10.12.06

AlentejoAgroRural

E O ADN REGIONAL

HÁ DUAS FORMAS AGRICULTAR :-- uma intensiva geralmente com o recurso ao uso de factores de produção tecnológicos exógenos ; e outra extensiva ou tradicional por meio de animais e plantas rústico/regionais que se desenvolvem lentamente e um pouco ao sabor da natureza
-- Com a primeira, visa-se forçar a natureza a produzir determinadas plantas ou animais mesmo que contra o calendário natural, usando para tal modificações genéticas, fertilizantes, pesticidas e medicamentos, alimentos, com os quais se conseguem maiores produções, mas mais caras, descaracterizadas e de pior qualidade. Os resultados são, por vezes, difíceis de prever e de controlar Foi devido a isso que surgiu a BSE nos de bovinos, dado que foi incorporado, nas rações , carne de outros bovinos; horto-frutícolas que são pulverizadas por insecticidas sistémicos, muito venenosos, sem que tivesse sido guardado o necessário intervalo de segurança ou seja , sem que, antes, a planta os tivesse enviado para o solo ; carne de porco e frango que tresandam a antibióticos do que resulta que, quando os consumidores têm uma infecção e necessitam de ser tratadas por estes fármacos, eles não actuem Só os grandes avanços científicos da medicina têm impedido as calamidades. Mas que, hoje, há grandes perigos, pela via alimentar, lá isso há.
-- Com o outro ,ou seja a agricultura tradicional ou extensiva, agora também chamada biológica, recorre-se, em vez das modificações genéticas, cruzamento ou hibridações, ao apuramento genético das raças de animais e espécies de plantas, por meio de selecções aonde se potenciam os factores favoráveis sem a consequente descaracterização da planta ou animal ; os fertilizantes, em vez de produtos químicos, são substituídos por uma boa gestão dos pousios e rotação de culturas; a necessidade de pesticidas fica reduzida com o cultivo da coisa certa, no local acertado, na devida época e dispenso-lhe os necessários granjeios .
Se bem que haja uma menor produção e um desenvolvimento mais lento, eles são compensados por menores custos e aumento de qualidade, devido à rusticidade que lhes é conferida pela liberdade, nos amimais , ou pela adequação ao meio e época, nas plantas.

O ADN ALENTEJANO, se fosse possível estabelecer um código genético regional, defini-lo-ia assim: -- Uma região natural imensa e riquíssima, com características inigualáveis. Pena é que, por razão históricas, não tenhamos ainda superado os constrangimentos, aqui presentes, de forma que essa dimensão e essa riqueza potencial, não se tivessem traduzido em acolhimento de mais população, nem em maior bem-estar social. Abordo-o, muito sucintamente, nas características que me parecem ser as mais relevantes, visando justificar a viabilidade da agricultura tradicional/biológica, assim com a definição da dimensão da propriedade agrícola à escala do homem.
--- È de facto uma imensa planície, totalmente arável, em que o fundo de fertilidade regride com o cultivo intensivo e exagerado e se regenera se deixado algum tempo de pousio. Mas tem um limite. Se estiver demasiado tempo sem que os solos sejam mobilizados inicia-se um processo de reversão em resultado da compactação, alterações físico -químicas e perda de matéria orgânica que é arrastada, pela erosão, sem que, por meio das mobilizações, se aumente a camada arável. Entra no estádio que se designa de inculto produtivo. Desaparece a vegetação herbácea e, a seguir, a arbustiva e a arbórea começam a rarear, enfraquecidas , devido à presença de parasitas vegetais sendo o mais comum os musgos. O conhecer este comportamento é indispensável já que é a partir dele que se organize o mapa de culturas e respectivo calendário.
-– Outro factor com implicações na estratégia agrícola reside nas suas características pedológicas. È formado por um complexo de cinco tipos ou classes de solos que se distribuem em parcelas de dimensão e configuração muito variada, de forma que uma exploração de media dimensão pode conter dois três ou mais tipos de solo. Esta circunstancia condiciona a estratégia agrícola, inviabiliza a monocultura extensiva ,aconselhando uma exploração da terra ao nível da parcela a qual, por sua vez, implica que o agricultor seja participativo, assíduo e conhecedor do meio aonde exerce a actividade.

A “ HORA DA VERDADE”, esse conceito que se aplica quando escasseiam as hipóteses de tergiversar, também já chegou, finalmente, a agricultura alentejana. As definições atrás explanadas , que para a região funcionam como o ADN nos restantes corpos, são únicas exclusivas, da região Alentejo, e sem semelhança em mais parte alguma . Implicam que as soluções agrícolas sejam exclusivamente nossas certos que as provindas de outras regiões não têm aqui aplicação pratica
Estes conceitos determinam soluções enquadráveis no que se designa por marcas regionais Servindo os subsídios para agilizar o seu desenvolvimento mas jamais gerar habituação e dependência .
Um novo, e provavelmente o ultimo, QREN (ex-quadro comunitário de apoio), está em discussão. Sendo importante que não se repitam os erros dos anteriores. Não se podem subsidiar culturas ou animais exóticos; nem promover sistemas estranhos; nem tratar o montado com uma vulgar floresta; nem apoiar coisa alguma se desenquadre deste código genético regional.
É que os custos da inadequação ao meio são enormes, os efeitos fungíveis e o tempo perdido irrecuperável.
Francisco Pândega (agricultor) /// fjnpandega@hotmail.com./// alentejoagrorural.blogspot.com.

Sem comentários: