26.2.07

AlentejoAgroRural
e a
CE (comunidade europeia)

A CE volta a referendar a constituição . Agora revista, continua a ser de concepção federalista, como convém, mas expurgada dos factores que deram origem anterior rejeição. Actualmente governada com base no tratado de Nice, elaborado para outra época, para outras questões e para um menor número de membros, tornou-se claro ser insuficiente para lidar com os problemas actuais. A Europa, precisa de uma constituição unificadora para as relações internacionais mas descentralizada internamente com base nas regiões naturais .

A EUROPA COMUNITÁRIA, esta velha e muito experiente Europa, detentora de uma vasta experiência adquirida em guerras fratricidas, dizimada por fomes e varrida por pestes, conhece, por experiência vivida, o valor da paz e da ordem. Defensora intransigente do seu mundo rural, traduzida nos substanciais apoios da PAC, mesmo ao arrepio dos ditames da OCM (organização comum de mercados), sabe ter o dever inalienável de preservar as suas raízes e, com isso, a estabilidade social e segurança alimentar. É nesse conceito governativo que nós, região Alentejo, tentamos inserir-nos mas, por deficiências estruturais básicas, não conseguimos alcançar os seus padrões de desenvolvimento, já que persistimos na manutenção de uma estática fórmula fundiária; capitulamos seduzidos perante o dinheiro que jorra do lado de lá das fronteiras; inebriamo-nos face a sistemas agrícolas exóticos, certamente funcionais noutros meios regionais não o sendo necessariamente aqui; subavaliamos o quer e saber regional preterindo-o em beneficio de miragens agrícolas que, umas a seguir ás outras, vão sendo um somatório de fracassos.
Estamos a falar da Europa pós guerra sobre cujas cinzas adoptou uma nova ordem A sua génese fundacional teve por base as regiões ou povos, que são uma e a mesma coisa , e não Europa das nações como comummente se denomina. É que entre uma região e uma nação hão diferenças enormes Uma nação é uma construção formada por diferentes regiões anexadas por guerras e mantidas pela força. Já a região é uma unidade geográfica diferenciada das circunvizinhas da qual resulta uma agricultura muito própria a consequente multiplicidade de actividades exógenas das quais deriva um homem cujo comportamento social é a emanação desse mesmo meio. Acontece que as nações, quer porque compelidas pelos povos que as integram, quer por razões de estratégia económica, foram autonomizando as suas regiões naturais. O exemplo da Espanha, aqui ao lado, com as suas diversas regiões cada uma com diferentes estatutos autonómicos ,é o paradigma da eficiência regional. Nós não o fizemos. A nossa tentação pelo concentracionismo, a incapacidade de resistir aos poderosos interesses que ,de longe nos condicionam arruínam-nos completamente em termos económicos, sociais e identitários, ao ponto depor em causa a nossa soberania

