6.11.06

AlentejoAgroRural

SEU MEIO E SUAS GENTES

Breve caracterização .
1— Saído da minha aldeia ,( fronteiriça , exclusivamente agrícola , do tipo seareiros nas terras dos grandes donos do Alentejo ) em 1954, para Africa , assumi que nunca mais regressaria . O destino trocou-me as voltas e, dois anos depois do 25 de Abril , eis -me de volta .Nesta ausência , integrado noutras vivências em contraste com a do Alentejo ,facilmente conclui que este ,porque injusto e imoral , mais tarde ou mais cedo implodiria . Não por força da comunidade rural residente dado que esta , depois de diversas gerações a ser punida com estranha severidade ,ao mais pequeno indicio de inconformidade, reduziu para zero a sua capacidade de contestatária neste domínio .Nem pelo estado dada a sua conhecida incapacidade de entender tudo quanto se refere á agricultura assim como os altos valores que ela representa O que não me passou pela cabeça é que a sua substituição resultasse da OCM (livre comercio agrícola ) e os beneficiarmos fossem os espanhóis . Nunca pensei que acabássemos por cair tão baixo
2--- Há soluções , evidentemente Difíceis mas realizáveis já que a região é livre de proceder ás alterações fundiárias que queira , desde que gerais e abstractas , sem exclusão dos novos povoadores ,Ou seja incorporando-os ,embora duvide que aceitem . Essa nova ordem inclui reinstituir da função agro-social da terra ; fazer o ponto da situação ; e agir em conformidade visando a humanização do meio . Com abundantes meios tecnológicos ao dispor e porque não atinge mais do que dois mil eleitores /grandes proprietários , numero eleitoralmente desprezível ,,ausentes e sem a menor capacidade de agitar , embora grande a de manobrar , é facílimo .

A função da terra
a)---Só humanizando a nossa agro-ruralidade , será possível desenvolver a agricultura e , depois ,e então , os restantes sectores da actividade económica . Para tal é indispensável proceder a uma profunda rotura fundiária já que as reformas , que em devido tempo deveriam ter sido feitas , o não foram. . Mas primeiro que tudo importa mudar o conceito de terra
,institucionalizando-a como sendo um bem comum que só poderá ser detido por parte de quem esteja em condições de lhe dar um uso consentâneo com os superiores desígnios regionais , nem que para o efeito se tenha que reinstitucionalizar o confisco . Depois mudar as atitudes em relação a ela , dando oportunidade aqueles que saibam e queiram enquadrar-se naqueles desígnios
.È esse o caminho usado pelos nossos parceiros comunitários é esse o que temos que trilhar Dado o estado de absoluta irresponsabilidade e impunidade .senão mesmo criminalidade que campeia nos campos alentejanos só com medidas duras se obtêm a correcção os vícios existentes e se restitui á terra a função agro-social que lhe está implícita .

b)--- A questão fundiária
É inadmissível que o sector fundiário ,de decisiva importância para a nossa vida como nação, esteja detido , em nome de direitos adquiridos de duvidosa legitimidade , por quem se recuse a dar-lhe o devido uso
Tem sido uma tentação ao longos dos tempos o apossarem-se da terra para , em vez da explorar , proceder as exploração ,tantas vezes infame , das gentes rurais . Foi para contrariar isso que se fez ,em boa hora , a lei das Sesmarias . Foi por aplicação dessa lei que se confiscou muito terra , se talhonou em sesmos , os quais , por sua vez , foram atribuídos , por enfiteuse, a quem os trabalhasse .Por ironia do destino a lei das Sesmarias , destinada a povoar a fronteira de Castela como forma de conter as constantes incursões por parte dos nossos belicoso vizinhos, volta a fazer sentido pelas mesmas razões e no mesmos locais . A historia , de facto , repete-se Volte-se a usar o confisco ou outra qualquer medida , que não pode acontecer é que nesta época de grande exigência tecnológica , de assiduidade e permanência , 3/4do a Alentejo sejam detidos por donos que ña sus grande maioria nãose enquadram nestes propósitos com a agravante de deterem áreas desmesuradas
A sua manutenção ,na actividade ,destituida de funções sociais , produtivas , ou outras , só é possível porque se mantêm á margem de qualquer controlo regulador , que defina uma tipologia comportamental , tal como as grandes empresas estratégicas ; sem a condicionante seleccionadora do mercado que , como as restantes actividades económicas ,eliminam os incompetentes , laxistas e nulidades ; nem sequer submetidos ao escrutínio da classe, como os políticos , perpetuando-se implantados no terreno, indiferentes ao escárneo que lhe vota a restante população Assim ,em roda livre , á margem do que se designa por acção moderadora da sociedade , constituem um intransponível obstáculo que bloqueia o desenvolvimento e fragiliza as nossas defesas como região .

