22.11.06

AlentejoAgroRural
A GLOBALIZAÇÃO .---um enorme desafio
É A QUESTÃO que ,presentemente , mais afecta e condiciona as relações entre os povos a nível do planeta . Interfere transversalmente em todos os ramos da actividade muito especialmente no domínio da agricultura , principal razão da sua criação . Já há cinquenta anos que a globalização comercial dos alimentos era defendida pela FAO (organização da Nações Unidas que trata da fome e alimentação ) , para a qual tive a honra de trabalhar durante alguns anos .Já então se defendia que , se o planeta se organizasse de forma a que cada região produzisse e comercializasse livremente a aquilo para o qual tem vocação ecológica , se tornaria possível eliminar a fome e a subnutrição que afectam uma parte considerável da população .A presente globalização vem na sequência daquela constatação .

NÃO SE PENSE que a globalização é daquelas inovações que vêm e vão .Esta não É consistente e veio para se eternizar ,eliminar os inaptos e premiar os mais capazes .O melhor remédio é habituarmo-nos a coexistir com ela já é útil e funcional na medida em vem interligar dois campos geralmente antagónicos :--- produtores agrícolas e os consumidores dos respectivos víveres
Este movimento ,de enorme agilidade , tem-se disseminado de uma forma global e galopante no curto lapso de tempo de vinte anos .Na primeira década foi o arranque iniciado sob a designação de Uruguai Round aonde se anuiu dar o arranque decisivo da liberalização da comercialização os produtos agrícolas . Emperrou devido ao facto de a CEE , EE.UU , entre outros , subsidiarem fortemente o sector agrícola o que desvirtuava as regras do mercado ou , melhor dizendo , impedia que os países produtores exportassem para a Europa .do que resultou começarem a ensaiarem-se formas de boicotes aos produtos industriais europeus Na segunda década ,já UE , na Ronda de Doha , ficou assente que a globalização se incrementaria e os apoios directos á agricultura seriam progressivamente desmantelados .É nessa fase que nos encontramos .
Em simultâneo sucederam-se profundas transformações no nosso tecido comercial .Primeiro as grandes cadeias comerciais, perfeitamente aptas para comercializar os afluxos de géneros alimentícios das mais diversas proveniências , com novas regras e novos métodos do que resultou a total adesão dos consumidores e a condenação á extinção do comércio tradicional
Seguiu-se a vinda dos chineses , agora em começo , com o horários, produtos , preços e métodos absolutamente inovadores e suficientemente numerosos , moldáveis , imperceptíveis e organizados , para alterar radicalmente as regras comerciais , laborais e outras, completando , se não mesmo condicionando , as grandes superfícies l .
Expostos os produtos num supermercado o consumidor adquire-os , indiferentemente ao facto de ser nacional ou não , tendo em conta somente a correlação preços /qualidade / apresentação . .O trabalho infantil , a destruição do meio ambiente ou a falta de direitos dos trabalhadores , que deram origem aquele produto , não são para ali chamados .Essas são questões para outros fóruns e que se movimentam por outros interesses .Sendo assim , harmonizarmo-nos com este nova ordem , é o melhor remédio .

ESTA NOVA ORDEM comercial ,tendo em conta a facilidade dos transportes , obriga uma certa revisão nos produtos cultivados na nossa região . Assim , a carne de bovino das pampas argentinas , os ovinos da Austrália , as frutas tropicais , as hortícolas do outro hemisfério , o arroz das aguas dos grandes rios africanos, o trigo do Canadá ,o vinho do Chile etc , dada a facilidade com que atingem os nossos mercados não só o interno como os nossos clientes, obrigam que façamos somente aquilo para a qual as nossas condições edafoclimáticas tenham vocação
Mas há outras implicações quer na adequação das estruturas fundiárias quer na mentalidades dos agricultores que importa implementar .O tempo escasseia outros se aprestam a substituírem-nos
Francisco Pandega (agricultor ) //// fjnpandega @hotmail.com //// alentejoagrorural blogspot.com

6.11.06

AlentejoAgroRural

SEU MEIO E SUAS GENTES

Breve caracterização .
1— Saído da minha aldeia ,( fronteiriça , exclusivamente agrícola , do tipo seareiros nas terras dos grandes donos do Alentejo ) em 1954, para Africa , assumi que nunca mais regressaria . O destino trocou-me as voltas e, dois anos depois do 25 de Abril , eis -me de volta .Nesta ausência , integrado noutras vivências em contraste com a do Alentejo ,facilmente conclui que este ,porque injusto e imoral , mais tarde ou mais cedo implodiria . Não por força da comunidade rural residente dado que esta , depois de diversas gerações a ser punida com estranha severidade ,ao mais pequeno indicio de inconformidade, reduziu para zero a sua capacidade de contestatária neste domínio .Nem pelo estado dada a sua conhecida incapacidade de entender tudo quanto se refere á agricultura assim como os altos valores que ela representa O que não me passou pela cabeça é que a sua substituição resultasse da OCM (livre comercio agrícola ) e os beneficiarmos fossem os espanhóis . Nunca pensei que acabássemos por cair tão baixo
2--- Há soluções , evidentemente Difíceis mas realizáveis já que a região é livre de proceder ás alterações fundiárias que queira , desde que gerais e abstractas , sem exclusão dos novos povoadores ,Ou seja incorporando-os ,embora duvide que aceitem . Essa nova ordem inclui reinstituir da função agro-social da terra ; fazer o ponto da situação ; e agir em conformidade visando a humanização do meio . Com abundantes meios tecnológicos ao dispor e porque não atinge mais do que dois mil eleitores /grandes proprietários , numero eleitoralmente desprezível ,,ausentes e sem a menor capacidade de agitar , embora grande a de manobrar , é facílimo .

A função da terra
a)---Só humanizando a nossa agro-ruralidade , será possível desenvolver a agricultura e , depois ,e então , os restantes sectores da actividade económica . Para tal é indispensável proceder a uma profunda rotura fundiária já que as reformas , que em devido tempo deveriam ter sido feitas , o não foram. . Mas primeiro que tudo importa mudar o conceito de terra
,institucionalizando-a como sendo um bem comum que só poderá ser detido por parte de quem esteja em condições de lhe dar um uso consentâneo com os superiores desígnios regionais , nem que para o efeito se tenha que reinstitucionalizar o confisco . Depois mudar as atitudes em relação a ela , dando oportunidade aqueles que saibam e queiram enquadrar-se naqueles desígnios
.È esse o caminho usado pelos nossos parceiros comunitários é esse o que temos que trilhar Dado o estado de absoluta irresponsabilidade e impunidade .senão mesmo criminalidade que campeia nos campos alentejanos só com medidas duras se obtêm a correcção os vícios existentes e se restitui á terra a função agro-social que lhe está implícita .

b)--- A questão fundiária
É inadmissível que o sector fundiário ,de decisiva importância para a nossa vida como nação, esteja detido , em nome de direitos adquiridos de duvidosa legitimidade , por quem se recuse a dar-lhe o devido uso
Tem sido uma tentação ao longos dos tempos o apossarem-se da terra para , em vez da explorar , proceder as exploração ,tantas vezes infame , das gentes rurais . Foi para contrariar isso que se fez ,em boa hora , a lei das Sesmarias . Foi por aplicação dessa lei que se confiscou muito terra , se talhonou em sesmos , os quais , por sua vez , foram atribuídos , por enfiteuse, a quem os trabalhasse .Por ironia do destino a lei das Sesmarias , destinada a povoar a fronteira de Castela como forma de conter as constantes incursões por parte dos nossos belicoso vizinhos, volta a fazer sentido pelas mesmas razões e no mesmos locais . A historia , de facto , repete-se Volte-se a usar o confisco ou outra qualquer medida , que não pode acontecer é que nesta época de grande exigência tecnológica , de assiduidade e permanência , 3/4do a Alentejo sejam detidos por donos que ña sus grande maioria nãose enquadram nestes propósitos com a agravante de deterem áreas desmesuradas
A sua manutenção ,na actividade ,destituida de funções sociais , produtivas , ou outras , só é possível porque se mantêm á margem de qualquer controlo regulador , que defina uma tipologia comportamental , tal como as grandes empresas estratégicas ; sem a condicionante seleccionadora do mercado que , como as restantes actividades económicas ,eliminam os incompetentes , laxistas e nulidades ; nem sequer submetidos ao escrutínio da classe, como os políticos , perpetuando-se implantados no terreno, indiferentes ao escárneo que lhe vota a restante população Assim ,em roda livre , á margem do que se designa por acção moderadora da sociedade , constituem um intransponível obstáculo que bloqueia o desenvolvimento e fragiliza as nossas defesas como região .

c)--- Não culpabilizem o meio nem as gentes
Perante a nossa inépcia agrícola e por falta de ombridade na assumpção das culpas , costuma-se atribui-las ao meio ou ás gentes . Visa-se ,com isso , não só esconder a própria inoperacionalidade como encobrir as colossais receitas daqui retiradas das quais sobressai as provenientes da cortiça
Na verdade , a culpa é, em primeira mão e em certa medida , nossa porque não somos capazes de impor regras no nosso próprio mundo rural .Depois do estado porque ,desde há muitas gerações a esta parte , nos vota , indefesos , ao seu livre arbítrio dos grandes donos da terra do que resultou :-- ou a pobreza subserviência e degradçaõ moral ou a debanada como alternativa Muitos se calhar os mais aptos , optaram pela ultima alternativa . O cônsul ronano ao dizer que nós n~so sabemos mandar nem queremos ser mandados , só parcialmente acertou . Não aceitamos ser mandados na nossa terra por quem não reconhecemos legitimidade para o fazer . Abalar já que não os podemos vencer.Se calhar foi isto que o cônsul romano quis dizer .
O nosso afastamento da usufruição do nosso espaço rural esta na razão directa da nossa pobreza como região Como prova disso repare-se , aqui, no outro lado da fronteira , para os nossos vizinhos extremenhos como têm um desempenho agro-rural admirável ,não obstante terem condições naturais piores do que as nossas ; humanas idênticas ; e sociais absolutamente iguais ate meio século atrás Isto porque conseguiram superar os constrangimentos e ,depois arribar a uma velocidade fulgurante Evidentemente que isto foi antecedido de uma guerra fratricida , entre a oligarquia fundiária ,por um lado ; e os colectivista , por outro .. Perderam os últimos, como é óbvio .Não porque não tivessem razão ao pretender alterações na situação fundiária ,mas sim porque o projecto que preconizaram era indefensável . Alias tal como aconteceu , em relação a nós , quarenta anos depois . Com uma diferença substancial :-- Connosco regrediu tudo para o estádio anterior mas eles tiveram o discernimento de abrir mão de parte dos seus privilégios , e proceder aos indispensáveis rearranjos fundiários .E , com isso humanizaram o meio rural, ponto de partida para o desenvolvimento exponencial a que se assiste .Em suma :-- primeiro foi uma aposta , na agricultura , actividade para a qual os extremenhos , têm especial orgulho e particular desvelo ; depois os restantes sectores da actividade económica e social potenciados pelo desenvolvimento agrícola ; mas sem que, vez alguma , tenham descurado a agricultura que acompanha a par e passo a modernidade .

Há questões que tem que ser abordadas
3—Surpreende que nós , povo velho , sabedor e corajoso , procure afanosamente as mais incríveis formas de superar a crise , sem enxergar , nos campos alentejanos , a solução alimentar , para o emprego, paz social , apaziguador das crises contestarias da urbes , e até , notem , a solução do problema da natalidade dado que os campos ( desde que a terra tenha a função social que se impõe ) são o meio por excelência para a constituição da família e da procriação. Em vez disso preferimos visionar soluções milagrosas, longínquas e fungíveis ,ignorando as fáceis ao nosso alcance e perfeitamente exequíveis
.Será falta de coragem ? até há pouco era evidente ,mas presentemente , não . Incapacidade de perceber a lógica vivencial rural e a sua incontornável articulação com determinado meio natural ? Parece-me que sim .
Costuma-se dizer-se que só passando pelas circunstancias as sabemos avaliar Não me contenho sem compartilhar , com os meus leitores ,a bagagem com que o tempo me foi municiando , neste domínio. Para concluir que , especialmente para os povos desfavorecidos ,como o alentejano , o valor mais profundo é ter pátria solo ,terra Para a manter travam lutas suicidas .E sabem , mais por instinto do que pela razão ,porquê . Tive múltiplas oportunidades para cimentar esta opinião
Encontrava-me em Israel no período que se seguiu a guerra dos sete dias entre este pais e o Egipto . Apercebia-me da disputas posteriores entre Israelitas e palestinianos por um montão de pedras íngremes , a norte ,e uma área de areia ressequida e estéril a sul .
Estabelecendo o contraste entre eles e nós , não posso deixar de corar de vergonha perante a nossa relação com o Alentejo . Este , sob o ponto de vista de muitos de nós , mais parece algo descartável , fácil presa alcance de qualquer um ,seja lá quem for , desde que se apresente com dinheiro , seja lá qual for a origem Impor como condição uma normal integração , isso não faz parte da apreciação da candidatura . Ao que chegamos . Fico profundamente triste , umas vezes , revoltado outras , ao ver como ingenuamente dissipamos ou subaproveitamos este precioso espaço que é o nosso Alentejo .Tão fácil e tão ao nosso alcance seria converte-lo em sede de riqueza e em fonte de bem estar social .Mas , entorpecidos como estamos , viciados em viver a expensas do estado , capazes de lutar por um mísero e efémero emprego ,mas não mexemos uma palha por valores mais altos .Só um grande choque ,nos faria acordar para a realidade vivencial que é o mundo de hoje .O que é pena . Porque este ses grandes choques ,numa área como esta ,geralmente são irreversíveis FranciscoPândega (agricultor ) // francisco.pandega@gmail.com /// alentejoagrorural.blogspot.pt