.05

Alentejo agrorural
E O VENTO
1---- É demasiadamente grave a nossa dependência energética . Não só pelos enormes preços que o petróleo alcançou mas , muito principalmente , porque estamos á mercê de um produto importado que , a haver alguma perturbação nos transportes ,de que resulte em rotura de abastecimento , a nossa vida transforma-se num pandemónio inimaginável Para aliviar essa dependência , projecta-se a instalação de parques eólicos ,ou seja de grupos de aerodínamos , accionados pelo vento , destinados á conversão da força do vento em energia eléctrica É bom recordar que , já em tempos e utilizando a força do vento , percorremos , de caravela , os mares nunca dantes navegados .Com vento habilmente utilizado ,fomos um povo grande entre os maiores Os tempos ,hoje , são outros . Porque perdemos a garra de então ,amolecidos na dependência do estado ,temos que ser mais contidos nas aspirações concentrando-as naquilo que seja exequível e facilmente alcançável . Aumentar, para o máximo possível , a produção de energia renováveis , constitui , nas actuais circunstancias , um imperativo nacional .O deus Eolo dotou-nos com um tipo de vento perfeitamente aproveitável . .Aproveitamo-lo , pois , já que é uma benesse da natureza que pode aliviar substancialmente , os custos da factura energética e ,com isso , aliviar o mau estar resultante da dependência de terceiros

2---- Outros países, utilizando a força do vento , desenvolveram as respectivas economias . Também nós , dada a bonomia , regularidade e previsibilidade dos nossos ventos ,temos essa possibilidade . Aliás utilizamo-lo abundantemente , nas lides agrícolas , até meados do século passado .
a)-- A Namíbia é um exemplo, bem conseguido , de sucesso , na utilização da energia eólica no accionamento de aéro- bombas .Muito simples e funcionais elevam a agua , das profundezas do deserto, para a superfície , transformando uma região desértica numa grande produtora de gado bovino Como se sabe a Namíbia , ex-colónia alemã do sudoeste africano , situa-se a sul de Angola . A Ocidente tem uma vasta costa atlântica .Essa costa que desde Moçamedes até a cidade do Cabo ,(uns milhares de quilómetros ,) é um dos desertos mais inóspitos do mundo aonde a agua superficial é praticamente inexistente Não tem matas mas somente arbustos rasteiros ; alguns pastos esparsos com uma palatibilidade do tipo salgado ; só areia e muitas rochas desnudadas . Essa aridez física e climática , escassez de agua , esterilidade dos solos , amplitudes térmicas , característica dos desertos , são devidas á corrente fria do Antárctico , que penetra no interior quente , e o transforma a em deserto Tem agua ,nas camadas profundas ,e tem muito vento ( a capital é Windooek –wind +ooek = casa do vento ) .O aparecimento da aerobombas foi providencial .Sendo um instrumento muito simples não deixa de ser funcional , quiçá o único possível , naquelas circunstancias e naquelas épocas .De onde vem essa agua , presente nas camadas mais profundas ? Interrogamo-nos ao atravessar o deserto.A explicação do indígenas é assim :-- No Planalto do Huambo (Angola ) nascem dois grandes rios que partem para sul , paralelamente , na direcção da Namíbia Ali chegados inflectem cada um para seu lado em direcções opostas ,fazendo fronteira :--- O Cunene para o Atlântico e o Okavango para o Indico .Acontece que , não obstante serem dois rios enormes ( fazem parte dos cinquenta maiores rios do mundo ) nenhum chega ao mar perdendo-se nos areais respectivamente da Namíbia e o Kalaari . Perante estes factos não deixa de haver alguma verosimilhança na afirmação de que agua no subsolo destes desertos é devida a esse rios É um exemplo bem eloquente do que ,com base em instrumentos simples e de fabrico caseiro , se pode transformar completamente uma região .No nosso caso importa descer ao mundo da realidade e retirar deste facto as devidas ilações
b)-- O nosso vento é caracterizado por ser muito certinho , regular, sem velocidades excessivas ,bonançoso , muito pontual e previsível .Desde há mais de sessenta anos que não há nenhum ciclone .Não nos podemos queixar ,como outras regiões , de destruições e catástrofes por ele causadas . Como se sabe ,quando o vento é muito forte e carregado de chuva , arrasta terras do que resulta a conhecida erosão ravinosa .Se forte , na terra seca, levanta nuvens de pó , no chão fica a areia e a rocha emergente .È a erosão eólica que empobrece os solos e faz desertos Felizmente o nosso vento não é desses Quem, como nós , anda por esses campos , todo o dia durante anos, sabe que o comportamento do vento se enquadra no seguinte quadro :-- Nos dias de verão temos, pela manhã , uma aragem fresca ,às vezes húmida (brandurada) ;durante o dia o sol aquece o vento não mexe ,dando lugar á nossa tão glosada calma ; de tarde prenda-nos com um ar fresco , bonançoso, vindo do lado nascente ou seja do mar , ao qual nós ,por isso mesmo, designamos por maré .No Inverno , quando do sul , é um vento irregular , gélido e cortante , (suão ) ; ou então se do norte (designado por nortadas ) , geralmente transforma-se em ventania fria, e não raro carregada de chuva, cuja origem , ao que se diz ,é , predominantemente , do Maciço Central da Península Ibérica.Sem aleatoriedades que causam estragos , o nosso vento espera que o transformamos em energia quer mecânica quer eléctrica Com os actuais preços do petróleo não há tempo a perder .
c)-- .Para alem da navegação , também na agricultura , nós utilizamos a força do vento com bastante êxito . Nas eiras , aquando das debulhas , a palha era separada do grão por meio de uma operação denominada espalhagar ,que consistia em lança-la contra o sentido do vento do que resultava a separação da a palha do grão por efeito dos diferentes pesos específicos Outra aplicação era a moenga dos cereais nos moinhos de vento ,os quais , edificados em locais estratégicos ,tinham a função de transformar a força do vento num movimento rotativo de uma mó , sobre outra estática ,por entre as quais o trigo era farinado Estas formas de aproveitamento, quer nas eiras , quer nos moinhos ,pertencem ao passado. Terão que dar lugar ás modernas aerobombas e aos aerodinamos .. Não estou a referir-me ao aproveitamento da energia eólica , em grande escala Isso transcende o âmbito deste escrito . Estou a falar do uso da energia eólica ,nas explorações agrícolas dispersas , que precisam de autonomia enérgica para pequenos usos :--- elevação de agua para uma horta familiar , gastos de casa ,animais domésticos ,baixa tensão para a iluminação , aparelhos de comunicação ,pequenos equipamentos , etc . O facto de estar uma curso a instalação dos canais de regadio de Alqueva, não retira minimamente a valia da energia eólica na dimensão que propomos . São equipamentos de diferentes dimensões para diferentes fins .A rega a partir de Alqueva destina-se a grandes regadios agrícolas os quais, logo que a cultura deixe de precisar de água , fecham-se as adufas até para o ano seguinte .

