14.2.07

AlentejoAgroRural
e a
PÁTRIA
A Pátria ,como a saúde , a liberdade e outros, é um bem cuja grandeza só é entendida,,em toda a sua plenitude ,depois de perdida .Daí que aqueles que tenham passado pela desdita de dela ter precisado , como ultimo recurso, para manter a dignidade senão mesmo a integridade física, têm o dever de alertar os seus concidadãos para a sua superior valia .. Podem até certas pessoas alegar que a sua pátria é o mundo. Será, para eles, até os factos lhe demonstrarem o contrario. Não o é certamente para o comum cidadão que moureja , emigrado por aí, que exulta embevecido ao referir-se à sua pátria e sente na carne o facto da sua integração, em terras estranhas, ser sempre relativa.

PARA QUE SERVE ? interrogam-se aqueles ,porque a têm , nunca sentiram a sua verdadeira finalidade . Interiorizei isto ,por amarga experiência vivida , aquando de uma fuga dramática do ex-ultramar. Tamborilava na minha cabeça a repetitiva cantilena: --“ vai-te embora branco colono explorador que esta não é a tua terra “. Terra, pátria, valores que, a partir desse momento ,assumiram, em mim, uma grandeza até então não sentida. E no meio da debandada , de milhares de pessoas em desvairada corrida, interrogávamo-nos:-- aonde está a nossa pátria que nos entrega ,sem apoio , á barbárie ? Soubemos , mais tarde, que a nossa pátria estava doente , com tal gravidade , que ainda hoje não se recuperou .
Foi assim que, no verão de 1975 , chegamos ,com vida , cerca de cem mil portugueses , aos campos de concentração de refugiados , de Cullinann ,arredores de Pretória ,Africa do Sul .Connosco vinham estrangeiros ,predominantemente agricultores alemães ,residentes em Angola desde antes da ultima guerra e alguns com origem no ex-Sudoeste Alemão , agora Namíbia . Esses , mal chegavam, eram visitados e recolhidos pelos respectivos cônsules aos quais as autoridades sul-africanas prestavam uma invejável deferência .Contrastando connosco e representantes do nosso pais , em relação aos quais eram arrogantes e sobranceiros .Nós ,para eles ,éramos os poltrões que fogem sem dar luta e a nossa pátria resvalava para o comunismo .Para eles , porque duros senão mesmo violentos ,ser cobarde ou comunista são comportamentos desprezíveis .Esta estranha atitude não invalidava o apreço que tinham pela nossa história ,tida de homens determinados e valentes . Daí manterem um elevado respeito pelo padrão implantado por Bartolomeu Dias assim como a gruta do correio de Vasco da Gama .Para eles mais do que um lugar de turismo , é uma espécie de culto . Até mesmo as duas melhores avenidas da cidade do Cabo , tinham os nomes desses nossos navegadores .O que ,francamente , nos embevecia mas, por outro lado , nos colocava uma interrogação ;- como foi possível termos caído tão baixo ? .

MAS O QUE È A PÀTRIA ?- Convêm abordar esta seriíssima questão , agora que há alguns portugueses para quem a Pátria não ocupa o lugar cimeiro na sua hierarquia de valores. Antes sim permitem-se sondagens que mais não são do uma denuncia da baixa moral de quem as produz .A pátria não se discute ,dizia Salazar ,o ditador que errou , excessivamente , nos mais variados domínios , mas não neste .
Mas ,em suma , o que é a nossa pátria ? É este espaço físico sobre o qual se exerce a nossa nacionalidade ,se fala uma língua própria e se foi construindo uma história .A língua e a história são , porem , valores adquiridos que só perduram enquanto este espaço territorial for nosso .Isso deixa de acontecer , tal como com Olivença , se o perdermos O espaço territorial ( a terra ) , esse sim constitui a essência da pátria e congrega , em si , esses e muitos outros valores . Daí haver alguma estranheza ouvir responsáveis defender que as empresas ,tidas por estratégicas (tanto quanto os conheço não se referem ao mundo rural ) , devem permanecer em mãos nacionais ,sem que tenham uma postura , tanto ou mais determinada , quando se trate do nosso espaço territorial já que o somatório de todas as explorações agrícolas corresponde exactamente ao tamanho da nossa pátria

O ÂMAGO DA PATRIA é o mundo rural .Porem , nesse campo ,somos a mais absoluta negação em termos de eficácia Defendi , há vinte anos ,sem resultados visíveis , que o estado , através da Caixa Geral de Depósitos , deveria apoiar a aquisição de terra própria ,nos moldes em que o faz para casa própria .Com isso aproveitávamos os abundantes recursos financeiros , disponibilizados pela PAC, para o efeito . Aliás era uma antecipação do que agora faz o banco Santander na aquisição do Alentejo por parte dos espanhóis Não há ,pois , entre nós, uma visão estratégica para o nosso mundo rural Há antes sim uma inépcia agrícola gritante .A prova-lo esta o despovoamento mais parecendo um vazio humano ; , a falta de produção devida ao sequestro da terra ; o facto da maior parte da região ser detida por quem não exerce a actividade ; a incapacidade das gentes rurais defenderem o seu espaço e os seus valores É uma inépcia que já deixou de surpreender . Agora, que não consigamos fazer a interacção entre agricultura e pátria , já é surpreendente porque displicente .
Francisco Pândega (agricultor ) /// e-mail—fjnpandega@hotmail.com //// blog-alentejoagrorural.blogspot.com

Sem comentários: