24.8.07

AlentejoAgroRural

POLÍTICO

1--- Basta que se tenha um mínimo de sensibilidade sócio – agrária para constatar que o AlentejoAgroRural constitui um caso de desvio politico aos padrões normais de uma sã ruralidade Trata-se de uma comunidade fracturada, em duas formações distintas, cada qual ocupando um extremo do espectro politico O centro, que deveria ser o campo mais numeroso, está desertificado, em termos de adesão politica, por parte dos homens da terra

2---Se bem que hajam, no terreno, três classes sociais, bem diferenciadas, elas agrupam-se em dois partidos políticos: --os trabalhadores rurais militantes no PCP, á esquerda ,e os grandes proprietários assim como os pequenos e médios agricultores, á direita. Parece uma incongruência, (tudo no Alentejo é incoerente) mas é assim mesmo como passamos a pormenorizar.
a)----Trabalhadores rurais são a classe mais numerosa e a que, no meio rural, tem maior implantação autárquica. Organizados pelo PCP, foi nos tempos da reforma agrária que atingiram o pleno Mesmo sendo individualistas, deixam-se arregimentar por essa formação politica, de natureza colectivista, cujo solar são as zonas do operariado industrial e entre uns tantos intelectuais utópicos .Nos campos , a sua existência só é possível quando haja bloqueio fundiário como acontece entre nós. Daí o raciocínio vigente :-- Sendo os latifúndios alentejanos uma forma de colonização ultrajante, venha o que vier não pode ser tão mau como a sua manutenção assim como a possibilidade de desforra contra os arqui-inimigos, ou seja os grandes proprietários rurais a quem atribuem as culpas desta calamitosa situação. Agora, com a venda de terras aos espanhóis o problema agrava-se dado haver também , passada a estupefacção inicial , quem considere: -- se a terra é um bem descartável, como qualquer outro , vendam-na até ao último hectare ,e arquem com as consequências históricas. Se for considerado um bem pátrio , então somos nós ,comunidade rural autóctone , os seus legítimos destinatários. Trata-se de uma situação de enorme gravidade, em relação á qual se tem que prestar atenção , e indefensável seja a que pretexto for .
b) ----Os grandes proprietários rurais, gente ausente, com pouco expressão politica, mas com enorme poder económico e uma estranha capacidade de manobra nos centros de decisão Alem disso exercem uma desmesurada influencia politica através das organizações agrícolas que dominam a seu bel-prazer. Votam na direita sonhando com o regresso do estado novo que representa o apogeu dos seus tempos áureos. Recentemente, talvez por terem percebido que esta forma de deter a terra está esgotada, estão a vendê-la aos espanhóis. Trata-se da derradeira punição ás gentes do Alentejo; trata-se de uma afronta sem precedentes aos fundamentos da nação Só possível devido ao facto de antes ter destruído toda e qualquer capacidade de reacção das gentes rurais . Mais eficazes do que o bolchevismo russo , que subjugou povos durante noventa anos , sem que no entanto tivesse logrado anular a sua capacidade de defenderem as respectivas pátrias Daí que um caso ,como o nosso , de aquisição/venda de uma faixa á nação contigua seja absolutamente inconcebível
c)--- Entre estes dois grupos extremos, do espectro político regional , estão os pequenos e médios agricultores que, pela natureza a sua posição em relação ao seu passado de seareiros , deveriam ocupar um lugar intermédio ou seja: -- o centro politico. Não é isso, porem, que acontece. Votam na direita ao lado dos grandes proprietários rurais Por três ordens de razões e sempre pela negativa: --- não votam com os trabalhadores por uma questão de estatuto social; para não melindrar os grandes donos do Alentejo de quem esperam umas migalhas traduzidas numa courela , para uma cultura de campanha ou uma pastagem , que estes prodigalizem quando estejam bem-humorados; porque ainda se não esqueceram , aquando da reforma agrária, das ameaças de incorporação das courelas na colectivização. Claro que, passada que foi, uma geração essa questão já está atenuada

3---- Como enfrentar esta situação, de puro descalabro politico /partidário? Interrogar-se-ão aqueles que tenham alguma preocupação em relação ao facto do Alentejo estar sob ameaça. De facto o actual sistema proporcional, em ciclos, sem correspondência com as regiões naturais, é injusto e não nos conduz á reabilitação. Isto porque os dois partidos representativos da agricultura, não têm projectos exequíveis. Logo , os desígnios regionais são tomados pelo todo nacional, sempre de forma mitigada, uns porque não compreendem a nossa especificidade regional, outros porque, beneficiado do actual caos, quanto pior melhor.
O nosso problema tem que ser resolvido por nós próprios, com a ajuda do estado já que este é o único responsável por esta degradante situação, dado ter-nos entregue, há mais de um século, ao livre arbítrio dos dois mil donos do Alentejo, que se encarregaram de, usando a terra como meio, nos anular como comunidade rural autóctone
Presentemente, vendo que a sua acção está a chegar ao fim , e como acto derradeiro de mau perder, transferem a terra para estrangeiros, certos da nossa incapacidade reactiva. São os mesmo que há pouco batiam no peito invocando, para si, o sagrado direito á terra. Pelos vistos o seu conceito de sagrado é convertível “ a troco de um prato de lentilhas “ que o mesmo será dizer por uma mala contendo uns milhões de euros.

4--- Evidentemente que ainda há soluções. Mas o estado de degradação é tal que, o que seriam intervenções pontuais, aqui e ali, hoje ,porque insuficientes, terão que ser tomadas medidas de fundo, senão mesmo roturas, no campo agro-rural. E elas terão de incidir no uso da terra (não estou a falar de posse) definindo “o agricultor tipo na exploração funcional” Feita a opção ,há que , de uma forma hábil e paciente , guiar o mundo rural para o predomínio de explorações de média dimensão com um rosto ou seja uma pessoa /família , como responsável . Tema bastante aliciante, que temos abordado sob a designação de AlentejoAgroRural, com alguma minúcia. Será sob a definição de agricultor tipo na exploração funcional que se poderá criar uma onda de adesão ao centro político (de onde emana o actual governo) que dissuadirá aqueles que tem uma visão colonial do uso da terra ; trará para esse centro político a totalidade dos pequenos agricultores, que deixarão de ter necessidade de andar á babugem dos grandes donos do Alentejo; assim como a maioria dos comunistas rurais que se aperceberão que o colectivismo é uma falácia que, a ser levada a efeito, seria tanto ou mais inumana do que a presente situação
FranciscoPândega.(agricultor ) e-mail—fjnpandega@hotmail.com // blog-alentejoagrorural.blogspot.com.

1 comentário:

Graza disse...

Mais uma excelente análise.