3---- Nem só com grandes empreendimentos se desenvolve a região .Pequenos ,simples ,funcionais, enquadráveis nos sistemas agro-sociais locais , são indispensáveis para o bom desempenhos da economia agro-rural O aproveitamento do vento ,porque perfeitamente ao nosso alcance é um deles .Discutindo ,com um amigo , o conteúdo deste escrito, antes de do seu lançamento, dizia-me ele:-- É absolutamente funcional para o fim proposto. Contudo quem são os destinatários ?- A pouca população que ainda resta nos campos alentejanos está acantonada nas aldeias . Os montes ,os destinatários naturais , são , na sua quase totalidade , pertença de estranhos ao meio e residentes algures , que tem uma noção egoísta e inconsequente do mundo rural .Daí que a sua disseminação tenha de ser antecedida de uma reestruturação fundiária que atribua á terra uma função social .Os equipamentos eólicos só irão pontilhar a paisagem alentejana quando os actuais “legítimos direitos “ sobre a terra ,forem substituídos pelo conceito de ruralidade FRANCISCO PÂNDEGA (agricultor)E mail:- fjnpandega@hotmail.comBlog—alentejoagrorural.blogspot.com

2 comentários:

David Nogueira disse...

Olá sou David Nogueira e ando em busca de uma bomba eólica para elevação de água para apoiar um projecto missionário em Angola. Se alguém souber de alguma empresa que fabrique, venda ou queira oferecer agradeço.

Anónimo disse...

ler todo o blog, muito bom