c)--- Não culpabilizem o meio nem as gentes
Perante a nossa inépcia agrícola e por falta de ombridade na assumpção das culpas , costuma-se atribui-las ao meio ou ás gentes . Visa-se ,com isso , não só esconder a própria inoperacionalidade como encobrir as colossais receitas daqui retiradas das quais sobressai as provenientes da cortiça
Na verdade , a culpa é, em primeira mão e em certa medida , nossa porque não somos capazes de impor regras no nosso próprio mundo rural .Depois do estado porque ,desde há muitas gerações a esta parte , nos vota , indefesos , ao seu livre arbítrio dos grandes donos da terra do que resultou :-- ou a pobreza subserviência e degradçaõ moral ou a debanada como alternativa Muitos se calhar os mais aptos , optaram pela ultima alternativa . O cônsul ronano ao dizer que nós n~so sabemos mandar nem queremos ser mandados , só parcialmente acertou . Não aceitamos ser mandados na nossa terra por quem não reconhecemos legitimidade para o fazer . Abalar já que não os podemos vencer.Se calhar foi isto que o cônsul romano quis dizer .
O nosso afastamento da usufruição do nosso espaço rural esta na razão directa da nossa pobreza como região Como prova disso repare-se , aqui, no outro lado da fronteira , para os nossos vizinhos extremenhos como têm um desempenho agro-rural admirável ,não obstante terem condições naturais piores do que as nossas ; humanas idênticas ; e sociais absolutamente iguais ate meio século atrás Isto porque conseguiram superar os constrangimentos e ,depois arribar a uma velocidade fulgurante Evidentemente que isto foi antecedido de uma guerra fratricida , entre a oligarquia fundiária ,por um lado ; e os colectivista , por outro .. Perderam os últimos, como é óbvio .Não porque não tivessem razão ao pretender alterações na situação fundiária ,mas sim porque o projecto que preconizaram era indefensável . Alias tal como aconteceu , em relação a nós , quarenta anos depois . Com uma diferença substancial :-- Connosco regrediu tudo para o estádio anterior mas eles tiveram o discernimento de abrir mão de parte dos seus privilégios , e proceder aos indispensáveis rearranjos fundiários .E , com isso humanizaram o meio rural, ponto de partida para o desenvolvimento exponencial a que se assiste .Em suma :-- primeiro foi uma aposta , na agricultura , actividade para a qual os extremenhos , têm especial orgulho e particular desvelo ; depois os restantes sectores da actividade económica e social potenciados pelo desenvolvimento agrícola ; mas sem que, vez alguma , tenham descurado a agricultura que acompanha a par e passo a modernidade .

Há questões que tem que ser abordadas
3—Surpreende que nós , povo velho , sabedor e corajoso , procure afanosamente as mais incríveis formas de superar a crise , sem enxergar , nos campos alentejanos , a solução alimentar , para o emprego, paz social , apaziguador das crises contestarias da urbes , e até , notem , a solução do problema da natalidade dado que os campos ( desde que a terra tenha a função social que se impõe ) são o meio por excelência para a constituição da família e da procriação. Em vez disso preferimos visionar soluções milagrosas, longínquas e fungíveis ,ignorando as fáceis ao nosso alcance e perfeitamente exequíveis
.Será falta de coragem ? até há pouco era evidente ,mas presentemente , não . Incapacidade de perceber a lógica vivencial rural e a sua incontornável articulação com determinado meio natural ? Parece-me que sim .
Costuma-se dizer-se que só passando pelas circunstancias as sabemos avaliar Não me contenho sem compartilhar , com os meus leitores ,a bagagem com que o tempo me foi municiando , neste domínio. Para concluir que , especialmente para os povos desfavorecidos ,como o alentejano , o valor mais profundo é ter pátria solo ,terra Para a manter travam lutas suicidas .E sabem , mais por instinto do que pela razão ,porquê . Tive múltiplas oportunidades para cimentar esta opinião
Encontrava-me em Israel no período que se seguiu a guerra dos sete dias entre este pais e o Egipto . Apercebia-me da disputas posteriores entre Israelitas e palestinianos por um montão de pedras íngremes , a norte ,e uma área de areia ressequida e estéril a sul .
Estabelecendo o contraste entre eles e nós , não posso deixar de corar de vergonha perante a nossa relação com o Alentejo . Este , sob o ponto de vista de muitos de nós , mais parece algo descartável , fácil presa alcance de qualquer um ,seja lá quem for , desde que se apresente com dinheiro , seja lá qual for a origem Impor como condição uma normal integração , isso não faz parte da apreciação da candidatura . Ao que chegamos . Fico profundamente triste , umas vezes , revoltado outras , ao ver como ingenuamente dissipamos ou subaproveitamos este precioso espaço que é o nosso Alentejo .Tão fácil e tão ao nosso alcance seria converte-lo em sede de riqueza e em fonte de bem estar social .Mas , entorpecidos como estamos , viciados em viver a expensas do estado , capazes de lutar por um mísero e efémero emprego ,mas não mexemos uma palha por valores mais altos .Só um grande choque ,nos faria acordar para a realidade vivencial que é o mundo de hoje .O que é pena . Porque este ses grandes choques ,numa área como esta ,geralmente são irreversíveis FranciscoPândega (agricultor ) // francisco.pandega@gmail.com /// alentejoagrorural.blogspot.pt

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