O NOSSO MODELO agro rural centralizado, está esgotado não tendo a menor possibilidade de se integrar nos conceito comunitário. Sendo o Alentejo riquíssimo é incompreensível que tenha caída tão baixo ao ponto de claudicar por incapacidade de se governar . É como morrer-se de sede atolado em agua só até ao pescoço Tal como está , nem o resultado poderá ser outro . Uma administração a partir de Lisboa que detêm a governação até ao pormenor ; o poder sobre a terra concentra-se no exterior da região ,na posse de pseudo –agricultores ,incapazes de cumprir o dever que a sua posse impõe . No campo ficam gentes que pouco mais têm do que as ruas das aldeias e umas parcas courelas inviáveis para a agricultura de hoje . A afectividade rural soçobra .Face aos intransponíveis constrangimentos fundiários sentimo-nos estranhos no nosso próprio meio Daí a facilidade com que esta extemporânea colonização se estabelece ,sem o menor obstáculo que lhe modere o ímpeto ,mais parecendo uma fúria pela captura de espaço
Contudo , os fundamentos desta colonização assentam numa fraude monumental: --- somos acusados de não sermos capazes de produzir. Mentira. Fomos nós que, em condições desvantajosas , fizemos do Alentejo o celeiro de Portugal .Desenvolvemos o sistema, hoje recuperado pelas medidas agro-ambientais, denominado agro-silvo-pastoril , que integra o olival, a vinha e o regadio, articulados entre si constituindo-se num todo perfeito em todos os aspectos inclusivamente a rendibilidade qualidade e ambiente A génese da nossa destruição, como povo, reside na questão fundiária. Eis, pois, o drama, com que sempre esbarramos e que nos arruína como comunidade rural .
Os estrangeiros, porem, não obstante a abundância de recursos e facilidades na captura de subsídios, ainda não demonstraram que fazem tão bem como nós ou tão pouco que fazem algo perdurável . Dão nas vistas por ser exótico sem que na pratica passem disso mesmo .Só nós estamos em condições de proporcionar aos campos a multifuncionalidade que lhe esta inerente .Ou seja, para alem da produção de alimentos proceder a um povoamento harmónico do território, preservar o ambiente ,manter as raízes históricas , enfim manter vivo e actuante o nosso Alentejo .E isso somos nós quem tem o querer e o saber fazer .Que os estranhos ao meio não acertem nas formulas viáveis de agricultar é sabido já que “na terra aonde não nascer faça como ver fazer “ e eles, como aliás , todos os conquistadores , não têm a humildade de aprender com os conquistados
Tem que ser imposta alguma ordem nesta escalada colonizadora . Não é impune que uma nação milenar, como a nossa , que pelo facto de estar a atravessar um mau momento, possa ser seduzida e adquirida, pela nação contigua, nos que são os seus fundamentos básicos. E se há coisas que o dinheiro não compra é o solo e a dignidade de um povo Evidentemente que o que poderia ser uma coexistência pacífica acaba, mais tarde ou mais cedo, por descambar para o tumulto logo que as suas consequências, que presentemente se circunscrevem aos campos, transbordem para os meios urbanos o que, dada a velocidade com que tudo isto se processa, acontecerá rapidamente. E a inconformidade , que a razão acentua , acabará por ir parar ao tribunal das comunidade onde será dirimida .

ORA É AQUI QUE COMEÇA a razão deste escrito. Faz parte intrínseca da génese comunitária a defesa dos povos nas suas respectivas regiões Face a isso não lhe resta outra hipótese, perante o facto de uma comunidade rural autóctone estar a ser esbulhada dos legítimos direitos sobre o seu espaço ancestral, senão decidir em seu favor. Tudo isto poderia ser evitado se imperasse o bom senso Como tal não aconteceu, espera-se, ao menos, que esta contenda se processe , não só com decoro e elevação, mas também suficientemente convincente para ser entendida em toda a sua profundidade : -- trata-se de um povo que não aceita a substituição de indesejáveis donos de terras , por outros igualmente estranhos ao meio ,nenhum dos quais capazes de dar á terra as diversas funcionalidades que constituem a autenticidade regional .Somos nós, para alem da natural legitimidade , quem tem o querer e o saber fazer no mundo rural alentejano .Já o fizemos e voltaremos a fazê-lo desde que tal nos seja permitido . FRANCISCO PÂNDEGA (agricultor) /// e-mail - fjnpandega@hotmail.com /// Blog-alentejoagrorural.blogspot.com.

14.2.07

AlentejoAgroRural
e a
PÁTRIA
A Pátria ,como a saúde , a liberdade e outros, é um bem cuja grandeza só é entendida,,em toda a sua plenitude ,depois de perdida .Daí que aqueles que tenham passado pela desdita de dela ter precisado , como ultimo recurso, para manter a dignidade senão mesmo a integridade física, têm o dever de alertar os seus concidadãos para a sua superior valia .. Podem até certas pessoas alegar que a sua pátria é o mundo. Será, para eles, até os factos lhe demonstrarem o contrario. Não o é certamente para o comum cidadão que moureja , emigrado por aí, que exulta embevecido ao referir-se à sua pátria e sente na carne o facto da sua integração, em terras estranhas, ser sempre relativa.

PARA QUE SERVE ? interrogam-se aqueles ,porque a têm , nunca sentiram a sua verdadeira finalidade . Interiorizei isto ,por amarga experiência vivida , aquando de uma fuga dramática do ex-ultramar. Tamborilava na minha cabeça a repetitiva cantilena: --“ vai-te embora branco colono explorador que esta não é a tua terra “. Terra, pátria, valores que, a partir desse momento ,assumiram, em mim, uma grandeza até então não sentida. E no meio da debandada , de milhares de pessoas em desvairada corrida, interrogávamo-nos:-- aonde está a nossa pátria que nos entrega ,sem apoio , á barbárie ? Soubemos , mais tarde, que a nossa pátria estava doente , com tal gravidade , que ainda hoje não se recuperou .
Foi assim que, no verão de 1975 , chegamos ,com vida , cerca de cem mil portugueses , aos campos de concentração de refugiados , de Cullinann ,arredores de Pretória ,Africa do Sul .Connosco vinham estrangeiros ,predominantemente agricultores alemães ,residentes em Angola desde antes da ultima guerra e alguns com origem no ex-Sudoeste Alemão , agora Namíbia . Esses , mal chegavam, eram visitados e recolhidos pelos respectivos cônsules aos quais as autoridades sul-africanas prestavam uma invejável deferência .Contrastando connosco e representantes do nosso pais , em relação aos quais eram arrogantes e sobranceiros .Nós ,para eles ,éramos os poltrões que fogem sem dar luta e a nossa pátria resvalava para o comunismo .Para eles , porque duros senão mesmo violentos ,ser cobarde ou comunista são comportamentos desprezíveis .Esta estranha atitude não invalidava o apreço que tinham pela nossa história ,tida de homens determinados e valentes . Daí manterem um elevado respeito pelo padrão implantado por Bartolomeu Dias assim como a gruta do correio de Vasco da Gama .Para eles mais do que um lugar de turismo , é uma espécie de culto . Até mesmo as duas melhores avenidas da cidade do Cabo , tinham os nomes desses nossos navegadores .O que ,francamente , nos embevecia mas, por outro lado , nos colocava uma interrogação ;- como foi possível termos caído tão baixo ? .

MAS O QUE È A PÀTRIA ?- Convêm abordar esta seriíssima questão , agora que há alguns portugueses para quem a Pátria não ocupa o lugar cimeiro na sua hierarquia de valores. Antes sim permitem-se sondagens que mais não são do uma denuncia da baixa moral de quem as produz .A pátria não se discute ,dizia Salazar ,o ditador que errou , excessivamente , nos mais variados domínios , mas não neste .
Mas ,em suma , o que é a nossa pátria ? É este espaço físico sobre o qual se exerce a nossa nacionalidade ,se fala uma língua própria e se foi construindo uma história .A língua e a história são , porem , valores adquiridos que só perduram enquanto este espaço territorial for nosso .Isso deixa de acontecer , tal como com Olivença , se o perdermos O espaço territorial ( a terra ) , esse sim constitui a essência da pátria e congrega , em si , esses e muitos outros valores . Daí haver alguma estranheza ouvir responsáveis defender que as empresas ,tidas por estratégicas (tanto quanto os conheço não se referem ao mundo rural ) , devem permanecer em mãos nacionais ,sem que tenham uma postura , tanto ou mais determinada , quando se trate do nosso espaço territorial já que o somatório de todas as explorações agrícolas corresponde exactamente ao tamanho da nossa pátria

O ÂMAGO DA PATRIA é o mundo rural .Porem , nesse campo ,somos a mais absoluta negação em termos de eficácia Defendi , há vinte anos ,sem resultados visíveis , que o estado , através da Caixa Geral de Depósitos , deveria apoiar a aquisição de terra própria ,nos moldes em que o faz para casa própria .Com isso aproveitávamos os abundantes recursos financeiros , disponibilizados pela PAC, para o efeito . Aliás era uma antecipação do que agora faz o banco Santander na aquisição do Alentejo por parte dos espanhóis Não há ,pois , entre nós, uma visão estratégica para o nosso mundo rural Há antes sim uma inépcia agrícola gritante .A prova-lo esta o despovoamento mais parecendo um vazio humano ; , a falta de produção devida ao sequestro da terra ; o facto da maior parte da região ser detida por quem não exerce a actividade ; a incapacidade das gentes rurais defenderem o seu espaço e os seus valores É uma inépcia que já deixou de surpreender . Agora, que não consigamos fazer a interacção entre agricultura e pátria , já é surpreendente porque displicente .
Francisco Pândega (agricultor ) /// e-mail—fjnpandega@hotmail.com //// blog-alentejoagrorural.blogspot.com