AlentejoAgroRural
e as
SEARAS
1--- O nosso país e , ao que parece , a restante Europa , está a braços com um preocupante deficit de cereais De tal ordem que , nos últimos meses ,o trigo , que era vendido a 25$00kg, passou para cinquenta havendo casos , devido as sementeiras ,que triplicou . Os restantes cereais sobem na mesma proporção e, com isso ,encarecem a carne , os ovos , o leite , etc . Mas a crise começa a atingir o pão , não só em termos de preços como ate a previsível carência . A solução imediata é o recurso as importações dos EE.UU, por um lado e , por outro , dar inicio á retoma da produção regional .
2--- Só se entende a cerealicultura regional desde que se conheça o comportamento do meio ,cujas características dominantes são :--- Cerca de 25% são terras de boa qualidade onde a cultura de cereais pode ser feita de forma intensiva , sem que para tal sejam necessários conhecimentos especiais È nessas terras também que se pratica o regadio se plantam vinhas e olivais Nos restantes mais de dois milhões de hectares de terras ligeiras ,de vocação agro-silvo-pastoríl , tem que haver mais parcimónia no seu cultivo . Importa que se mantenha revestida de montado ,o que não significa que se vote ao abandono como se de uma vulgar floresta se tratasse .Por outro lado , e dada a sua susceptibilidade ao mau uso , implica que se conheça o seu comportamento e , como tal ,se faça uma intervenção ajustada .
a)—Após uma seara , se o solo não for mobilizado inicia a designação de pousio cuja função é a sua recuperação natural :-- Dá-se o reaparecimento da pastagem (se não tiver sido dizimada por herbicidas ) ; recupera o fundo de fertilidade ; aumenta a espessura da camada arável ; eliminam-se as pragas e doenças das culturas anteriores O pousio faz ,pois , parte integrante do sistema .
Porem , se continuar sem mobilização ,a partir dos sete anos ( variável segundo a intensificação anterior ) deixa de se chamar pousio , para se tornar num inculto produtivo .A partir daí dá-se inicio á degradação do solo :--- vão desaparecendo as pastagens e , em seu lugar, surgem os arbustos ; a fertilidade entra em declínio, o solo compacta-se tornando-se impermeável á agua e acidifica-se ; a camada arável de solo perde a espessura devido á erosão ; surgem os musgos e líquenes , vegetais primários que tudo sugam e enfraquecem ; os montados definham e morrem .
É o regresso ao Alentejo do matagais , inóspitos e agressivos ,aonde as medonhas queimadas de outrora voltam a propagar-se dado que a vegetação , ressequida e resinosa ,se torna altamente combustível.
b)--E neste quadro que a cerealicultura se insere em articulação com a pecuária e os montados .Daí a designação de agro-silvo-pastorícia.
Um alqueive , no Inverno ,e inicia-se um novo ciclo de cereais. Chegadas as aguas novas (Setembro ) , no referido alqueive ,e como cabeça de rotação , semeia-se geralmente trigo e no ano seguinte , as denominadas relvas de aveia. Sendo uma regra geral , há excepções de acordo com a maior ou menor densidade do montado e da aptidão do solo Essa seara é ceifada na parte que mereça a pena .Os restos , os “repelos “ sob a copa dos chaparros , nos “arrifes “ pedregosos ou as baixas húmidas ,vão ser aproveitados pelo gado que ao pastoreia directamente ( “ o que não vai a eira vai á salgadeira “) . Após as relvas ,volta a ficar de pousio o qual , passados anos , recomeça outro ciclo e assim sucessivamente com a predeterminada periodicidade.
c)— Nestes condições e aos preços actuais dos cereais , fundas a partir do mil quilos /ha ,em média , já são rentáveis . Convêm acrescentar que , quer os montados , quer as nossas raças autóctones , quer os cereais assim cultivados ,não tem grande performance nem produções unitárias elevadas Espera-se , isso sim , baixos custos de produção e muita qualidade , assim como a perenidade do sistema dado estar harmonizado com o meio .Nestas condições , não se podem imputar os custos somente aos cereais mas sim reparti-los pelo gado e montados que são directamente beneficiários .E indirectamente á preservação paisagística e ambiental ; á protecção contra incêndios ; a manutenção da fauna silvestre ; e até á presença do homem em espaço rural para lhe conferir a indispensável humanização . O Alentejo agro-rural é a assim mesmo :-- tudo tem que ver com tudo e tudo se processa num intrínseco encadeamento A interferência de estranhos ao meio geralmente detentores do espaço rural , destrói esta sequencia de interligações
3--- Contra o sistema tradicional insurgem-se os megalómanos agrícolas que , sem terem em conta a condicionantes do meio , contrapõem o uso de potentes tractores que tudo arrasam ; fertilizantes e pesticidas a esmo .Se falta de chuva faz-se rega artificial , se o tempo vem áspero cobre-se com plásticos .Passado o ímpeto inicial depressa se cansam de tanto errar .Porque influentes é-lhes fácil um emprego ,geralmente no estado , de onde , e com o dinheiro dos contribuintes , impõem regras àquilo onde foram uns falhados
È por isso e por darem ouvidos aos inúmeros investidores que por aqui pululam ,cujos verdadeiros propósitos não são claros , portadores de soluções miraculosas que inebriam os decisores , que isto esta como está :-- a produção de cereais desce para níveis vergonhosos ; as populações rurais empobrecidas vivendo a expensas da segurança social , debandam transidos de saudade .Resta o vazio agro-rural a ser preenchido , de uma forma galopante , pelos novos conquistadores que, desde o inicio do século XIX se haviam esquecido de nos tomar .O que dói é ignorar-se que a solução se encontra entre nós .
Francisco Pândega(agricultor /// e-mail-fjnpandega@hotmail.com/// blog-alentejoagrorural.blospot.com
30.10.07
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